Um documento descoberto nos arquivos da "secreta" israelita revela que o líder da luta anti-apartheid terá recebido em 1962 treino militar da Mossad - sob uma falsa identidade. A revelação surge após a polémica ausência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que não quis ir a Pretória, para não se expor a acusações de praticar o apartheid na Palestina.
Aí se afirma que "há três meses discutimos o caso de um homem que recebia treino, que chegou à Embaixada na Etiópia com o nome David Mobsari, vindo da Rodésia. Esse homem foi treinado por etíopes [segundo o Haaretz, uma expressão que siginifica aqui agentes da Mossad] em judo, sabotagem e manejo de armas".
Segundo a carta, "David Mobsari" mostrara interesse pelos métodos da organização paramilitar judaica Haganah e de outros movimentos judeus antibritânicos. O autor observa, lisonjeado, que o discípulo "cumprimentava os nossos homens com 'Shalom', conhecia os problemas dos Judeus e de israel, e dava a impressão de ser um intelectual. O nosso grupo tentou fazer dele um sionista. Nas conversas com ele, manifestou pontos de vista socialistas e por vezes dava a impressão de tender para o comunismo".
Mas a mesma carta já reflecte a penosa revelação: a Mossad foi enganada. Ao ver na imprensa sul-africana a fotografia de Mandela, entretanto regressado e detido, o autor reconhece que o discípulo treinado na Etiópia "usou um pseudónimo e que os dois homens são um e o mesmo".
Durante mais de meio século, a Mossad e o Estado israelita ocultaram o pouco glorioso ludíbrio de que tinham sido alvo. Agora, que querem descolar o regime israelita da sua longa colaboração com o regime gémeo de apartheid sul-africano, parecem ter descoberto como um mal menor a confissão de um momento de incompetência, em troca do reconhecimento de terem treinado, mesmo involuntariamente, um inimigo jurado do apartheid.