Milhões de peixes mortos. Australianos preparam-se para limpar Rio Darling-Baaka

por Carla Quirino - RTP
Rio Darling-Baaka, Menindee na Austrália Samara Anderson - EPA

Começam esta semana as operações de limpeza de milhões de peixes que apareceram mortos no Rio Darling-Baaka, a sudeste da Austrália. A causa apontada para a mortandade é o baixo oxigénio da água após o caudal ter baixado, a par de uma onda de calor na região.

Foi criado na cidade de Menindee, no oeste de Nova Gales do Sul, um centro de emergência para coordenar a operação de limpeza e monitorizar a qualidade da água ao longo de pelo menos 30 quilómetros do curso com peixes mortos.

De acordo com as autoridades, os peixes serão retirados de "áreas com alta densidade", mas não será possível remover todas as carcaças.

O comandante da polícia daquele Estado, Brett Greentree, classificou a manobra de "desafio logistico", uma vez que se trata de uma ocorrência "sem precedentes em termos de morte de milhões de peixes".

"O nosso objetivo é garantir que Menindee mantenha o abastecimento de água potável. Estou certo de que estamos a conseguir garantir essa qualidade da água neste momento", afirmou Greentree, citado na BBC.

Na operação de limpeza, estão equipas técnicas munidas com equipamento especializado para realizar "um procedimento de rede", com o objetivo de remover os peixes.

“Mas preciso ser muito franco com a comunidade e deixar claro - todos os peixes serão removidos? Acho que não, pelas informações que tive", acrescentou. "Não é uma solução rápida, em que podemos fazê-lo em 24 horas".
Maioria de carcaças vão afundar

Os moradores da cidade de Menindee, no interior do Estado de Nova Gales do Sul, queixam-se de um cheiro terrível.

Entretanto, voluntários da instituição de conservação OzFish avançaram numa operação paralela para resgatar o máximo possível de peixes nativos sobreviventes do rio.

Um dos voluntários que lidera as equipas, Braeden Lampard, durante a transferência de peixes sobreviventes para um tanque de contenção, descreveu à Australian Broadcasting Corporation o cheiro das redondezas como "pútrido".

Lampard estimou que 85 por cento dos peixes mortos eram espécies nativas, como dourada de água doce e a perca dourada. Os restantes peixes estão identificados de tipos não nativos, como carpas.

Esta espécie de dourada pode tolerar uma ampla gama de temperaturas e pH, mas é suscetível a baixos níveis de oxigénio. Muitas vezes é a primeira espécie a morrer quando acontece uma redução drástica de volumetria de água.

Cassie Price, diretora de programas da OzFish, argumentou que a maioria dos esqueletos acabará por se afundar no leito do rio em 48 horas.

"Será muito improvável tirar a maior parte da biomassa [dos peixes] do rio. O remanescente das carcaças vai afundar, o que causará um pico de nutrientes, o que também não é bom para a qualidade da água", avançou Price à BBC.

E alertou que será “provável que provoque proliferação de algas, o que causará mais problemas por um tempo”.
Causas prováveis
As autoridades realçam a onda de calor de 40 graus que assola a região como um dos fatores que tiveram impacto na redução do caudal do rio. A água foi considerada hipóxica ao apresentar-se preta, sinal de que os níveis de oxigénio estariam muito baixos.

A agência do ambiente regional informou que estava a injetar água de melhor qualidade para aumentar e dissolver os níveis de oxigénio e que estavam prontos a trabalhar com as agências federais para encontrar a causa subjacente.

O Central Darling Shire Council está a fornecer água às famílias que dependem do rio.

Desde sábado passado que as autoridades e cientistas debatem-se com uma mortandade de peixes na região sem precedentes.
Está agendada para terça-feira uma reunião entre as autoridades e a comunidade de Menindee para manter os residentes atualizados.

"Só posso reconhecer as dificuldades", disse Greentree.

“Depois do que os moradores têm passado com este período de seca e depois cheias, o cheiro é uma coisa que ainda aguentam", acrescentou.
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