A oposição indiana acusou hoje o primeiro-ministro e recandidato ao lugar, Narendra Modi, de comentários que estigmatizam os muçulmanos, alimentando tensões sectárias no país, que é constitucionalmente secular e está em pleno processo eleitoral.
Modi, nacionalista hindu do Partido Bharatiya Janata (BJP), está a fazer "o seu jogo habitual de dividir hindus e muçulmanos", acusou P. Chidambaram, antigo ministro das Finanças e membro influente do Partido do Congresso, o principal partido da oposição.
"O mundo está a observar e a analisar as declarações do primeiro-ministro indiano, que não são para a glória da Índia", acrescentou o responsável do Congresso.
Depois das vitórias em 2014 e 2019, Modi é o principal favorito à vitória nas eleições que terminam a 01 de junho, após mais de 40 dias de ida às urnas.
Na terça-feira, Modi apresentou a sua candidatura ao lugar que ocupa há uma década de deputado por Varanasi, cidade sagrada para os hindus no estado de Uttar Pradesh (norte).
A oposição e os defensores dos direitos humanos têm acusado Modi de favorecer os hindus, a maioria no país, em detrimento das grandes minorias, nas quais se incluem 210 milhões de muçulmanos.
Recentemente, Modi suscitou a indignação da oposição ao acusar o Congresso de querer distribuir a "riqueza nacional" pelos "infiltrados", "por aqueles que têm mais filhos", ou seja, pela comunidade muçulmana.
A oposição remeteu o assunto para as autoridades eleitorais, que não sancionaram o chefe do Governo da Índia, que é constitucionalmente laico. O código eleitoral proíbe qualquer campanha baseada em "sentimentos comunais".
Numa entrevista concedida na terça-feira ao canal de notícias News18, Modi negou ter alimentado e explorado quaisquer divisões entre hindus e muçulmanos.
"O dia em que começar a falar de hindus e muçulmanos será o dia em que perderei a minha capacidade de levar uma vida pública", afirmou em hindi.
No dia seguinte, num comício eleitoral, Modi acusou o Congresso de orquestrar uma "`jihad` através do voto" para que os muçulmanos votem contra ele.
No início desta semana, Madhavi Latha, atriz e candidata do BJP em Hyderabad (sul), quis verificar os cartões eleitorais das mulheres muçulmanas numa assembleia de voto, exigindo-lhes que retirassem o véu.
A polícia da cidade abriu um inquérito sobre o incidente.
Em sete fases, um total de 968 milhões eleitores indianos são chamados a eleger os 543 membros da câmara baixa do parlamento, o que representa mais do que a população total dos Estados Unidos, da União Europeia e da Rússia juntos.