É praticamente incalculável o valor das vidas e dos danos materiais que a ocupação nazi custou à Grécia. Mas sabe-se muito bem quanto a Alemanha nazi tomou emprestado ao banco central grego: o equivalente a 10 mil milhões de euros.
Vítimas gregas da ocupação nazi
Represálias - 30.000
Deportações - 60.000
Fome
(só 1941-42) - 100.000
No início da ocupação, em Abril de 1941, Hitler acalentava ainda uma admiração pelo povo grego e pela sua cultura centenária, tendo recomendado para ele um tratamento respeitoso.
Mas, para a soldadesca nazi, estas recomendações eram mera literatura. E, para os povos dos Balcãs, eram recomendações que nada mudavam à natureza da ocupação. A resistência rapidamente se tornou um factor de perturbação da presença nazi. E o mesmo Hitler que emitira ao princípio as recomendações de contenção caucionava agora, explicitamente, em circular de 16 de Dezembro de 1942, o fuzilamento de mulheres e crianças como represália contra guerrilheiros que não fosse possível atingir.
Massacres e deportações
Sem ter chegado ao ponto de derrotar militarmente o ocupante, como acabaria por fazer a resistência jugoslava, o maquis grego infligiu-lhe pesadas perdas. Numa das suas acções, foram mortos 77 soldados alemães. Seguiu-se-lhe a acção de represália nazi de 13 de Dezembro de 1943, em que todos os homens adultos ou adolescentes maiores de 13 anos da aldeia de Kalavrytas foram abatidos a tiro. O resto da população foi queimada dentro da escola. Além disso, foram roubados todos os valores, gado e mantimentos e queimadas todas as casas da aldeia.
Massacre de Kalavrytas
(segundo relatório da Wehrmacht)
Mortos
Civis - 696
Guerrilheiros - 17
Gado apreendido
Carneiros - 1930
Vacas - 19
Cavalos - 28
Burros - 28
O major-general Le Suire festejou o massacre e o botim de guerra contra o que em diversas ocasiões classificava de "povo de porcos", comentando que "a operação trouxe um alívio sensível [das carências logísticas]".
Mas outras vítimas mortais da ocupação contribuiram também para "aliviar" os custos que o ocupante suportava. Assim, os judeus de Tessalónica fizeram em 1942 um acordo com o responsável do Conselho de Administração da Wehrmacht para a cidade, Max Merten, segundo o qual pagariam um resgate de 1.900 milhões de dracmas para serem isentados da deportação iminente. Merten começou por libertar 9.000 trabalhadores forçados judeus. Mas, pouco depois, mandou deportá-los todos para Auschwitz.
A história teve ainda um epílogo revelador. Merten, que nesse cargo fora responsável pela deportação de 50.000 judeus, e pela morte de 90 por cento deles, escolheu a Grécia, em 1957, como local de férias. Aí foi detido, julgado e condenado a 25 anos de cadeia.
O Governo democrata-cristão de Bona considerou a condenação uma ofensa grega e, na pessoa do secretário de Estado Karl Carstens, mais tarde chefe de Estado, lançou uma campanha de pressões sobre a Grécia, que terminou dois anos depois com a libertação do criminoso nazi. No regresso deste, o Estado alemão pagou-lhe uma compensação pelos dois anos que tivera de passar numa cadeia grega.
O empréstimo forçado
Para além de vários episódios como este, há uma dívida mais fácil de contabilizar e que foi, efectivamente, calculada pelas próprias autoridades de ocupação alemãs. O citado historiador Hagen Fleischer descobriu já há alguns anos um extenso memorando, datado do início de 1945, da autoria de peritos financeiros nazis e intitulado "Dívida do Reich para com a Grécia".
Esse memorando deixava, obviamente, de fora os massacres, deportações e pilhagens e referia-se apenas ao dinheiro que as autoridades de ocupação tomaram "emprestado" nos cofres do banco central grego entre 1942 e 1944: 476 milhões de reichsmark.
Fleischer sublinhou a este respeito o paradoxo: "O regime nacional-socialista reconhece a sua dívida, ao passo que os governos democráticos do pós-guerra nunca a tomaram em conta". Ainda segundo Fleischer, aquele montante equivale hoje a uns dez mil milhões de euros. Em 2012, uma assessoria científica do parlamento alemão calculou essa dívida em 8.250 milhões de dólares, incluindo juros. Uma peritagem grega calculou-a em 11 mil milhões.
Nem a grande dívida (referente aos massacres, deportações e pilhagens), nem a mais pequena (referente ao empréstimo forçado) foram alguma vez pagas à Grécia. Numa conferência realizada em Londres, em 1953, as potências vencedoras da Guerra protegeram a Alemanha contra reclamações dos antigos países ocupados e adiaram o pagamento das dívidas, apesar de tudo admitidas em abstracto, para depois de um tratado de paz.
Mas o tratado nunca chegou a existir. A actual argumentação do Governo de Berlim para recusar todas as pretensões gregas, é a de o dito tratado ter sido, alegadamente, substituído pelo acordo 4+2 (Estados Unidos, França, Reino Unido, União Soviética, acrescidas das duas Alemanhas), sobre a unificação alemã, concluído em 1990 e tacitamente aceite pela Grécia.
Para além dessa frágil invocação de um instrumento de direito internacional, a Alemanha escuda-se ainda em ter pago 115 milhões de marcos a vítimas gregas de perseguições nazis. Esse pagamento, efectuado em 1960, é, contudo, uma gota de água no oceano.