Mundo
Guerra na Ucrânia
Nos 80 anos de Hiroshima. Mundo ignora "tragédias da história" de forma "flagrante"
As guerras na Ucrânia e no Médio Oriente estão a contribuir "para a normalização crescente das armas nucleares". O alerta foi partilhado pelo presidente da Câmara de Hiroshima na cerimónia que assinalou os 80 anos da primeira bomba nuclear lançada pelos EUA.
Kazumi Matsui apelou aos países mais poderosos do mundo que abandonem a dissuasão nuclear.
“Estes desenvolvimentos ignoram de forma flagrante as lições que a comunidade internacional deveria ter aprendido com as tragédias da história”, afirmou Kazumi Matsui, junto à Cúpula da Bomba Atómica, um dos poucos edifícios que sobreviveram ao ataque nuclear.
O secretário-geral da ONU enviou uma mensagem em que alerta para “o risco de conflito nuclear" que "está a aumentar" e a confiança "está a diminuir”
António Guterres aponta que “as divisões geopolítica estão a aumentar” e avisa que as armas nucleares “que trouxeram tanta devastação a Hiroshima e Nagasaki estão novamente a ser tratadas como instrumentos de coerção.”
Guterres lembra que as Nações Unidas assinalam este ano o 80º aniversário, momento para lembrar “a razão pela qual a ONU foi criada: para evitar a guerra, para defender a dignidade humana e para garantir que as tragédias do passado nunca mais se repitam.”
O secretário-geral das Nações Unidas vê sinais de esperança. O Prémio Nobel da Paz foi atribuído em 2024 à organização japonesa Nihon Hidankyo - que representa os sobreviventes dos bombardeamentos de Nagasaki e Hiroshima.
Também o Pacto para o Futuro, adotado no ano passado por vários países que se comprometeram “com um mundo livre de armas nucleares”.
No entanto, Guterres quer mais e avisa: “os compromissos devem conduzir a uma verdadeira mudança, reforçando o regime mundial de desarmamento”.
Os sucessivos Governos japoneses têm sido criticados por se recusarem a ratificar um tratado de 2021 que visa proibir a posse e a utilização de armas nucleares. Dezenas de países assinaram o tratado que, no entanto, não inclui as potências nucleares.
Depois de depositar uma coroa de flores em frente ao cenotáfio, o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, não mencionou esse tratado.
Depois de depositar uma coroa de flores em frente ao cenotáfio, o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, não mencionou esse tratado.
Mas afirmou que é “missão” do Japão, como único país a ter sido atacado por armas nucleares, liderar os esforços globais para o desarmamento.
Nihon Hidankyo, a rede nacional de sobreviventes da bomba atómica, disse que a humanidade está numa corrida contra o tempo para desafiar os EUA e a Rússia - que juntos possuem 90 por cento das mais de 12.000 ogivas nucleares do mundo - e outros Estados nucleares.
No comunicado que divulgou, a organização avisa: “Não nos resta muito tempo, enquanto enfrentamos uma ameaça nuclear maior do que nunca”. “O nosso maior desafio agora é mudar os Estados detentores de armas nucleares... nem que seja só um bocadinho.”