Madrugada em Alepo marcada por novos bombardeamentos

por Graça Andrade Ramos - RTP
Um combatente do Exército Síria Livre, opositor de Bashar al-Assad procura um esconderijo durante confrontos com o exército sírio no bairro de Salahedin em agosto de 2012 Goran Tomasevic - Reuters

Apesar das garantias da véspera de que um acordo tinha sido alcançado para a rendição e abandono de Alepo por parte dos grupos armados, os bombardeamentos regressaram ao amanhecer de quarta-feira. Duraram cerca de uma hora antes de se calarem de novo.

De acordo com o ministério russo da Defesa, citado pela agência Interfax, o exército sírio repeliu ataques dos militantes e prosseguia esta manhã o esforço para esmagar a resistência nos bairros ainda sob controlo islamita.

Em comunicado o exército russo explica que, "aproveitando as tréguas, os rebeldes reagruparam-se ao amanhecer e tentaram passar as posições das tropas sírias no nordeste de Alepo. O ataque dos terroristas foi rechaçado. O exercito sírio prolongou as suas operações de libertação".

Já Rami Abdel Rahmane, diretor do Observatório Sírio dos Direitos do Homem - uma ONG baseada em Londres que acompanha o evoluir da guerra na Síria através de contactos no terreno - falou à agência France Presse sobre o que se passa na cidade.

Sem mencionar qualquer ataque por parte dos militantes, referiu apenas que "esta manhã foram disparadas pelas tropas do regime 14 granadas de morteiro sobre a área controlada pelos rebeldes e isto pela primeira vez desde terça-feira à noite", após uma pausa de várias horas.

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, referiu esperar que a resistência na cidade fique "resolvida" ainda esta semana.

"Espero que a situação esteja resolvida dentro de dois três dias", declarou durante um fórum diplomático, acrescentando que "os combatentes vão cessar a sua resistência dentro de dois, três dias".
Acordo "frágil"
Um responsável do Governo turco, sob anonimato, referiu à agência Reuters que o acordo alcançado entre a Turquia e a Rússia para a retirada de civis e dos militantes armados de Alepo se mantém, mas que é extremamente frágil.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, por seu lado, acusou esta manhã as forças do Governo sírio e outros grupos que o apoiam de tentar obstruir o acordo.

"Vemos agora que o regime e outros grupos tentam impedir" a realização do cessar-fogo para que "a evacuação não se dê", declarou Mevlut Cavusoglu à imprensa.

O acordo previa o início da retirada dos rebeldes a partir das 5h00 da manhã desta quarta-feira mas os autocarros que deveriam levar os militantes para a província de Idlib regressaram vazios. As tréguas estão por um fio e ativistas no terreno referem que as tréguas foram quebradas.

Mevlut Cavusoglu anunciou que ainda esta quarta-feira se irá falar com os seus homólogos russo e iraniano e que está já tudo a postos na Turquia para receber os refugiados que saiam de Alepo. Moscovo já reconheceu que lhe é "muito mais fácil negociar com a Turquia do que com os Estados Unidos", de acordo com declarações do responsável russo do departamento com a cooperação europeia no ministério russo dos Negócios Estrangeiros, Andrei Kelin, citado pela agencia russa Ria Novosti.

A Interfax refere entretanto que o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russos, Sergei Ryabkov, afirmou que Moscovo e Ancara chegaram a um "entendimento" para organizar a retiradas de pessoas das áreas controladas pelo militantes em Alepo.

Esta terça-feira e após uma intensa campanha de bombardeamentos, o exército sírio anunciou a reconquista de Alepo aos grupos armados que controlavam parte da cidade desde 2012.

A notícia foi saudada com explosões de alegria dos habitantes na zona controlada pelo Governo e por apelos dramáticos deixados nas redes sociais por alegados civis nas zonas sob controlo dos militantes, a denunciar o avanço inexorável das tropas sírias.

As últimas horas do avanço sírio ficaram ainda marcadas pela denúncia por parte da ONU de execuções sumárias de dezenas de pessoas nas zonas libertadas.

A ONU não sabe apontar o dedo aos responsáveis por estas execuções, atribuídas nos rumores tanto aos militantes como aos soldados de Damasco.
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