OMS recomenda vacinação semestral para prevenção do HIV

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou, esta segunda-feira, a vacinação duas vezes por ano com o lenacapavir, um medicamento recentemente aprovado, como ferramenta para prevenir a infeção pelo HIV. A recomendação surge numa altura em que aumentam as preocupações em relação ao financiamento para o combate global do vírus da SIDA.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Em 2024, foram registadas 1,3 milhões de novas infeções por HIV Jakub Porzycki - NurPhoto via AFP

A recomendação, emitida esta segunda-feira na Conferência Internacional sobre a SIDA em Kigali, no Ruanda, surge quase um mês depois de a agência reguladora da saúde dos EUA (FDA - Food and Drug Administration) ter aprovado o mesmo medicamento, dando aos doentes uma nova esperança para travar a transmissão do vírus.

O injetável semestral oferece uma alternativa de ação prolongada aos comprimidos orais diários e outras opções de ação mais curta, remodelando a resposta à doença.

"Embora uma vacina contra o HIV seja ainda incerta, o lenacapavir é a melhor opção", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. O lenacapavir, da farmacêutica Gilead, foi aprovado em 2022 para tratar certas infeções por HIV e, em ensaios clínicos para prevenção, constatou-se que reduz drasticamente o risco de infeção e proporciona proteção quase total contra o vírus.

“A primeira recomendação é que um injetável de ação prolongada, o lenacapavir, seja oferecido como opção adicional de prevenção para pessoas em risco de HIV e como parte da prevenção combinada. Com isso, consideramos uma recomendação forte, com certeza moderada a alta das evidências”, disse Meg Doherty, diretora do Departamento de Programas Globais de HIV, Hepatite e Infeções Sexualmente Transmissíveis da OMS, em conferência de imprensa.

A OMS recomendou também uma abordagem de saúde pública para a testagem do HIV, utilizando testes rápidos que removeriam uma grande barreira de acesso, eliminando procedimentos complexos e dispendiosos.
Financiamento em estado crítico
A recomendação da OMS surge num momento crítico em relação ao financiamento para o combate global ao vírus da SIDA.

A ajuda internacional representa 80% dos programas de prevenção em países de baixo e médio rendimento, segundo as Nações Unidas, e os Estados Unidos são responsáveis por 73% de todos os recursos internacionais para a resposta à SIDA.Essa ajuda sofreu uma quebra depois de, nos último seis meses, os Estados Unidos terem reduzido significativamente o financiamento de grande parte da sua assistência externa.

A Administração Trump desmantelou a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, ou USAID, e reduziu o financiamento para o Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da AIDS (PEPFAR), que previa cerca de 4,3 mil milhões de dólares (3,67 mil milhões de euros) de "apoio bilateral" para este ano.

Na semana passada, a ONU partilhou um relatório onde alerta que podem ocorrer mais seis milhões de novas infeções por HIV e quatro milhões de mortes adicionais relacionadas com a doença até 2030 se os cortes nos fundos dos EUA persistirem.Em 2024, foram registadas 1,3 milhões de novas infeções por HIV.

“Não se trata apenas de um défice de financiamento, é uma bomba-relógio”, alertou a diretora executiva do programa das Nações Unidas de combate à SIDA (UNAIDS), Winnie Byanyima.

Na quarta-feira, a Gilead Sciences anunciou que fechou um acordo com a organização sem fins lucrativos Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária para fornecer lenacapavir sem lucros para a empresa.

“Estamos a fornecer o medicamento sem lucro para a Gilead e em quantidades suficientes para atingir até dois milhões de pessoas em países de baixo e médio-baixo rendimentos antes que o lenacapavir genérico esteja disponível”, disse o presidente e CEO da Gilead, Daniel O'Day, em comunicado à imprensa.

c/agências
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