Morte de Mahsa Amini. Iranianas queimam véus e cortam cabelos em protesto

por Carla Quirino - RTP
WANA - Agência de Notícias da Ásia Ocidental via Reuters

As imagens de mulheres no Irão a queimarem os véus que lhes cobrem as cabeças e a cortarem o cabelo em público encheram as redes sociais. Por todo o país eclodiram protestos contra a morte de Mahsa Amini, que estava sob custódia da "polícia da moralidade". A Internet pode mesmo ser interrompida por "razões de segurança".

Pela quinta noite, após a morte da jovem Mahsa Amini, os protestos encheram as ruas de Teerão e alastraram a muitas outras localidades. Inúmeros vídeos foram publicados nas redes sociais que documentam manifestantes - homens e mulheres - a gritar: "Mulheres, vida, liberdade".


Outras imagens mostram fogueiras onde mulheres lançam os véus islâmicos – hijab - que são de uso obrigatório para cobrir os cabelos. O ato desafiador de queimar os véus foi por vezes acompanhado com cortes de cabelo.


Foi relatado um grande aplauso da multidão quando uma mulher levou uma tesoura ao cabelo, cortou o rabo de cavalo e levantou o punho no ar. Na onda de protestos a multidão destruiu cartazes do líder supremo do país e gritou: "Morte ao ditador".

Os confrontos com a polícia não se fizeram esperar. "Dois jovens foram atingidos e espancados por policias à paisana e antimotim, depois arrastados para a carrinha em frente ao portão de entrada do metro", explicou uma testemunha à CNN.

"Uma menina ferida deitada na calçada foi levada de ambulância para o hospital e outras cinco foram presas no lado norte da Praça Enghelab", acrescentou.


Mulheres detidas | Twitter de @zibazilaei


Depois da morte de Mahsa Amini, que ocorreu há cinco dias, a resposta policial já fez pelo menos 75 feridos. A Organização Hengaw para os Direitos Humanos denunciou que cinco manifestantes na região curda foram mortos a tiro.
Internet pode ser interrompida
De acordo com o ministro das Comunicações, citado pela agência de notícias semi-oficial ISNA e pela Reuters, o acesso à internet no Irão pode ser interrompido já esta quarta-feira por "razões de segurança".

"Devido às questões de segurança e aos debates que estão a ocorrer atualmente no país, restrições à internet podem ser decididas e aplicadas pelo aparato de segurança, mas no geral não tivemos nenhuma redução de largura de banda", disse Issa Zarepour.

Segundo a CNN, o site de monitorização Netblocks documentou interrupções na rede desde sexta-feira, "uma tática que o Irão já usou anteriormente para impedir a propagação de protestos".

Mahsa Amini
Mahsa Amini, natural da região do Curdistão (noroeste),  foi detida há uma semana quando estava a visitar a família, em Teerão. Amini foi levada pela "polícia da moralidade" por, alegadamente, apresentar falhas no uso do véu islâmico. Morreu três dias depois de ter ficado em coma quando estava sob custódia policial, desencadeando uma onda de indignação por todo o país. 

As autoridades iranianas afirmaram que Amini morreu na sexta-feira passada depois de sofrer um "ataque cardíaco" e entrar em coma durante a detenção. No entanto, a família da jovem de 22 anos declarou que Mahsa não tinha qualquer problema cardíaco pré-diagnosticado, de acordo com a publicação Emtedad News, que alegou ter falado com o pai de Amini.

Imagens editadas de câmaras de segurança divulgadas pelos media estatais iranianos pareciam mostrar Amini a desmaiar num centro de "reeducação" onde foi levada pela “polícia da moralidade” para receber "orientações" sobre a sua forma de vestir.

A agência noticiosa Fars adiantou que "muitos manifestantes estão convencidos que Mahsa Amini foi torturada até à morte".

A polícia de moralidade do Irão tem a tarefa de fazer cumprir as rígidas regras sociais da República Islâmica, incluindo o código de vestuário que exige que as mulheres usem um lenço na cabeça, ou hijab, em público, desde 1979, ano da Revolução Islâmica.

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