Olmert avisa que "cidade humanitária" seria campo de concentração para palestinianos

O ex-primeiro-ministro israelita Ehud Olmert afirma que a "cidade humanitária" que o Governo israelita quer construir sobre as ruínas de Rafah seria um campo de concentração e enviar os palestinianos para esta cidade constituiria uma limpeza étnica.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Ammar Awad - Reuters

“É um campo de concentração. Lamento dizer”, disse Olmert ao jornal britânico The Guardian.

O ministro israelita da Defesa, Israel Katz, anunciou na semana passada que tenciona construir uma “cidade humanitária” sobre as ruínas de Rafah, no sul de Gaza, para onde seria deportada toda a população de Gaza. Uma vez lá dentro, os palestinianos não terão permissão para sair, exceto para ir a outros países.

“Se eles [palestinianos] forem deportados para a nova cidade humanitária, então podemos dizer que isso faz parte de uma limpeza étnica. Até agora ainda não aconteceu”, disse Olmert, que foi primeiro-ministro de Israel entre 2006 e 2009.

“Quando constroem um campo onde [planeiam] limpar mais da metade de Gaza, a compreensão inevitável da estratégia disso [é que] não é para salvar [os palestinianos]. É para deportá-los, expulsá-los e descartá-los. Não há outra compreensão que eu tenha, pelo menos”, acrescentou.

Olmert apoiou, inicialmente, a ofensiva israelita contra o Hamas após os ataques de 7 de outubro de 2023, mas afirma que desde esta primavera, quando o Governo israelita abandonou “publicamente e de forma brutal” as negociações para um cessar-fogo, chegou à conclusão de que o seu país estava a comer crimes de Guerra.

“Estou envergonhado e com o coração partido”, disse. “[É] imperdoável. Inaceitável. Há operações contínuas organizadas, orquestradas da maneira mais brutal e criminosa por um grande grupo”, disse.
Israel admite “erro técnico” em ataque que matou sete crianças
No domingo, as forças israelitas mataram 95 palestinianos em Gaza, incluindo sete crianças perto de um ponto de distribuição de água potável no campo de refugiados de Nuseirat. O ataque atingiu um ponto de distribuição de água no campo de refugiados de Nuseirat, matando sete crianças e ferindo outras 17.

Israel reconheceu este incidente explicando-o como um erro ocorrido durante uma operação militar cuja responsabilidade, assegurou, está a ser investigada.

"As Forças de Defesa de Israel lamentam qualquer dano causado a civis não envolvidos", afirmou o exército israelita em comunicado, acrescentando que o míssil que atingiu o ponto de distribuição de água pretendia atingir um militante da Jihad Islâmica naquela zona.

O exército israelita diz ter atingido um membro da Jihad Islâmica, um grupo armado aliado ao Hamas, mas reconheceu que "as munições caíram a dezenas de metros do alvo" devido a um "erro técnico".

Horas depois deste ataque, 12 pessoas foram mortas por um ataque israelita a um mercado na Cidade de Gaza.
Trump espera que conflito esteja “resolvido” na próxima semana
Entretanto, as negociações para um cessar-fogo entre Israel e o Hamas permanecem num impasse, com ambos os lados a acusarem-se mutuamente de paralisar as negociações iniciadas há uma semana em Doha pelo Catar, Egito e Estados Unidos.

Apesar do impasse, o presidente norte-americano espera que o conflito esteja “resolvido” na próxima semana.

"Sobre Gaza, estamos a falar e esperamos que [conflito] seja resolvido na próxima semana", disse Donald Trump na noite de domingo, reiterando as suas declarações otimistas de 4 de julho. 
O enviado de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkoff, também disse estar "esperançoso" com as negociações de cessar-fogo em Gaza em curso no Catar.

Uma fonte palestiniana disse no sábado que as negociações para uma trégua estavam a encontrar "obstáculos" e que o Hamas rejeitou "totalmente" o plano israelita de manter as suas forças "em mais de 40 por cento de Gaza".

Uma segunda fonte palestiniana, no entanto, relatou "progressos" em questões relacionadas com a entrada de ajuda humanitária e a troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos.

"Israel demonstrou a sua disponibilidade para ser flexível nas negociações", retorquiu uma autoridade israelita citada pela AFP, acusando o Hamas de tentar "sabotar as negociações".

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse no domingo que Israel não iria recuar nas suas principais exigências: libertar todos os reféns que ainda estão em Gaza, destruir o Hamas e garantir que Gaza nunca mais será uma ameaça para Israel.

Desde o início do conflito, pelo menos 58.026 palestinianos, a maioria civis, foram mortos por Israel, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados credíveis pela ONU. Das 251 pessoas raptadas no ataque de 7 de outubro, 49 continuam reféns em Gaza, 27 das quais foram declaradas mortas pelo exército israelita.

c/ agências
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