MNE iraniano anunciou demissão no Instagram

por Andreia Martins - RTP
Murad Sezer - Reuters

A agência estatal IRNA avançou esta segunda-feira que o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros apresentou a demissão. Javad Zarif anunciou a decisão através de uma publicação na página pessoal no Instagram.

“Peço desculpa por todas as falhas nos últimos anos, durante o meu tempo como ministro dos Negócios Estrangeiros. Agradeço à nação e às autoridades iranianas”, escreveu na rede social Instagram

A agência oficial iraniana IRNA confirmou entretanto a demissão do chefe da diplomacia iraniana, citando o porta-voz Abbas Musavi. Não se sabe ainda quais as razões que levaram a esta saída abrupta, tendo o ministro revelado apenas "incapacidade de se manter no cargo".

Javad Zarif ocupava o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros desde agosto de 2013, altura em que o reformista Hassan Rouhani assumiu funções como Presidente. 

Antigo embaixador do Irão junto das Nações Unidas, entre 2002 e 2007, o diplomata foi um dos protagonistas do processo negocial que levou à assinatura do acordo sobre o programa nuclear iraniano (Joint Comprehensive Plan of Action) em 2015, entre a República Islâmica e os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas mais a Alemanha.

No entanto, nos últimos meses, o ministro enfrentou críticas e a pressão das alas mais conservadoras do Irão, sobretudo depois de Washington ter anunciado, em maio de 2018, que iria abandonar o acordo assinado em julho de 2015, ainda durante a Administração Obama.

Este entendimento prevê o controlo apertado do programa nuclear de Teerão por parte da comunidade internacional, com a vigilância constante da ONU, através da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA). Em troca, foram levantadas algumas das principais sanções económicas impostas ao país durante mais de uma década.

Ainda que os mecanismos de certificação dessem conta do cumprimento integral do acordo por parte da República Islâmica, Donald Trump anunciou, no ano passado, que os Estados Unidos iriam abandonar o acordo, argumentando que este era ineficaz e não servia o propósito de controlar o enriquecimento de urânio em solo iraniano.

Desde então, foram recolocadas algumas das sanções que tinham sido entretanto levantadas, incluindo um embargo petrolífero, em vigor desde novembro de 2018. Para além disso, a Administração Trump prometeu retaliar contra os países e empresas que mantenham relações comerciais com o país.

Apesar das ameaças e da incerteza que rodeia o futuro deste acordo, a União Europeia tem mantido o apoio a este entendimento, tendo lançado recentemente uma entidade europeia para preservar as relações comerciais com aquele país.

Até ao momento, não se sabe se o pedido de demissão foi aceite pelo Presidente Hassan Rouhani.
O derradeiro discurso
A demissão acontece no mesmo dia em que o Presidente sírio Bashar al-Assad esteve reunido em Teerão com o Líder Supremo, o ayatollah Ali Khamenei. Foi a primeira visita do chefe de Estado sírio ao Irão desde o início da guerra civil na Síria. Javad Zarif já não marcou presença no encontro entre responsáveis dos dois países. 

Desde que assumiu funções como ministro, Javad Zarif foi chamado ao Parlamento iraniano por diversas vezes para explicar o ponto de situação das negociações do acordo nuclear. Em 2014, os majles exigiram explicações públicas depois de o então ministro ter condenado o Holocausto.

No ano seguinte, após a assinatura do JCPOA, Zarif foi alvo de ameaças físicas por alguns dos elementos mais conservadores da política iraniana, tendo sido acusado de aproximação excessiva aos Estados Unidos, país inimigo durante décadas desde a fundação da República Islâmica, em 1979.

A agência Associated Press assinala que o até agora ministro fez um discurso no último domingo em que criticou a retórica usada pelos principais nomes da linha dura da política e dos clérigos iranianos.

"Não nos podemos esconder atrás do enredo do imperialismo e culpá-lo pelas nossas próprias incapacidades. A independência não significa o isolamento do mundo", considerou o diplomata.
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