Luta contra alterações climáticas. Tribunal de Justiça da ONU passa a determinar obrigações dos Estados

por RTP
ONU tomou decisão histórica mas falta saber qual vai ser a sua eficácia Reuters

A assembleia-geral das Nações Unidas aprovou esta quarta-feira uma decisão histórica no sentido de solicitar a participação do Tribunal Internacional de Justiça (pertencente à ONU) para dar pareceres sobre as obrigações dos Estados na luta contra as alterações climáticas. Uma decisão aprovada por consenso e com aplausos da assembleia.

“Juntos estamos a escrever história”, declarou António Guterres. O secretário-geral das Nações Unidas acredita que mesmo sendo uma decisão que não é vinculante, o parecer do Tribunal Internacional de Justiça pode ajudar os decisores políticos a tomarem decisões “mais corajosas”.

A resolução, muito apoiada pelo Estado do Vanuatu, foi aceite por mais de 130 estados. “Este é um desafio inédito de alcance civilizacional”, pode ler-se no texto da resolução. António Guterres acredita que esta decisão envia uma “mensagem clara e forte a todo o mundo”.

O secretário-geral acredita que vários povos presentes nas Nações Unidas decidiram deixar as suas diferenças de parte e trabalhar em conjunto para enfrentar o grande desafio da atualidade. Ishmael Kalsakau, primeiro-ministro do Vanuatu, congratulou-se com a decisão, já depois de o seu país ter sido atingido este ano por dois ciclones numa questão de poucos dias.

A resolução foi aprovada após várias campanhas por parte do Vanuatu, que em 2021 lançou esta iniciativa, já depois de o movimento estudantil das Ilhas Fiji pedir exatamente o mesmo. Na semana passada, a ONU alertou para a necessidade de serem tomadas medidas urgentes na luta contra as alterações climáticas, para haver um futuro “habitável” para a humanidade.

“Esta resolução coloca dos Direitos Humanos e a igualdade intergeracional das mudanças climáticas no centro do debate”, explicou à Agence France-Presse Shaina Sadai, que faz parte do grupo de reflexão "Union for Concern Rights" que estuda ações judiciais contra alguns estados devido à sua ação climática.

De acordo com Sadai, esta decisão pode ser o avanço mais importante desde a criação do Acordo de Paris, originando uma diretriz de grande importância para os tribunais de cada país.
Decisão histórica mas com alguns países céticos

Apesar do entusiasmo de alguns estados, caso do Vanuatu, existem outros que questionam a forma como a resolução será aplicada e mesmo se irá revelar-se eficaz.

Uma das premissas do documento é a responsabilização de estados mais poderosos nos desastres climáticos que cada vez com mais frequência afectam países mais pequenos e desprotegidos.

Com algum ceticismo, os jovens dos países do Pacífico mostram entusiasmo pela decisão e esperam que esta medida traga grandes benefícios para o futuro.

(c/ AFP)
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