Macron acusa Bolsonaro de ter "mentido" sobre o clima. França opõe-se a acordo UE-Mercosul

por RTP
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, entre os interlocutores da cimeira do G20 em Osaka, no final de junho deste ano Jorge Silva - Reuters

O Presidente francês, Emmanuel Macron, diz que o homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro, "mentiu" sobre o compromisso com o meio ambiente durante um encontro do G20 e anunciou que, por essa razão, a França vai opor-se ao tratado de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

"Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o Presidente da República só pode notar que o Presidente Bolsonaro mentiu na cimeira (G20) de Osaka", adianta um comunicado do Eliseu.

De acordo com o mesmo documento, Bolsonaro, diz Macron, "decidiu não respeitar os compromissos climáticos nem se comprometer com a biodiversidade".

"Nestas circunstâncias, a França opõe-se ao acordo do Mercosul", continua a Presidência francesa.

O acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), integrado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, foi fechado a 28 de junho, depois de 20 anos de negociações.

O pacto abrange um universo de 740 milhões de consumidores, que representam um quarto da riqueza mundial.

A Irlanda também já ameaçou votar contra o acordo comercial se o Brasil não tomar medidas para proteger a floresta amazónica.

"Não há qualquer forma de a Irlanda votar a favor do acordo de comércio livre entre a UE e o Mercosul se o Brasil não respeitar os seus compromissos ambientais", afirmou o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.
Líderes mundiais apoiam Macron
Emmanuel Macron manifestou na quinta-feira preocupação com os fogos florestais que estão a devastar a Amazónia, a maior floresta tropical do planeta, evocando uma "crise internacional" e pedindo aos países industrializados do G7 "para falarem desta emergência" na cimeira que os reúne este fim de semana em Biarritz.

Em resposta, Jair Bolsonaro acusou o homólogo francês de ter "uma mentalidade colonialista descabida" ao "instrumentalizar" o assunto propondo que "assuntos amazónicos sejam discutidos no G7, sem a participação dos países da região".

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, endossou na quinta-feira o apelo feito pelo Presidente francês. "Eu não poderia concordar mais com Emmanuel Macron. Fizemos muito trabalho para proteger o meio ambiente no G7 do ano passado em Charlevoix, e precisamos continuar neste fim de semana. Precisamos de agir pela Amazónia, e agir pelo nosso planeta. Os nossos filhos e netos estão a contar connosco", escreveu Trudeau no Twitter.
Também o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, se pronunciou sobre os fogos na região amazónica, referindo que constituem uma "situação de emergência aguda" que deve ser discutida na cimeira do G7.

"A chanceler está convencida" de que a questão "deve integrar a agenda dos países do G7 quando eles se reunirem este fim de semana" em Biarritz, declarou Steffen Seibert, porta-voz da chefe do Governo alemão. "A chanceler apoia completamente o Presidente francês" neste assunto, adiantou.

Entretanto, conselheiros do G7 já se encontram a discutir medidas concretas para serem decididas durante a cimeira deste fim de semana.

“Estamos a trabalhar para levarmos iniciativas concretas para a questão da Amazónia ao G7”, avançou à agência Reuters uma fonte da diplomacia francesa. “As conversas estão a decorrer”, garantiu.

c/ Lusa
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