Manifestantes no Rio de Janeiro exigem criação de um memorial sobre a ditadura

por Lusa

Centenas de pessoas concentraram-se hoje no Rio de Janeiro para exigir que o maior centro de tortura de opositores ao regime militar (1964-1985) seja transformado num memorial sobre a ditadura no Brasil.

Mais de 200 manifestantes juntaram-se numa praça junto ao extinto centro de detenção, em redor do busto do ex-deputado Rubens Paiva, que foi assassinado naquelas instalações e cuja história familiar é recordada no filme nomeado para os Óscares "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles.

Além de Rubens Paiva, pelo menos 53 presos políticos foram mortos no edifício, que atualmente alberga uma sede da Polícia Militar, dos quais 33 permanecem oficialmente desaparecidos até hoje, segundo os dados da Comissão Nacional da Verdade.

O ativista António Carlos Costa, fundador da organização não-governamental Rio de Paz, uma das organizadoras da marcha, adiantou à agência EFE que o filme baseado no livro escrito por Marcelo Rubens Paiva gerou um "momento muito especial para a formação de uma cultura democrática" no Brasil.

"`Ainda estou aqui` trouxe à memória de todos o período negro que o país viveu após o golpe militar de 1964 e este lugar é muito emblemático porque os militantes foram trazidos para este quartel do Exército para serem submetidos às mais diversas torturas", salientou.

Outra das organizações responsáveis pela manifestação foi o movimento Tortura Nunca Mais, criado em 1985 para ajudar as famílias das vítimas da ditadura militar e lutar contra a violência do Estado.

A fundadora do grupo no Rio de Janeiro, Victória Grabois, de 81 anos, perdeu o pai, o irmão e o marido durante este momento da história brasileira.

Salientou que uma das grandes vantagens do filme protagonizado por Fernanda Torres é que conseguiu "mostrar ao Brasil e ao mundo" como foi vivida a ditadura militar brasileira, um facto histórico "muito pouco estudado".

"Agora estamos aqui para honrar a memória dos nossos companheiros, os mais de 48 brasileiros que morreram neste quartel, vítimas de tortura. Agora estamos aqui novamente para resgatar a memória, para fazer do quartel um centro de memória. Para que o Brasil conheça as atrocidades que ocorreram", referiu Victória Grabois.

"Ainda Estou Aqui", filme realizado por Walter Salles, baseia-se na história verídica de Eunice Paiva, que durante 40 anos lutou para descobrir o que aconteceu ao seu marido Rubens Paiva, um ex-deputado que foi levado pela polícia durante a ditadura militar no Brasil.

O relato foi contado pelo filho Marcelo Rubens Paiva, num livro com título homónimo publicado em 2015 e que Walter Salles adaptou ao cinema.

Premiado no Festival de Veneza com o Leão de Ouro de melhor filme, "Ainda estou aqui" deu também o Globo de Ouro de Melhor Atriz de drama a Fernanda Torres pelo desempenho de Eunice Paiva.

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