Mais de 80 casas demolidas em expulsões de beduínos no Negev

por Lusa

Pelo menos 80 casas foram demolidas hoje e 320 residentes expulsos numa operação israelita numa aldeia beduína no deserto de Negev, sul de Israel, confirmou à agência EFE um porta-voz do Conselho Regional das Aldeias Não Reconhecidas do Negev.

"Centenas de residentes, crianças e idosos, estão a ser retirados das suas casas por um governo [israelita] que insiste em espezinhar e prejudicar à força a sociedade beduína do Negev", afirmou Waleed Alhwashla, representante do Negev na formação política Lista Árabe Unida, na rede X.

O porta-voz do Conselho Regional das Aldeias Não Reconhecidas do Negev detalhou à EFE que que as autoridades israelitas destruíram a mesquita da aldeia de Wadi al Jalil, perto da localidade de Umm al Batin, bem como quintas e outras estruturas, numa operação que começou às primeiras horas da manhã da manhã com escavadoras e uma centena de polícias.

Cerca de metade dos habitantes expulsos são crianças e uma pessoa foi presa durante as demolições, indicou Nati Yefet.

O Governo israelita está a forçar os residentes de Wadi al Jalil a mudarem-se para Umm al Batin, onde não são bem-vindos e enfrentam ameaças, devido à expansão de uma autoestrada para sul, explicou Yefet.

"Estas pessoas não têm para onde ir e algumas ainda estão na aldeia em estado de choque. Alguns estão a pensar dormir nas tendas que montaram à noite", lamentou o porta-voz, que considerou que esta situação seria impensável se os habitantes em causa fossem judeus.

"Israel quer decidir onde as pessoas que não são judias devem viver", disse Yefet.

Esta mesma organização já tinha denunciado que a demolição de habitações é a maior realizada num só dia desde 2010 e que foi promovida pelo ministro da Segurança Nacional, o radical Itamar Ben Gvir, e pelo ministro da Diáspora, Amichai Chikli.

"O seu objetivo é inflamar o Negev para aprofundar a discriminação racial. Isto é uma violação grave dos direitos humanos de centenas de pessoas", afirmou a organização em comunicado de imprensa.

Israel não reconhece cerca de 37 comunidades beduínas, árabes e seminómadas, que acolhem cerca de 80 mil pessoas, e muitas, como Wadi al Jalil, enfrentam há anos ordens de demolição, expulsões e "multas exorbitantes", segundo a organização não-governamental Machsom Watch.

O Estado israelita procura que os mais de 300.0000 beduínos que viveram no seu território durante centenas de anos, muito antes da criação do Estado em 1948, abandonem os seus empregos agrícolas para viverem nas pequenas e empobrecidas áreas urbanas que lhes concedeu.

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