Nord Stream. Suécia descobre nova fuga nos gasodutos. Moscovo e Ocidente trocam acusações

por Andreia Martins - RTP
Uma imagem de satélite de 26 de setembro de 2022 mostra uma fuga de gás no gasoduto Nord Stream junto à ilha dinamarquesa de Bornholm, no Mar Báltico. Planet Labs PBC via Reuters

A Guarda Costeira sueca confirmou esta quinta-feira que encontrou uma nova fuga de gás no Nord Stream 2, no Mar Báltico. Até ao momento foram encontradas esta semana quatro fugas nos dois gasodutos submarinos russos, Nord Stream 1 e 2. Entretanto, as autoridades de segurança europeias indicam ter detetado navios da Marinha russa junto dos locais onde ocorreram as fugas. A Ucrânia apela à comunidade internacional para que classifique a Rússia como “um estado terrorista”.

De acordo com as autoridades suecas, há “duas fugas do lado sueco e duas fugas do lado dinamarquês”. Na quarta-feira, as autoridades tinham confirmado três fugas que estão a causar agitação marítima, o que impossibilita uma inspeção às infraestruturas.

A quarta fuga de gás é de menor dimensão e está “próxima” da primeira fuga encontrada no lado sueco, refere a Guarda Costeira sueca à imprensa local.

Os sismologistas reportaram explosões debaixo de água antes das fugas. “Não há dúvida de que foram explosões”, disse Bjorn Lund, do Centro Nacional de Sismologia da Suécia.

Vários países e organizações, incluindo a Suécia, Dinamarca, Alemanha, União Europeia e NATO alegam que as fugas no Nord Stream foram causadas por um “ato intencional” e de “sabotagem”.

Na terça-feira, a União Europeia prometia uma resposta “o mais forte possível” após as intervenções que motivaram as fugas de gás.
“Agora é primordial investigar os incidentes, obter total clareza sobre os eventos e porquê. Qualquer interrupção deliberada da infraestrutura energética europeia ativa é inaceitável e levará à resposta mais forte possível", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sem apontar diretamente o dedo à Rússia.
Troca de acusações

As autoridades ocidentais acreditam que o presidente russo está a tentar assustar os países europeus com a subida de preços da energia, à medida que o inverno se aproxima. O objetivo seria, dessa forma, desmobilizar o apoio concedido à Ucrânia na guerra contra a Rússia.

Moscovo considera que se tratam acusações “sem sentido e absurdas” e abriu um inquérito a um “ato de terrorismo internacional”. As autoridades russas indicam que o país “sofreu um grave prejuízo económico devido a estes atos”.

“Apontam sempre o dedo para a Rússia, mas acho que, como se trata propriedade russa, não seria muito lógico que a Rússia lhe infligisse danos. Existem outras formas de dificultar a vida aos europeus.

Podem simplesmente interromper o abastecimento de gás sem danificar a infraestrutura”, argumentou Andrei Kortunov, do think thank Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, em declarações à BBC.

O Kremlin convocou inclusive uma reunião de urgência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para esta sexta-feira, com o objetivo de discutir o que designa como ato de “sabotagem”. Já esta quinta-feira, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros indicou que as fugas de gás na infraestrutura do Nord Stream ocorreram em zonas controladas pelos serviços de inteligência norte-americanos.

Por sua vez, as autoridades de segurança europeias indicaram esta quinta-feira que foram detetados navios da Marinha russa junto dos locais onde ocorreram as fugas. Também focam observados submarinos russos junto a essas áreas ainda na semana passada.

De acordo com a CNN Internacional, que cita três responsáveis de segurança, as fugas nos gasodutos ocorreram provavelmente na sequência de explosões submarinas, mas ainda não se sabe se essas explosões estão de alguma forma relacionadas com as fugas detetadas. Esse é um dos pontos fulcrais que está a ser investigado pelas autoridades.

Um responsável dinamarquês enfatiza que a presença de navios russos naquelas áreas é bastante frequente. “Vemo-los todas as semanas. As atividades russas no Mar Báltico aumentaram nos últimos anos. Eles estão constantemente a testar a nossa atenção, tanto em mar como no ar”, refere.

Admite, no entanto, que a presença dos navios e submarinos não significa necessariamente que a Rússia tenha causado os danos.
“Patrocinador estatal de terrorismo”

Quem não duvida de uma intervenção russa nestas fugas de gás é Kiev. O chefe de gabinete da presidência ucraniana, Andriy Yermak, apelou à aplicação de sanções norte-americanas e europeias contra Moscovo, com base não só nos desenvolvimentos no Nord Stream, mas também citando o relatório oficial de um grupo internacional de peritos, que concluiu que a Rússia deveria ser declarada como “patrocinador estatal de terrorismo”.

A designação permitiria a aplicação de novas sanções contra qualquer indivíduo ou entidade ligada a órgãos do governo russo ou bancos estatais, por exemplo. Coreia do Norte, Síria, Irão e Cuba são alguns dos países que já receberam esta classificação por parte dos Estados Unidos.

“Costuma-se dizer que o dinheiro é como a água, arranja sempre uma maneira de fluir. Para combater isso mesmo, o Ocidente precisa de reforçar as sanções”, vinca o chefe de gabinete de Volodymyr Zelensky em declarações ao Guardian.

De acordo com o relatório internacional publicado esta quinta-feira, a essência do terrorismo “pode-se resumir como violência premeditada e politicamente motivada perpetrada contra alvos não combatentes”. O documento foi elaborado por advogados, economistas e diplomatas internacionais, incluindo o antigo embaixador norte-americano na Rússia, Michael McFaul.

As autoridades ucranianas apelam ao reforço de sanções contra a Rússia numa altura em que Moscovo tenta reforçar os meios na invasão em curso, não só com a iminente anexação de território ucraniano, mas também com a mobilização militar parcial de cidadãos na reserva.
pub