Novo Presidente de Angola promete "aposta cada vez mais séria no setor social"

por Sandra Salvado - RTP
Manuel de Almeida - EPA

João Lourenço, general na reserva de 63 anos, foi investido esta terça-feira como Presidente da República de Angola. Após ter lido e assinado a posse, recebeu das mãos do Presidente cessante, José Eduardo dos Santos, o colar presidencial, símbolo que o confirma no cargo. No primeiro discurso presidencial, assinalou o desafio que tem em mãos para recuperar a economia do país, “com políticas públicas que vão ao encontro dos anseios dos cidadãos”. João Lourenço elencou os países importantes para Angola e nessa lista não aparece Portugal.

Aquele que é agora o terceiro Chefe de Estado de Angola prometeu trabalhar pela melhoria das condições de vida naquele país africano, ao fim de 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos. No discurso como Presidente, João Lourenço assumiu como prioridade "tratar dos problemas da nação" com uma "governação inclusiva".

“Uma vez investido no meu cargo serei o Presidente de todos os angolanos e irei trabalhar na melhoria das condições de vida e bem-estar de todo o nosso povo. Para corresponder à expectativa criada em torno da minha eleição e à confiança renovada no MPLA, governarei usando todos os poderes eu a Constituição e a força dos votos dos cidadãos expressos nas urnas me conferem”.

Neste novo ciclo político que hoje se inicia, João Lourenço diz que a Constituição “será a bússola de orientação e as leis o nosso critério de decisão”.

O novo Presidente diz ainda que a construção da democracia deve fazer-se todos os dias: “É um projeto de toda a sociedade. Vamos por isso construir alianças para trabalharmos em conjunto e podermos ultrapassar eventuais contradições e engrandecer o nosso país”.

O novo Presidente assumiu o compromisso de executar todas as promessas eleitorais com políticas públicas que “vão ao encontro dos anseios dos cidadãos, com uma governação inclusiva que apele à participação de todos os angolanos, independentemente do seu local de nascimento, sexo, língua materna, religião, condição económica ou posição social”.
Portugal não faz parte da lista de "países importantes" para Angola
Numa intervenção de quase uma hora, perante milhares de pessoas, o discurso de apresentação do novo Chefe de Estado ficou ainda marcado pela exclusão de Portugal da lista de parceiros mais importantes de Angola.

“Angola dará primazia a importantes parceiros, tais como os Estados Unidos da América, República Popular da China, Federação Russa, República Federativa do Brasil, Índia, Japão, Alemanha, Espanha, França, Itália, Reino Unido, Coreia do Sul".
As palavras de João Lourenço podem ser um recado a Portugal, que marcou presença na cerimónia de investidura com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, quando refere que Angola também prestará atenção a "outros parceiros não menos importantes, desde que respeitem a nossa soberania".


Recorde-se que a crise nas relações luso-angolanas arrasta-se há algum tempo, comprovada com o adiamento da visita da ministra da Justiça e do primeiro-ministro a Angola, por causa de processos que correm nos tribunais portugueses, envolvendo altas figuras do Estado Angolano.

João Lourenço disse ainda que Angola vai "conduzir uma política de aproximação aos países da comunidade económica dos Estados da África Ocidental, com vista à troca de informações no domínio da segurança, para a prevenção e combate ao terrorismo".

O chefe de Estado disse que Angola deve manter o seu importante papel "de manutenção da paz na sua sub-região, atuando de forma firme nas organizações das quais faz parte pela sua importância histórica e pela necessidade de continuar a cultivar os laços forjados no período da conquista e consolidação das nossas independências. A nossa relação com os países africanos de língua oficial portuguesa vai estar sempre presente nas nossas opções".

João Lourenço diz que vai trabalhar no sentido sentido de garantir uma maior presença de angolanos no sistema das Nações Unidas, na União Africana e nas organizações regionais, "o que pressupõe uma maior aposta na formação e acompanhamento de jovens angolanos para futuras campanhas diplomáticas".
"Eleições ordeiras"

João Lourenço diz que foi eleito democraticamente para um mandato de cinco anos como terceiro Presidente da República de Angola, “em eleições ordeiras, pacíficas e entusiásticas que tiveram o justo reconhecimento interno e internacional”.

O novo Presidente da República de Angola começou por fazer uma saudação especial ao Presidente cessante José Eduardo dos Santos, no “longo e vitorioso caminho trilhado por Angola ao longo dos últimos 38 anos”.

E acrescentou: “O Presidente José Eduardo dos Santos cumpriu a sua missão com um brio invulgar, com dedicação e com elevado espírito patriótico. Por essa razão, a sua figura simboliza a união da Unidade Nacional, da paz, da dignificação dos angolanos, no plano interno e internacional”.

João Lourenço referiu ainda que, além da cor política ou das opções ideológicas de cada um, “o interesse nacional tem de estar acima dos interesses particulares ou de grupo para que prevaleça a defesa do bem comum”.

O novo Chefe de Estado angolano fez questão de salientar que o mais importante continua a ser resolver os problemas do povo e que isso “não se faz apenas com palavras mas sim com políticas públicas que respondam o melhor possível aos anseios e expectativas dos cidadãos, que implique uma aposta cada vez mais séria no setor social”.
Combate à corrupção e despesismo
No primeiro discurso como Presidente da República de Angola, João Lourenço deu ainda destaque ao combate à corrupção, ao despesismo, à aposta na juventude e ao investimento privado.

João Lourenço prometeu também um "reforço dos sistemas de controlo de atos ilícitos que possam descredibilizar o sistema bancário".

A par das metas económicas como a criação de emprego para a juventude e a promoção da iniciativa privada, João Lourenço traçou alguns objetivos sociais, como o reforço do sistema de educação e a elevação dos indicadores de saúde, com destaque para a redução da mortalidade materna e infantil.

“É necessário investir muito seriamente na educação dos jovens, na sua formação técnico profissional, ajustada às necessidades do mercado de trabalho e ao desenvolvimento do país (…) Apostar nos jovens é também investir em programas que promovam a melhoria da saúde reprodutiva, visando as taxas de mortalidade materna, infantil e infanto-juvenil e a prevenção precoce da gravidez das meninas e das infeções de transmissão sexual, em particular o HIV bem como a erradicação da influência de hábitos e costumes com efeitos sociais negativos”.

Entre as propostas apresentadas pelo novo Chefe de Estado sobressai também a opção por um Executivo "reduzido", ainda que a extensão do mesmo tenha ficado por concretizar.

João Lourenço prometeu ainda colocar a taxa de inflação em "níveis aceitáveis e controláveis", mas não adiantou que níveis são esses.


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