Na Turquia, Papa Leão XIV alerta para a ascensão de conflitos internacionais

Pela primeira vez em território estrangeiro desde que foi eleito, Leão XIV concentrou o seu discurso nos conflitos globais.

RTP /
Foto: Yara Nardi - Reuters

Pela primeira vez em território estrangeiro desde que foi eleito, Leão XIV concentrou o seu discurso nos conflitos globais.

Na Turquia, primeira etapa de um percurso que seguirá para o Líbano, lamentou que "ambições e escolhas que espezinham a justiça e a paz" estejam a desestabilizar o mundo.

O papa Leão XIV iniciou esta quinta-feira a sua primeira deslocação oficial ao estrangeiro desde que foi eleito, em maio deste ano, líder mundial da Igreja Católica Apostólica Romana. A viagem começou na Turquia, por ocasião do 1700º aniversário do Primeiro Concílio de Niceia, e partirá de seguida para o Líbano, uma semana depois de bombardeamentos israelitas assolarem a capital do país, cumprindo um roteiro que já estava projetado pelo papa Francisco.

No seu primeiro discurso fora de território italiano, o papa norte-americano lamentou que o mundo esteja a passar por um número de conflitos globais fora do comum e que têm causado milhares de mortes em todo o mundo. Leão XIV declarou que “ambições e escolhas que espezinham a justiça e a paz” estão a desestabilizar o mundo.

Num contexto de esforços para pôr fim às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, o chefe da Igreja Católica apelou à paz à chegada a Ancara, capital do país, onde foi recebido na pista de aterragem por uma guarda de honra militar e no palácio presidencial pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Dirigindo-se a Erdogan e ao corpo diplomático do país, Leão XIV encorajou a Turquia a ser “uma fonte de estabilidade e de aproximação entre povos, ao serviço de uma paz justa e duradoura”, elogiando o papel histórico do país como ponte entre o Oriente e o Ocidente.

“Hoje, mais que nunca, precisamos de pessoas que promovam o diálogo e o pratiquem com vontade firme e paciente determinação”, sublinhou.

A deslocação do papa surge numa altura em que a Turquia, um país com mais de 85 milhões de habitantes, na sua maioria muçulmanos sunitas, procura reforçar o seu compromisso com os conflitos na Ucrânia e em Gaza, atuando como intermediário fundamental.

Ancara acolheu várias rondas de negociações com delegações russas e ucranianas, em separado, e mostrou abertura para auxiliar no supervisionamento do cessar-fogo em vigor na Faixa de Gaza, que permanece vulnerável, disponibilizando-se para participar na força de estabilização do território palestino.

O Estado de Israel acusa o Governo turco de prestar apoio ao movimento islamita palestiniano Hamas, que governa na Faixa de Gaza há quase 20 anos, e afastou qualquer hipótese de participação das tropas turcas numa força de estabilização. 

Leão XIV não referiu os conflitos especificamente no seu discurso, mas citou o seu antecessor, o papa Francisco, lamentando que as guerras que hoje assolam o mundo se equiparem a uma “terceira guerra mundial travada de forma fragmentada”.
O papa criticou os recursos despendidos em armamento que melhor serviriam no combate à fome e à pobreza e à proteção da humanidade.

“Após duas guerras mundiais, estamos agora a viver uma fase marcada por um elevado nível de conflito a nível global. Não podemos ceder a isso! O futuro da humanidade está em jogo”, defendeu.

Ainda antes das declarações do papa em terras turcas, Erdogan afirmou acolher com agrado a “posição firme” do Vaticano sobre o conflito israelo-palestiniano e referiu ter esperança de que a sua visita pudesse ter efeitos positivos na humanidade num momento de tensão e incerteza. No seu discurso, o chefe de Estado turco disse que a questão palestiniana é fundamental para alcançar a paz na região do Médio Oriente.

Erdogan salientou a urgência de tomar medidas imediatas no sentido de reforçar o cessar-fogo alcançado em Gaza, proteger os civis e garantir a distribuição ininterrupta de ajuda humanitária.
Valorizar apoio à família e contributo das mulheres

O papa Leão XIV aproveitou a visita para discutir também o papel das mulheres na sociedade turca e no panorama global. O atual papa, nascido Robert Francis Prevost, realçou que a participação ativa das mulheres em estudos, na vida profissional, cultural e política coloca-as “ao serviço da sua comunidade” e contribui positivamente no cenário internacional.

“Devemos, por isso, valorizar muito as importantes iniciativas a este respeito, que apoiam a família e o contributo que as mulheres dão para o pleno florescimento da vida social”, acrescentou.

Os ativistas pelos direitos das mulheres continuam a condenar a saída de Erdogan, em 2021, da Convenção de Istambul, um tratado europeu histórico assinado em 2011 naquela cidade turca para proteger as mulheres da violência.

De acordo com o grupo de defesa We Will Stop Femicide, 237 mulheres foram mortas na Turquia em 2025, a maioria em contexto de intimidade, ao passo que outras 247 mulheres foram encontradas mortas em circunstâncias suspeitas.

Esta semana, Erdogan apresentou um novo plano de cinco pontos para combater a violência contra as mulheres, entre os quais a promoção de uma cultura de respeito, o reforço das proteções jurídicas e a reabilitação dos agressores. No passado dia 25 de novembro celebrou-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

O primeiro discurso de qualquer viagem papal define o tom da sua visita. Isto é ainda mais verdade para esta primeira viagem ao estrangeiro do primeiro papa norte-americano, que falará na Turquia sempre em inglês, numa mudança em relação ao Vaticano, centrado na cultura italiana.

Leão XIV permanecerá em Ancara até ao próximo dia 30 de novembro. Depois da capital turca, o chefe da Igreja Católica segue para Istambul, para reuniões e orações com líderes cristãos ortodoxos, bem como com representantes da comunidade muçulmana maioritária da Turquia. De seguida, viaja para o Líbano.

com Lusa
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