O secretário-geral da NATO alertou esta segunda-feira para a possibilidade de uma nova "ação agressiva" da Rússia na fronteira com a Ucrânia. Jens Stoltenberg mencionou em concreto as movimentações "pouco habituais" observadas nos últimos dias.
“Temos de ter clareza, temos de ser realistas sobre os desafios que temos à nossa frente. O que vemos atualmente é um aumento significativo de tropas russas”, adiantou Stoltenberg numa conferência de imprensa.
Sem querer especular em relação às verdadeiras intenções da Rússia, o secretário-geral da NATO notou: “Vemos uma concentração militar pouco habituais na fronteira e sabemos que a Rússia está disposta a usar este tipo de capacidades militares para desencadear ações agressivas contra a Ucrânia”.
“Trata-se em parte de forças mobilizadas para perto da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, mas também de capacidade militar que está dentro da própria Ucrânia, ou seja, na Crimeia, território ilegalmente anexado, e também pelos separatistas Donbass, apoiados e ajudados pela Rússia”, afirmou o secretário-geral da Aliança Atlântica.
Um porta-voz do Ministério alemão dos Negócios Estrangeiros reconheceu esta segunda-feira que a Alemanha está a acompanhar as atividades militares “com preocupação” e que a Rússia deve “mostrar moderação” e “evitar uma escalada militar”.
Citada pela agência Reuters, fonte da NATO descreve a força militar russa presente na Ucrânia e as movimentações junto à fronteira: “Grandes equipamentos, como tanques, artilharia automotora e veículos de combate de infantaria deslocam-se durante a noite para evitar que surjam imagens reveladoras nas redes sociais, como aconteceu nas movimentações militares russas na Primavera".
Nos últimos dias, as movimentações russas junto à fronteira com a
Ucrânia voltaram a despertar os receios de um novo adensar do conflito
na região. Em 2014, a Rússia anexou unilateralmente o território
ucraniano da Crimeia e nos meses seguintes, tropas separatistas apoiadas
pela Rússia assumiram o controlo de parte do território leste do país.
Ainda
que mais adormecido, o conflito nesta região nunca cessou completamente
e têm-se registado vítimas mortais e feridos com alguma regularidade.
Atenção internacional em Minsk
Vários países acusam Moscovo de estar a preparar um possível ataque na Ucrânia enquanto todas as atenções estão voltadas para a crise migratória na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia. Bruxelas acusa Minsk de uma “guerra híbrida”, ao incentivar os migrantes vindos de vários países do Médio Oriente a chegarem a território da União Europeia.
No domingo, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou através de um porta-voz que“as ações do regime de Lukashenko ameaçam a segurança, semeiam a divisão e visam desviar as atenções das atividades da Rússia na fronteira com a Ucrânia”.
Já esta segunda-feira, o ministro lituano dos Negócios Estrangeiros, Gabrielius Landsbergis, alertou que os países ocidentais “não podem excluir a possibilidade” de um ataque russo contra a Ucrânia num momento em que a atenção internacional está voltara para a crise migratória na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia.
Gabrielius admite também que Moscovo possa estabelecer uma presença militar permanente na Bielorrússia neste contexto de tensão.
O Kremlin nega todas as acusações e diz que a perceção de uma manobra de distração na Bielorrússia é “errada”. A Rússia tem-se descartado de qualquer envolvimento na crise migratória, enquanto o Governo polaco acusa Vladimir Putin de ser o verdadeiro “mentor” da situação que se vive.
No domingo, o Presidente russo ofereceu-se para mediar o conflito migratório em curso entre a Bielorrússia e a União Europeia, numa altura em que Bruxelas se prepara para a imposição de novas sanções contra o regime de Lukashenko.
Em conferência de imprensa esta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, apontou para a atuação europeia nesta questão: “Apontar todas as culpas a Lukashenko, ao lado bielorrusso, é completamente errado”.