Mais UE e menos Rússia é sonho de Volodymyr, "cara" dos ucranianos na Estónia

por Lusa

 As imposições da União Soviética encaminharam para a Estónia o ucraniano Volodymyr Palamar, que assistiu e celebrou a integração do país de acolhimento na União Europeia (UE) e hoje sonha com o dia em votará para eleger eurodeputados ucranianos.

Na década de 1980, quando a Estónia e a Ucrânia estavam do outro lado da Cortina de Ferro, Volodymyr era "um rapaz" e fazia parte da Liga Comunista Leninista da Juventude de Toda a União, o conhecido Komsomol do qual faziam parte jovens de todos os países ocupados porque "era assim que tinha de ser".

Por imposições do Komsomol, acabou em Tallinn, capital da Estónia, na altura também sob ocupação soviética. Foi nesta cidade que ficou e em 1991 assistiu à recuperação da independência, consequência da queda do bloco soviético.

Assistiu ao processo de adesão da Estónia à UE, imaginando sempre o dia em que o mesmo sucederia com o seu país. Sem o esquecer, começou a encontrar compatriotas que também estavam naquele país do Báltico e fundou há 25 anos a Associação de Organização Ucranianas na Estónia, uma coletividade dedicada a preservar a cultura ucraniana, "ainda mais hoje quando a Rússia está a tentar destruí-la".

O seu gabinete, na sede da associação, nos arredores de Tallinn, está `forrado` de livros que contam a História da Ucrânia, as tradições, até a gastronomia, intercalados com os registos de cidadãos ucranianos no país, que aumentaram em 2014, com a invasão da Crimeia pela Rússia, e mais tarde com a invasão do país larga escala, em 24 de fevereiro de 2022, também a mando de Vladimir Putin.

A propaganda das Forças Armadas da Ucrânia, com o hoje reconhecido tridente símbolo da resistência do país, está em todo o lado, até nos desenhos das crianças pendurados nas paredes e na capa do seu `smartphone`. Junto a uma das janelas há um pequeno altar ortodoxo.

"É muito importante preservar a nossa história e renová-la, fazer-lhe justiça histórica com os eventos que realmente aconteceram", disse à Lusa.

Cabelo grisalho e sorridente durante toda a conversa, não esconde a mágoa de ver o país invadido: "O Governo soviético e o regime comunista, bem como o de Putin, estão a tentar fazer o mesmo, destruir a cultura ucraniana".

Esta é uma lição que faz questão de não esquecer, e que considera ignorada pela maioria dos países da União Europeia, incluindo alguns que estiveram sob ocupação.

"Todas as relações tornaram-se comerciais", criticou Volodymyr Palamar.

Mas vê esperança na geração mais jovem, que há dez anos disse que iria lutar pela integração europeia e que, na sua opinião, não vai desistir até a obter.

"Esta geração jovem cresceu numa Ucrânia independente, sabe bem a sua História", defendeu. Reconhece, contudo, que "sem o apoio dos aliados europeus" vai ser difícil enfrentar a tentativa de subjugação por Moscovo.

E reeditou o pedido de um outro Volodymyr, Zelensky, Presidente da sua terra natal: "Têm de conseguir proteger os céus ucranianos".

Em Tallinn ainda há neve por todo o lado e são poucas pessoas na rua, mas bandeiras da Ucrânia estão por todo o lado: nas varandas, nas janelas, em todas as instituições públicas, cafés, restaurantes e até supermercados.

Não falta apoio à Ucrânia e repúdio às ações de Moscovo. A Embaixada da Rússia, temporariamente encerrada desde a invasão de 2022, está repleta de homenagens à população ucraniana, civil e militar, que morreu; a Alexei Navalny, o opositor russo morto há poucas semanas numa prisão de alta segurança russa, e mensagens como "Putin mata" e "A Rússia é um Estado terrorista".

Volodymyr Palamar espera poder um dia voltar à Ucrânia e ver o país livre da guerra e das amarras, como um Estado europeu.

E a caminho das eleições europeias, entre 06 e 09 de junho, olha com esperança para o dia em que também participará no ato eleitoral para "escolher os eurodeputados" do seu país.

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