Miko Peled antevê solução para o conflito israelo-palestiniano em menos de dez anos

por Paulo Alexandre Amaral, RTP
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Miko Peled, o activista pró-Palestina que vem de uma família ligada à própria criação do Estado israelita, prevê que o conflito israelo-palestiniano não dure mais do que dez anos. Este neto de fundadores e generais israelitas vem defendendo a solução de um Estado único para israelitas e palestinianos, um país que consiga promover a igualdade de direitos para os dois povos que convivem na mais agitada região do Médio Oriente.

O caso de Miko Peled não teria nada de extraordinário no activismo pró-Palestina, não fosse ele um israelita neto de um dos fundadores que assinou a Declaração de Independência do Estado de Israel.

O seu pai, Mati Peled, foi um dos heróis da guerra de 1948, mais tarde general na guerra de 1967 - um oficial de elite que se tornou num activista pela paz que defendia conversações com a OLP e que chegou a chefiar delegações que se encontraram com os palestinianos mas que nunca chegaram a ser tidas em conta.

Aliás, o próprio Miko Peled pertenceu às forças especiais do IDF, o exército israelita. E tudo isto o torna numa voz singular na defesa de uma Palestina livre.
(VEJA AQUI A ENTREVISTA COMPLETA A MIKO PELED)
 O conflito israelo-palestiniano é um assunto que marca a agenda internacional há muitas décadas. É também um dossier que divide as opiniões. Ora, Miko Peled é um dos mais activos defensores da causa palestiniana. Ele acusa o Estado israelita de levar a cabo uma política de repressão semelhante ao Apartheid, uma política expansionista que visa a exclusão do povo palestiniano e onde não se olha a meios para atingir os fins.

Em entrevista ao online da RTP, Miko Peled contou como o início da sua viagem ao mundo da luta palestiniana tem início num episódio familiar marcado pela tragédia. Em 1997 Smadar Elhanan, sua sobrinha, foi morta num atentado-suicida do Hamas. Tinha 13 anos. Nas palavras de Peled, tratou-se de um acontecimento que deixou a família em estado de choque.

Foi também um episódio que mereceu a atenção dos meios de comunicação internacionais, tratando-se da neta de um conhecido general do IDF, as forças armadas israelitas.

A situação teria tudo para ser tratada como todos os ataques anteriores do Hamas. No entanto, do meio da tragédia, uma voz levantou-se, a da sua irmã. Questionada sobre os responsáveis e que acções deveriam agora ser tomadas, Nuri Peled-ElHanan pediu que não lhe falassem de vingança, porque ela era uma mãe que acabara de perder uma filha e que isso era coisa que nenhuma mãe nestas circunstâncias quer ver a acontecer a outras mães. Por fim, responsabilizou o Estado de Israel pela morte da pequena Smadar. Quando se mantém um povo sob opressão, aquele é o tipo de resposta que se pode esperar, disse.



Para Miko Peled, a estratégia sionista assenta numa narrativa com a qual o Estado israelita procura legitimar a sua política para a Cisjordânia e Faixa de Gaza.


Defende, contudo, que aquela é uma narrativa construída à volta de três mentiras fundamentais: que a história israelita de 1948 é uma história de heroísmo; que a Guerra de 1967 é uma resposta à ameaça dos exércitos da vizinhança árabe; e que o Estado de Israel é uma democracia.
 



Um dos pontos defendidos por Miko Peled que força um ponto de vista pouco focado nas abordagens à questão israelo-palestiniana é o de uma solução assente na criação de um só Estado, com idêntico estatuto para israelitas e palestinianos.

A igualdade de direitos é aqui sublinhada por este activista israelita como o ingrediente que terá o condão de restabelecer a paz na região. Um argumento derradeiro a que deita mão: os esforços em torno de um esboço com dois Estados não estão a resultar.




 

Miko Peled vê na Faixa de Gaza uma ameaça permanente a Israel. Não uma ameaça armada, mas uma realidade viva que põe em causa a legitimidade israelita.

Fala aqui de uma imagem clara da assimetria existencial das duas populações: de um lado, os palestinianos obrigados a subsistir sem água, electricidade ou comida; do outro, uma população israelita que tem ao seu alcance um estilo de vida perfeitamente normal, sem carências em particular.

 

 



Uma questão particularmente sensível para um activista pró-Palestina que perdeu uma sobrinha às mãos do Hamas é a sua avaliação do movimento islamita. Miko Peled considera no entanto que se trata não se uma organização terrorista – o Hamas está inscrito nas listas de terroristas de muitos países, Estados Unidos e União Europeia incluídos – mas de uma força de resistência num território ocupado.

Praticamente justifica a existência do Hamas como um produto criado pelo próprio Estado de Israel.




Quanto a uma fórmula capaz de forçar a mudança nas políticas israelitas para a região, Miko Peled aponta a campanha BDS (boicote, desinvestimento e sanções). E aponta o caso do apartheid, sustentando que o principal elemento de geração de mudança naquele país foi a campanha BDS levada a cabo a nível internacional.


  

Paulo Alexandre Amaral/ Pedro A Pina/ Nuno Patrício/ Ana Sofia Rodrigues

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