Oposição timorense critica Governo e ambiente parlamentar e aponta problemas na Justiça

por Lusa
António Sampaio - Lusa

O Partido Democrático (PD) timorense disse hoje que o desmoronamento moral e cívico da sociedade é o "reflexo" de atos e comportamentos praticados no Parlamento Nacional, com confrontos "desnecessários e desorientados", ignorando o diálogo.

"O parlamento deixou de ser espelho para a nossa sociedade. Por isso, se hoje a nossa sociedade está a desmoronar-se moralmente e civicamente, não é porque a sociedade não é culta, mas é também o reflexo dos atos praticados neste Parlamento Nacional", disse o deputado António Conceição, numa intervenção na abertura da 5.ª sessão legislativa desta legislatura.

Num discurso muito crítico, Conceição disse que o Parlamento Nacional deixou de ser um "espaço parar promover diálogos, harmonizar políticas que orientam para o consenso e sustentar o governo na realização dos programas de desenvolvimento".

Muitas vezes, disse, "o Parlamento Nacional transformou-se num espaço de confrontos desnecessários e desorientados, espaço para elogiar individualidades e espaço de críticas cegas e de elevada arrogância, ocultando o seu próprio interesse ou o interesse do seu grupo, espaço para desmistificar e descaracterizar dignidade de líderes".

Neste quadro, Conceição manifestou-se otimista que 2023 -- ano de eleições legislativas -- mostre "um novo ambiente" apostando no diálogo e no rumo unido para a melhoria do país.

O deputado do PD deixou igualmente críticas ao Governo, apesar de reconhecer que teve que atuar num período difícil, "de muita turbulência política, começando pela crise política encarada com um governo incompleto", e agravado pela pandemia e por desastres naturais, com muito do que foi destruído em abril do ano passado ainda por reconstruir.

"Não foi um período fácil, mas já teve um custo quase sete mil milhões de dólares tirados do nosso fundo soberano. Mesmo assim é de reconhecer que pouco foi feito para dar valor a este montão de dinheiro neste curto período de apenas quatro anos", disse.

"Mas também aceito que não e fácil governar especialmente nesta nossa situação peculiar que atravessamos", vincou.

Entre outros aspetos criticou o tratamento dado a funcionários públicos contratados, referindo o o afastamento de alguns "sem terem salários pagos".

"O caso dos contratados no Ministério da Educação, desmistificou as honrosas palavras que o senhor primeiro-ministro proferiu nesta casa magna, de que não iria tirar pão de um. Porque se o fizesse tiraria de uma família e como tal tiraria pão das mãos de uma criança", disse.

"As suas palavras foram muito bem apreciadas pela grandeza e sensibilidade humana. Porém, estas suas palavras foram apenas palavras de consolação e de conforto aos aflitos.  Muitos dos seus governantes tiravam pão das mãos de pobres crianças sem terem o mínimo sentimento humano como pessoa que tem coração", acusou.

Conceição referiu-se às promessas das legislativas de 2018, acusando governantes de continuar a fazer promessas "como se ainda estivessem na campanha", afirmando que é bom "ser um homem de ideias, mas muito melhor é ser um homem de ações".

Em nome da maior bancada da oposição, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), o deputado Óscar de Araújo criticou "a fraca capacidade de execução do Governo, apesar de elevados Orçamentos Gerais do Estado (OGE)", levando "a economia a recuar, o emprego a aumentar e a inflação a crescer, afetando as condições de acesso da população aos bens essenciais".

Araújo referiu-se ainda a problemas na ação do setor da Justiça, acusando os políticos de procurarem meios para travar investigações a crimes de corrupção, permitindo assim "o roubo de dinheiro ao povo, milhão a milhão, com gastos sem sentido".

"Apelo aos políticos de todas as forças políticas para colocarem os interesses do Estado e da nação acima dos interesses individuais e partidários", afirmou.

O CNRT, disse, "considera essencial reformar o setor para garantir uma Justiça justa para todos os cidadãos, e que trate todos de forma igual", sendo essencial reforçar a consolidação do Estado e nação e trabalhar para que Timor-Leste seja um país economicamente sustentável".

 

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