"Massacre de Marikana". Familiares ainda esperam respostas dez anos depois

por RTP
Siphiwe Sibeko - Reuters

Dez anos depois da morte pela polícia de 34 mineiros em greve na cidade de Marikana, na África do Sul, as famílias ainda aguardam por respostas e justiça. Os mineiros afirmam que, apesar das reivindicações, as condições de vida não melhoraram nesta última década.

A 16 de agosto de 2012, 34 mineiros foram abatidos pela polícia no exterior de uma mina de platina na cidade de Marikana enquanto protestavam pela melhoria dos salários. As imagens daquele que foi o pior incidente deste tipo desde o fim do apertheid chocaram o mundo.

Dez anos passados desde o episódio, que ficou conhecido como “massacre de Marikana”, os familiares das vítimas ainda aguardam por respostas e por justiça.

“Este incidente aconteceu quando o meu filho tinha um ano. Agora ele tem onze anos. Ele está sempre a perguntar-me: «Mãe, por que é que a polícia matou o pai?». Não tenho resposta para essa pergunta, especialmente em relação à verdadeira razão para o terem assassinado”, disse Nosihle Ngweyi à agência Reuters, viúva de um dos mineiros.
“Dez anos depois, não houve justiça. Todos vimos os mineiros a serem mortos em plena luz do dia, mas ninguém foi preso por isso”, disse o secretário regional do sindicato dos mineiros, Phuthuma Manyathi, à emissora eNCA da África do Sul, citado pela Associated Press.

O massacre levou à instauração de uma comissão de inquérito para investigar a conduta da polícia. Embora a investigação oficial tenha encontrado os responsáveis pelos assassinatos, ninguém foi acusado pelas mortes.

O governo pagou mais de 170 milhões de rands (mais de dez milhões de euros) em indemnizações às famílias dos 34 mineiros, aos feridos e àqueles que foram detidos injustamente. Segundo o governo, ainda há 24 reclamações a serem atendidas até ao final deste mês.
"A vida continua, mas não há paz"
“A vida continua, mas não há paz. Não é fácil, pois não há perdão e ninguém foi preso. Estes homens morreram por causa da polícia com toda a gente a ver, mas ainda ninguém foi responsabilizado”, disse Zameka Nongu à Reuters, viúva de um dos mineiros.

“As pessoas vivem normalmente nas suas casas com as suas famílias. Os polícias que mataram continuam a andar por aí. O nosso governo não veio ter connosco e já passaram dez anos”, criticou.

Um sobrevivente do tiroteio, Mzoxolo Magidiwana, disse à Associated Press que se sente dececionado porque as condições de vida dos mineiros e das respetivas famílias em Marikana não melhoraram na última década, apesar das reivindicações.

“Todo o mundo pode ver que nada mudou muito neste lugar. As pessoas ainda vivem nas mesmas condições de anteriormente”, disse Magidiwana.

“Mesmo na colina [onde ocorreram os tiroteios], deveria haver um monumento, uma homenagem semelhante a outras que são feitas para episódios significativos neste país, mas não há lá nada”, lamentou.

Esta terça-feira, cinco mil pessoas reuniram-se no topo da colina onde ocorreram os tiroteios para assinalarem o 10.º aniversário do “Massacre de Marikana”.

O massacre é também agora relembrado através de uma representação artística com o espetáculo “Marikana, o musical”. Atores vestidos de mineiros e polícias reencenam a tragédia ao som de música sombria. Tanto para o público como para os atores, a crueldade da violência é incompreensível.

O escritor e realizador do musical diz que a peça proporciona uma outra dimensão à tragédia, permitindo uma oportunidade de refletir sobre a história.
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