Morreu o líder da Coreia do Norte Kim Jong-il

A televisão pública da Coreia do Norte anunciou esta noite a morte do líder do país, Kim Jong-il. Numa emissão especial, o canal de Pyongyang revelou que Kim Jong-il, de 69 anos, faleceu este sábado quando eram 8h30 da manhã no país asiático, 23h30 em Lisboa, e que foi vítima de ataque cardíaco, resultado de “uma grande fatiga mental e física” durante uma viagem de comboio. O funeral do líder norte-coreano terá lugar no dia 28 de dezembro.

RTP /
Uma rara aparição pública de Kim Jong-il, em outubro de 2005 STF/EPA

Foi em lágrimas que a pivô da KCNA deu a notícia que deixou os norte-coreanos de luto. "O nosso querido líder Kim Jong-il morreu no sábado, dia 17, às 08:30 da manhã quando viajava para realizar as suas funções de liderança". Segundo o canal, o corpo de Jong-il foi submetido a uma autópsia que "confirmou o diagnóstico" de ataque cardíaco.   

O "Querido Líder", como era conhecido entre os norte-coreanos, tinha sido vítima de um ataque cardíaco em 2008 e sofria alegadamente de diabetes. Em maio deste ano, Jong-il deslocou-se até à China no seu comboio blindado, o único meio de transporte pelo qual aceitava viajar e que o levou também à Rússia no mês de agosto.

Kim Jong-un é o "grande sucessor"

A morte de Kim Jong-il abre agora a porta à sucessão do seu filho mais novo, Kim Jong-un, general de quatro estrelas e vice-presidente da Comissão Militar Central do Partido dos Trabalhadores desde 2010.

 O canal estatal designou Jong-un como o "grande sucessor", e fez um apelo aos cidadãos para que reconheçam Jong-un, de 29 anos, como o herdeiro da dinastia comunista da Coreia do Norte. "Todos os membros do Partido (dos Trabalhadores), militares e público deverão seguir fielmente a autoridade do camarada Kim Jong-Un e proteger e reforçar a frente unida do partido, do exército e do público", incitou a KCNA.

"A liderança de Kim Jong-Un é uma garantia segura de que a causa revolucionária do grande líder, lançada por Kim Il-sung e conduzida à vitória por Kim Jong-il, perdurará por gerações. O comando de Kim Jong-Un é seguro e definitivo para cumprir a revolução e a brilhante sucessão", acrescenta a nota da imprensa oficial do regime.

No comunicado da KCNA pode ler-se ainda que os norte-coreanos "têm de converter esta tristeza em valentia sob a liderança de Kim Jong-Un e terão de lutar para que a grande revolução tenha êxito nestes momentos difíceis". O mesmo canal dá conta que os restos mortais de Kim Jong-il poderão ficar no Palácio Memorial de Kumsusan, junto do mausoléu do seu progenitor Kim Il-sung. O funeral, que terá lugar no dia 28, será presidido pelo sucessor do líder, Kim Jong-un. Na Coreia do Norte foi decretado o luto nacional até dia 29.

Estado de emergência na Coreia do Sul

As reações internacionais à morte de Kim Jong-il não se fizeram esperar. No país vizinho, a Coreia do Sul, foi decretado imediatamente o estado de alerta e o conselho de segurança nacional sul-coreano convocou uma reunião de emergência para esta segunda-feira. Nas regiões fronteiriças, a vigilância foi prontamente reforçada, em conjunto com as tropas norte-americanas, não havendo ainda incidentes a registar.

Também o governo do Japão pediu um aumento dos procedimentos de segurança, nomeadamente nas operações dos serviços de informações sobre a Coreia do Norte. O primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, garantiu ainda a coordenação das operações com os Estados Unidos, a Coreia do Sul e a Rússia. "Estou a par da informação e dei instruções para que seja verificada", declarou Noda. "Pedi (aos chefes militares) para recolherem informações e estarem vigilantes", salientou.

Numa nota de condolências, o executivo nipónico expressou ainda o desejo para que "este desenvolvimento inesperado não tenha um impacto negativo sobre a paz e estabilidade na península coreana". Na China a reação foi de "choque". "Estamos chocados com a notícia que o supremo líder da Republica Democrática e Popular da Coreia, o camarada Kim Jong-il, morreu e exprimimos as nossas profundas condolências ao seu povo", disse o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.

Nos Estados Unidos, a notícia está a ser encarada com cautela, enquanto o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, William Hague, aguarda que a morte de Jong-il represente um "ponto de viragem".

"Homem de infinita modéstia"

Kim Jong-il era o chefe do regime totalitário da Coreia do Norte há 17 anos, naquela que é a única dinastia hereditária comunista do mundo, conhecida pelas persistentes violações dos direitos humanos. Subiu ao poder após a morte do seu pai, Kim Il-sung, o "eterno presidente" para os norte-coreanos. Sob o comando de Kim Jong-il, a Coreia do Norte tornou-se um país isolado do resto do mundo, graças à insistência do seu líder em manter um programa de desenvolvimento de armas nucleares e de mísseis de longo alcance, que inquietava os governos dos países vizinhos.

Era descrito pela imprensa do seu país como um homem de "infinita modéstia". Além do sucessor Kim Jong-un, o falecido líder norte-coreano tem outros dois filhos mais velhos, Kim Jong-chol e Kim Jong-nam, preteridos aquando a escolha pelo seu sucessor.

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