Maioria das vítimas de Houla foram executadas pelas forças de Bashar al-Assad

A comunidade internacional radicalizou a posição face ao regime de Bashar al-Assad no dia em que responsáveis das Nações Unidas no terreno acusam as autoridades sírias de terem levado a cabo mais de 80 execuções no dia do massacre de Houla, onde morreram 108 pessoas. De acordo com testemunhas civis, apenas uma vintena de pessoas pereceram no ataque de artilharia, tendo a maioria sido baleada a curta distância dentro das próprias casas, incluindo meia centena de crianças. Lançando a acusação de “assassino”, Paris exigiu a saída de al-Assad e expulsou a embaixadora síria em França. A Austrália foi o primeiro país a indicar a porta de saída aos diplomatas de al-Assad.

RTP /
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No dia em que o Presidente al-Assad se reuniu com Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas e chefe da missão de paz para a Síria, o regime está agora sob uma chuva de acusações do que poderá vir a ser considerado como um crime de guerra, depois de ter rejeitado responsabilidades nos massacres de Houla, na passada sexta-feira, atribuindo-o a militantes islamitas.

De acordo com os testemunhos dos sobreviventes, apenas uma vintena de pessoas terá morrido nos ataques de artilharia pesada contra a zona habitacional de Houla. O que se seguiu é, de acordo com as mesmas fontes, um cenário de horror em que milícias pró-Assad, os “shabbiha” investiram a curta distância contra os sobreviventes, matando indiscriminadamente os civis, maioritariamente mulheres e crianças que se encontravam refugiados dentro das próprias casas.

Um porta-voz das Nações Unidas, Rupert Colville, declarava a meio da manhã a partir de Genebra que, "de momento, e sublinho que estamos num fase preliminar, menos de 20 das 108 vítimas serão atribuíveis aos tiros de artilharia e dos tanques", precisando que "metade [dessas vítimas] são crianças – o que é absolutamente imperdoável – bem como um grande número de mulheres".

"Parece que famílias inteiras foram alvejadas nas suas casas", lamentou este responsável.
Bashar al-Assad começa a perder o pé
Ainda antes de se conhecerem estes contornos do massacre, o Conselho de Segurança das Nações Unidas atingia ao início da semana um voto unânime na resolução contra a ação do regime de al-Assad. Impensável até há escassos dias, já que o texto contou com o apoio de Moscovo e Pequim, tradicionais aliados de Damasco, o que indicia um isolamento crescente da Síria no xadrez internacional. O texto da declaração condena "nos mais fortes termos o assassinato de dezenas de homens, mulheres e crianças, factos confirmados por observadores da ONU", exigindo o fim imediato da violência: "Os membros do Conselho de Segurança exigem que o Governo da Síria cesse imediatamente a utilização de armamento pesado em centros populacionais, assim como retire as tropas em torno das cidades".

A resolução confere outro poder negocial a Kofi Annan, que hoje se reuniu com Bashar al-Assad, depois de na véspera ter sido recebido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Walid Muallem.

Logo após esse primeiro encontro, Annan reagia com firmeza contra os ataques do final da semana passada no centro do país, utilizando termos fortes para censurar o regime.

De acordo com o seu porta-voz, o antigo chefe das Nações Unidas voltou esta manhã a exigir a al-Assad o estrito cumprimento das condições impostas pelo plano de paz que patrocina para o país, em particular o fim da violência armada.

Kofi Annan está em Damasco para avaliar os progressos do seu plano no terreno. Annan foi nomeado em finais de fevereiro para supervisionar um cessar-fogo entre o regime e a oposição, tendo efetuado a primeira visita à Síria a 10 de Março. Ambas as partes se comprometeram, após avanços e recuos, a cumprir o plano de paz, nomeadamente o fim dos confrontos a partir de 12 de Abril, mas as violações ao que está no papel são diárias.
Isolamento diplomático em curso
Dada a intransigência de al-Assad face às exigências da comunidade internacional, foram vários os países que esta terça-feira deram seguimento a ordens de expulsão das missões diplomáticas sírias no estrangeiro.

A primeira embaixada a ser visada foi a da Austrália: Jawdat Ali foi notificado da decisão, tendo 72 horas para sair do país. "Este massacre de mais de 100 homens, mulheres e crianças em Houla foi um crime horrível e brutal"

"Não haverá mais nenhuma ligação oficial entre a Austrália e o Governo sírio enquanto o país não aceitar o cessar-fogo definido pelas Nações Unidas e der passos ativos para implementar o plano de paz acordado com o emissário especial Kofi Annan", explicou o ministro dos Negócios Estrangeiros Bob Carr.

O Governo australiano adiantava que esta é uma operação concertada a nível global. De facto, pouco depois Paris anunciava a expulsão da embaixadora síria em França. Mas os responsáveis franceses não haveriam de ser tão diplomáticos como Camberra, com o adjetivo “assassínio” a ser lançado contra o próprio Presidente al-Assad.

“Bashar al-Assad é o assassino do seu próprio povo. Deve deixar o poder. Quanto mais cedo melhor”, propugnou Laurent Fabius, chefe da diplomacia do Eliseu.
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