Moscovo entre os alvos. Defesas russas abatem mais de 100 drones em 11 regiões

O Ministério da Defesa da Rússia adiantou esta terça-feira que as defesas aéreas do país abateram, durante a noite, pelo menos 105 drones ucranianos sobre 11 regiões, entre as quais Moscovo. Esta foi a segunda vaga consecutiva de ataques desencadeados por Kiev na antecâmara das comemorações, na capital russa, do desfecho da II Guerra Mundial.

Carlos Santos Neves - RTP /
Oleksandr Ratushniak - Reuters

Segundo o presidente da câmara de Moscovo, Sergei Sobyanin, 19 drones ucranianos acercaram-se de Moscovo "a partir de diferentes direções". Um destes aparelhos terá atingido um edifício de apartamentos no sul da capital russa, estilhaçando janelas, avançaram os portais Baza, Mash e Shot, conotados com os serviços de segurança do país. Sem notícia de vítimas.

Às 0h00, os aeroportos de Moscovo interromperam todas as operações por ordem da autoridade de aviação Rosaviatsia - estas foram entretanto retomadas.

A maior parte dos drones ucranianos foi intercetada sobre regiões da linha de fronteira com a Ucrânia, nomeadamente Bryansk, onde foram abatidos 32 aparelhos, Voronezh (22), Belgorod (seis), Kursk (um) e Rostov (um). Foram também abatidos drones em Penza (dez), Kaluga (nove), Lipetsk (dois), Samara (dois) e Vladimir (um).Kiev afirma que as suas tropas têm estado envolvidas em operações de combate, nas últimas 24 horas, em Kursk, embora Moscovo continue a dar como rechaçada a incursão ucraniana nesta região.

Em março, 91 de 337 drones lançados pelas forças de Kiev alvejaram a região de Moscovo, num ataque que provocou três mortos, vários incêndios e interrompeu ligações aéreas e ferroviárias.

No final de abril, Vladimir Putin anunciou uma trégua de três dias por ocasião do 80.º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazi na II Guerra Mundial. Espera-se que o cessar-fogo comece a vigorar às 0h00 de quinta-feira e termine às 0h00 domingo, de acordo com o gabinete do presidente russo.

Todavia, Volodymyr Zelensky já veio descrever o gesto do homólogo russo como um "gesto teatral". O presidente ucraniano reitera que se impõe um cessar-fogo de 30 dias: "Porquê um cessar-fogo de 30 dias? Porque é impossível acordar o que quer que seja em três, cinco ou sete dias".
"Extrema incerteza"
A notícia da segunda vaga consecutiva de drones lançados contra território russo é conhecida no mesmo dia em que a OCDE divulga um relatório com perspetivas de abrandamento para a economia da Ucrânia. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico prevê que, na sequência de recuperações de 5,5 por cento em 2023 e de 2,9 no ano passado, o PIB do país cresça este ano 2,5 por cento e dois por cento em 2026.

A OCDE observa que a invasão russa obrigou um quarto da população da Ucrânia a deslocar-se dentro ou fora das fronteiras do país. Assinala ainda que a destruição de habitações, empresas e infraestruturas representa cerca de 2,5 vezes o PIB.Só em 2022, a atividade caiu em mais de um quarto e o PIB no ano da invasão foi 71 por cento do valor de 2010.


As perspetivas surgem assim toldadas por "extrema incerteza".

"A destruição contínua de empresas e infraestrutura, a escassez de energia e mão-de-obra e as pressões fiscais limitarão a recuperação", vinca a OCDE.

A organização mostra-se também convicta de que, dado o peso da defesa sobre o PIB, calculado em 25 por cento, o défice público deve permanecer elevado.

Uma vez ultrapassado o cenário de conflito, num futuro difícil de calendarizar, a OCDE considera que a Ucrânia terá de implementar uma "gestão fiscal sólida e transparente" e atacar problemas crónicos como a "corrupção", a "integridade pública" e as barreiras regulatórias.O relatório reconhece um "progresso significativo", mas sublinha, ao mesmo tempo, que "a corrupção continua a ser uma grande preocupação pois distorce a concorrência e limita o dinamismo dos negócios".

Outro dos desafios de monta no caminho da Ucrânia é a escassez de mão-de-obra. Com a mobilização de cerca de um milhão de pessoas para o esforço de guerra e a deslocação de 30 por cento da população em idade ativa, a força laboral terá recuado para 16,4 milhões de pessoas em 2023.

Agilizar o regresso de aproximadamente 6,9 milhões de pessoas - melhorando o mercado de trabalho, as condições de habitação e os serviços de educação - é a tarefa que a OCDE prescreve para a Ucrânia num quadro de pós-guerra.

c/ agências

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