Multidões na rua, bares lotados e festejos pelo fim do estado de alarme em Espanha

por Inês Moreira Santos - RTP
Quique Garcia - EPA

Foram muitos os espanhóis que saíram à rua esta noite, em várias cidades espanholas, para celebrar o fim do estado de alarme, decretado pelo Governo para combater a pandemia a Covid-19. Com o abrandamento das restrições e o levantamento do recolher obrigatório, milhares de pessoas reuniram-se em festa, a dançar, a gritar "liberdade", sem distanciamento social e alguns sem máscara.

Espanha estava há mais de seis meses em estado de alarme, o segundo decretado pelo Governo de Pedro Sánchez devido à covid-19. À meia-noite deste domingo, da 9 de maio, terminaram as restrições, como o recolher obrigatório e a proibição de circulação entre regiões, e dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas, a partir dessa hora, para festejar o regresso a alguma "normalidade".

Bares abertos e lotados, milhares de pessoas na rua, a maioria jovens, com garrafas em sacos, a beber e a festejar despreocupados, sem garantir o distanciamento social e nem sempre de máscara. O cenário repetiu-se em algumas das principais cidades espanholas como Madrid, Barcelona, Málaga ou Salamanca.

"Álcool, álcool, viemos para nos embebedar e não nos importamos com o resultado [dos testes à Covid-19]", afirmou um jovem ao El País.

À uma e meia da manhã, uma multidão juntou-se na famosa Puerta del Sol, em Madrid, e começou a gritar "liberdade", em euforia pelo fim as restrições.

Em Barcelona, milhares de pessoas reuniram-se em diversos pontos, inclusive na porta do Superior Tribunal de Justiça, a beber e a dançar sem máscaras nem distância. A imprensa espanhola relata ainda festas na praia com garrafas de espumante e fogo de artifício, ao estilo da noite de Passagem de Ano.

Em Sevilha as discotecas abriram, depois da meia-noite, e ao contrário da Cinderela, foram muitos os que saíram a essa hora para se divertir como em tempos antes da pandemia.

"Saber que não temos de olhar para o relógio para ir para casa é um alívio"
, disse uma estudante ao jornal espanhol.

As imagens de uma Espanha em festa, animada, com ruas repletas de pessoas, quase idêntica a uma época de verdadeira normalidade, correram pelas redes sociais. Embora a noite fosse de festa e já não houvesse recolher obrigatório, beber álcol na rua continua a ser proibido e as autoridades de várias cidades tiveram de dispersar as multidões, pedir que mantivessem distância e usassem mácara, acabar com festas por denúncias devido a distúrbios e ainda houve algumas centenas de detenções.


Também os setores da restauração e hoteleiros estão ansiosos com o fim da generalidade de restrições mais apertadas.

"As pessoas querem voltar às suas velhas rotinas. Eu mesmo fico muito nervoso por voltar a trabalhar à noite", descreveu Carlos Domingo Morla, dono da hamburgueria Negronix, no bairro Navas de Barcelona. "Ainda me lembro do dia em que tudo parou. Nada voltou a ser o mesmo. Continuamos a abrir alguns dias até ao meio-dia, mas não ganhamos nem cinco por cento do que ganhávamos antes. Agora é a hora de colocar tudo nos trilhos".

De facto, a imprensa espanhola relata que as reservas para os restaurantes em Espanha aumentaram, estando praticamente lotados para os próximos dias.

No entanto há também receio que a pandemia tenha alterado os hábitos das pessoas e não haja tantos clientes como antes.

"Há muita expectativa de como funcionará daqui para frente, se a pandemia terá mudado hábitos apenas temporariamente", explicou também ao jornal Eduard Urgell, diretor-geral da Angrup, um grupo com 17 restaurantes em Barcelona.
"Liberdade" para circular e visitar a família

Espanha foi, desde o início da pandemia, um dos países de Europa e do mundo mais afetados pela covid-19. Mas nas últimas semanas a taxa de incidência de casos tem estado a diminuir, ao mesmo tempo que a vacinação nacional tem avançado, o que permitiu que a maioria das 17 regiões terminassem com o estado de Emergência, o recolher obrigatório e a proibição de circulação.

Há, contudo, quatro regiões que mantêm estas limitações: Ilhas Baleares, Ilhas Canárias, Navarra e Valência.

Para além de poderem estar na rua sem limitações de horários, os espanhóis podem voltar a viajar entre restrições e a visitar as famílias, os amigos, marcar férias e fins de semana fora. Com o alívio das restrições, são muitas as famílias que esperam poder reunir-se novamente e disfrutar das suas segundas habitações, noutras regiões.

"Vamos passar a fronteira regional assim que for meia-noite, cumprindo todas as normas", revelou no sábado Carolina Tricio, que vive em Vitoria mas tem uma segunda habitação, casa de família, em Burgos.

"Eu estava farto de não poder deixar Madrid", disse Blaca Valls à AFP, ecoando o alívio de muitos no país com a flexibilização das restrições.

"Senti-me frustrado, preso, sem liberdade", acrescentou, assumindo que pretende viajar para a Galiza, no noroeste da Espanha, no próximo fim de semana para festejar um aniversário.

Argentina Enriquez, uma estudante mexicana de 37 anos, disse também que quer ir, a partir de agora, desfrutar de churrascos com os amigos, tocar violão e passear.

"Apenas estarmos juntos. São muitas emoções", disse.

Embora o fim do estado de Emergência proporcione mais liberdades, a responsabilidade de garantir o controlo da pandemia e da saúde pública é agora dos 17 governos regionais do país.

O estado de emergência proporciona-lhes um quadro jurídico para impor medidas novamente medidas, como toque de recolher noturno ou a proibição de viagens não essenciais entre regiões, caso seja necessário.

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