Moçambique. Extremistas reivindicam ataque que matou polícia em emboscada
Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram hoje o ataque que vitimou um agente da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da Polícia da República de Moçambique, numa emboscada na terça-feira, em Cabo Delgado.
A reivindicação, feita através dos canais de propaganda do grupo, refere que o ataque aconteceu na terça-feira, em Xitaxi, distrito de Muidumbe, resultando, além da morte do agente, "na destruição de um veículo e na apreensão de várias armas".
O ministro do Interior moçambicano, Paulo Chachine, confirmou na quarta-feira que um agente da UIR morreu numa emboscada naquela província.
"Houve de facto uma vítima, um colega nosso. Caíram numa emboscada e um faleceu", disse o ministro, questionado pelos jornalistas, em Maputo, à margem da cerimónia de posse de comandantes provinciais da polícia.
A emboscada, no troço entre Chitunda e Xitaxi, distrito de Muidumbe, aconteceu cerca das 09:00 (08:00 de Lisboa), quando a UIR assegurava a escolta dos automobilistas que faziam o trajeto Awasse, Mocímboa da Praia a Macomia, centro de Cabo Delgado.
Estas escoltas naquela estrada foram retomadas em julho, a pedido das populações locais e empresários, após o recrudescimento dos ataques terroristas na zona.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.
A ONU estimou na terça-feira que pelo menos 44 pessoas morreram e outras 208 mil foram afetadas no mês de agosto pelos ataques de grupos extremistas em Cabo Delgado.
De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), até agosto, Moçambique também reportou um total de 111.393 pessoas deslocadas, a maioria provenientes de Cabo Delgado (109.118), apesar de terem sido registadas movimentações de pessoas nas províncias de Niassa e Nampula.
"Os civis continuam a enfrentar graves riscos de segurança e proteção, incluindo raptos, pilhagens e ameaças", refere-se no documento, acrescentando-se que estes incidentes, em agosto, "resultaram em 44 mortos e 101 raptados, entre eles seis crianças e cinco mulheres".
Acresce que a insegurança, combinada com reduções "significativas" no financiamento humanitário, limitou "severamente" a capacidade dos parceiros para alcançar as populações afetadas.
"A violência contra civis, as operações militares, os avistamentos dos grupos armados não estatais e os rumores de raptos e pedidos de resgate tornaram o acesso imprevisível nos distritos com maior gravidade de necessidades e incidentes", descreve-se, acrescentando-se no relatório que a situação resultou na suspensão temporária das missões humanitárias nas zonas rurais dos distritos de Macomia, Quissanga, Muidumbe, Mocímboa da Praia, Meluco e Metuge no início de agosto.
De acordo com o OCHA, em agosto o financiamento para as organizações no terreno era metade do que estava disponível no mesmo período do ano passado, reduzindo a presença humanitária e limitando a capacidade dos parceiros de se adaptarem a um contexto operacional dinâmico ou de alargarem as respostas às necessidades emergentes das cerca de 208 mil pessoas afetadas pelo conflito.
Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo anteriores dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques que se registam em Cabo Delgado.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual.