NATO ensaia aproximação à Rússia sob a égide dos Estados Unidos

A diplomacia dos Estados Unidos conseguiu inscrever o reatamento do diálogo com a Rússia no topo da agenda da NATO. À luz do "realismo", a Aliança Atlântica deve recuperar a "plataforma de cooperação" com as autoridades de Moscovo, defendeu esta quinta-feira, em Bruxelas, a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton.

RTP /
"É chegada a hora do realismo", afirmou a secretária de Estado Hillary Clinton perante os homólogos da NATO Olivier Hoslet, EPA

As relações entre a NATO e a Rússia de Vladimir Putin e Dmitry Medvedev estão congeladas desde o Verão, quando os tanques russos franquearam as fronteiras da Geórgia para perpetuar o ascendente de Moscovo sobre a Ossétia do Sul e a Abecásia. Dissipada a poeira da guerra, "é tempo de seguir em frente". Foi esta a ideia defendida no encontro ministerial de Bruxelas pela secretária de Estado norte-americana.

Ao cabo de um prolongado debate, vingou a perspectiva dos Estados Unidos.

O Conselho NATO-Rússia, propugnou Hillary Clinton, deve voltar a ser encarado como um "mecanismo de diálogo".

"Mesmo que alguns vejam o Conselho NATO-Rússia como uma recompensa, ou uma concessão à Rússia, ele deve ser considerado um mecanismo de diálogo sobre os pontos de desacordo e uma plataforma de cooperação que é do nosso interesse", afirmou a governante norte-americana.

Após seis meses de afastamento, Clinton e demais agentes da política internacional dos Estados Unidos parecem preterir as reservas levantadas pelos países da Europa de Leste, embora defendam que a NATO deve "manter as portas abertas" a futuras adesões da Geórgia e da Ucrânia.

"É chegada a hora do realismo, assim como a da esperança. É tempo de procurar um novo ponto de partida e trabalhar [com a Rússia] de forma construtiva", insistiu.

Áreas de "interesse mútuo"

Segundo os novos estrategas da diplomacia norte-americana, as áreas de "interesse mútuo" a partilhar entre a Aliança Atlântica e Moscovo compreendem o esforço de guerra no Afeganistão, o combate ao terrorismo, o tráfico de droga e a proliferação de armas de destruição em massa.

A Administração Obama aposta numa capitalização da influência de Moscovo junto de Teerão para minar as ambições nucleares do regime.

Hillary Clinton promete abordar "todos estes assuntos e outros" durante uma reunião, na sexta-feira, com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov.

Entre as delegações de Tbilissi e Kiev, convidadas para a reunião de Bruxelas, o cepticismo é o sentimento dominante. As reservas dos países vizinhos do gigante russo foram sintetizadas pelo ministro lituano dos Negócios Estrangeiros. Vygaudas Usackas considerou "um pouco prematura a abertura de um diálogo formal" com o poder político de Moscovo.

Também o ministro britânico David Milliband tratou de temperar o entusiasmo de Clinton, sublinhando que "a invasão da Geórgia e a violação contínua da sua soberania" não podem ser "varridas para baixo do tapete".

Rússia mantém posição de força

A expensas das intenções de Washington, que o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, fez questão de aplaudir na antecâmara dos trabalhos em Bruxelas, Moscovo mostra-se pouco inclinada a deixar cair a desconforto perante o alargamento da Aliança Atlântica à sua esfera de influência geopolítica e militar.

Dmitry Rogozin, o emissário permanente da Rússia junto da NATO, disse esperar um desfecho "satisfatório" das conversações de Bruxelas, mas deixou também claro que o Governo russo vai manter uma posição de força em futuros contactos com o Ocidente: "Saímos mais fortes da crise que tivemos após os acontecimentos de Agosto de 2008, a crise no Cáucaso do Sul".

"Os nossos homólogos ocidentais viram na Rússia um parceiro a que não se pode limpar os pés. Nós somos fortes e estamos a restaurar a cooperação, incluindo os nossos próprios termos", frisou o diplomata russo.

A sublinhar as tensões que perduram a Leste, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, voltou hoje a agitar a ameaça do encerramento das torneiras do gás com destino à Ucrânia e à Europa. As autoridades de Kiev têm até sábado para regularizar a sua factura energética de Fevereiro.

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