NATO ensaia aproximação à Rússia sob a égide dos Estados Unidos
A diplomacia dos Estados Unidos conseguiu inscrever o reatamento do diálogo com a Rússia no topo da agenda da NATO. À luz do "realismo", a Aliança Atlântica deve recuperar a "plataforma de cooperação" com as autoridades de Moscovo, defendeu esta quinta-feira, em Bruxelas, a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton.
Ao cabo de um prolongado debate, vingou a perspectiva dos Estados Unidos.
O Conselho NATO-Rússia, propugnou Hillary Clinton, deve voltar a ser encarado como um "mecanismo de diálogo".
"Mesmo que alguns vejam o Conselho NATO-Rússia como uma recompensa, ou uma concessão à Rússia, ele deve ser considerado um mecanismo de diálogo sobre os pontos de desacordo e uma plataforma de cooperação que é do nosso interesse", afirmou a governante norte-americana.
Após seis meses de afastamento, Clinton e demais agentes da política internacional dos Estados Unidos parecem preterir as reservas levantadas pelos países da Europa de Leste, embora defendam que a NATO deve "manter as portas abertas" a futuras adesões da Geórgia e da Ucrânia.
"É chegada a hora do realismo, assim como a da esperança. É tempo de procurar um novo ponto de partida e trabalhar [com a Rússia] de forma construtiva", insistiu.
Áreas de "interesse mútuo"
Segundo os novos estrategas da diplomacia norte-americana, as áreas de "interesse mútuo" a partilhar entre a Aliança Atlântica e Moscovo compreendem o esforço de guerra no Afeganistão, o combate ao terrorismo, o tráfico de droga e a proliferação de armas de destruição em massa.
A Administração Obama aposta numa capitalização da influência de Moscovo junto de Teerão para minar as ambições nucleares do regime.
Hillary Clinton promete abordar "todos estes assuntos e outros" durante uma reunião, na sexta-feira, com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov.
Entre as delegações de Tbilissi e Kiev, convidadas para a reunião de Bruxelas, o cepticismo é o sentimento dominante. As reservas dos países vizinhos do gigante russo foram sintetizadas pelo ministro lituano dos Negócios Estrangeiros. Vygaudas Usackas considerou "um pouco prematura a abertura de um diálogo formal" com o poder político de Moscovo.
Também o ministro britânico David Milliband tratou de temperar o entusiasmo de Clinton, sublinhando que "a invasão da Geórgia e a violação contínua da sua soberania" não podem ser "varridas para baixo do tapete".
Rússia mantém posição de força
A expensas das intenções de Washington, que o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, fez questão de aplaudir na antecâmara dos trabalhos em Bruxelas, Moscovo mostra-se pouco inclinada a deixar cair a desconforto perante o alargamento da Aliança Atlântica à sua esfera de influência geopolítica e militar.
Dmitry Rogozin, o emissário permanente da Rússia junto da NATO, disse esperar um desfecho "satisfatório" das conversações de Bruxelas, mas deixou também claro que o Governo russo vai manter uma posição de força em futuros contactos com o Ocidente: "Saímos mais fortes da crise que tivemos após os acontecimentos de Agosto de 2008, a crise no Cáucaso do Sul".
"Os nossos homólogos ocidentais viram na Rússia um parceiro a que não se pode limpar os pés. Nós somos fortes e estamos a restaurar a cooperação, incluindo os nossos próprios termos", frisou o diplomata russo.
A sublinhar as tensões que perduram a Leste, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, voltou hoje a agitar a ameaça do encerramento das torneiras do gás com destino à Ucrânia e à Europa. As autoridades de Kiev têm até sábado para regularizar a sua factura energética de Fevereiro.