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COVID-19
Morte na Amazónia. "Estamos num estado de desastre total"
São tantas as mortes na maior cidade da Amazónia que no principal cemitério estão a ser enterrados de uma só vez cinco caixões na mesma sepultura. O cenário é de tal forma avassalador que em breve podem mesmo faltar caixões.
O número de mortes provocadas pela Covid-19 na Amazónia pode ser sete vezes superior ao valor divulgado oficialmente.
De acordo com a Globo online, de 21 a 28 de abril os dados oficiais indicavam que houve 118 óbitos por causa do novo coronavírus. Só que no mesmo período 262 pessoas foram enterradas por causa indeterminada nos cemitérios públicos da capital.
Ainda de acordo com a Globo, Manaus pode ter uma subnotificação de 1.185 mortes por Covid-19.
São dados que parecem estar mais alinhados com o que realmente está a acontecer na cidade. "É o caos aqui", disse à Reuters Maria Garcia. Esteve três horas numa fila à espera para conseguir um certificado de morte do avô, com 80 anos, que morreu em casa por falha respiratória.
Através da Reuters chegam imagens marcantes sobre o que se está a viver na cidade por estes dias.
Aqui, um funcionário da cidade de Manaus ajuda a arrumar caixões. São dezenas alinhados dentro deste espaço, sendo que rapidamente desaparecem.
E percebe-se porquê. Esta fotografia mostra uma escavadora a fazer dezenas de valas no cemitério do Parque Taruma, em Manaus. A forma que se arranjou para dar resposta ao aumento substancial de funerais em tão pouco tempo e de forma tão inesperada.
Aqui, no mesmo cemitério, as sepulturas já com as dezenas de pessoas que morreram e foram enterradas.
Alguns protegidos com fatos para evitar a contaminação por Covid-19, outros, nem por isso, tem sido assim nos últimos tempos na cidade de Manaus.
Funerais em simultâneo para enterrar, quase sempre em sepulturas comuns, dezenas de vítimas mortais deste vírus.
Manaus foi a primeira cidade do Brasil a anunciar que tinha ficado, nos hospitais, sem capacidade de resposta nas unidades de cuidados intensivos.
Os números divulgados pela Universidade John Hopkins, que têm servido para avaliar o impacto da Covid em todo o mundo, indicam que hoje, dia 30 de abril, 79.685 testaram positivo para o novo coronavírus no Brasil, com 5.513 vítimas mortais em todo o país.
Dados que, dizem os especialistas, estão muito abaixo da realidade e refletem o número reduzido de testes que estão a ser feitos atualmente.
Na imagem seguinte, profissionais de saúde protestam nas ruas pela falta de condições com que têm estado a trabalhar no socorro às pessoas. Levam consigo, nas mãos, fotografias de colegas que morreram depois de terem sido infetados com Covid-19 no hospital onde trabalhavam.
Manaus é a cidade que de forma mais clara demonstra como a Covid-19 está a espalhar-se pelo país. "É uma loucura, pura loucura", disse Gilson de Freitas ao The Guardian depois de ter perdido a mãe. Ao jornal britânico recorda a forma cruel como a mãe foi enterrada num "buraco lamacento ao lado de outros 20 caixões. São largados como cães", disse. "O que valem as nossas vidas? Nada."
A situação já levou mesmo o presidente da Câmara de Manaus a pedir ajuda internacional. "Não estamos num estado de emergência, estamos bem para lá disso", disse ao The Guardian. "Estamos num estado de desastre total, como um país que perdeu uma guerra".
A cerca de dois mil quilómetros de Manaus, na cidade de Brasília, o Presidente Jair Bolsonaro parece estar pouco preocupado com esta realidade. Questionado sobre o aumento de vítimas mortais, respondeu: "O que querem que eu faça?" Resposta bem diferente teve o novo ministro da Saúde que reconheceu que "Manaus é uma prioridade absoluta" ao mesmo tempo que anunciou que um avião com ventiladores segue para Manaus esta quinta-feira.