Em entrevista exclusiva ao Jornal 2, o responsável pelas relações exteriores do governo regional da Catalunha afirma que "48 horas depois de publicados os resultados, se vencer o "sim", o Parlamento fará uma declaração de independência". Raúl Romeva garante ainda que o referendo à independência da região mais rica de Espanha vai mesmo ser realizado no próximo domingo.
Se o "sim" vencer no domingo será ativada a lei de transitoriedade "que aspira a que se iniciem as negociações, com o Estado espanhol, mas também com os outros países da União Europeia, para que se chegue a uma normalidade institucional".
A lei da transitoriedade, aprovada pelo Parlamento catalão para estabelecer os passos para a criação efetiva de um estado independente, foi suspensa pelo Tribunal Constitucional espanhol por um período de cinco meses.
Até ao início do próximo ano, os juízes querem avaliar em profundidade se a legislação é conforme às normas espanholas ou, se violando a Constituição do país, não pode ser considerada um instrumento capaz de sustentar o referendo e as suas consequências.
Até que os juízes decidam, a polícia tem ordens impedir a consulta popular, apreender todo e qualquer material de campanha, identificar ou mesmo deter quem a está a facilitar e organizar a consulta e encerrar todos os locais de voto.
Em entrevista exclusiva ao Jornal 2, o responsável pela relações exteriores do governo regional recorda que os números jogam a favor de quem quer votar e não das autoridades de Madrid.
"Há 900 municípios e mais de duas mil assembleias de voto. Quem as vai encerrar todas? É impossível", afirma. Raul Romeva garante por isso que os sete milhões e meio de catalães vão mesmo poder votar no próximo dia 1 de outubro.
"Votar não é um delito"
Na entrevista ao Jornal 2, Romeva deixa também uma espécie de recado às polícias: "Votar não é um delito, nem em Espanha, nem em nenhum país europeu".
O responsável político espera no entanto que existam incidentes e que muitos sejam efetivamente impedidos de votar. "Mas isso não invalida que a consulta seja válida", esclarece. "No final do dia teremos que analisar como correu a votação. Teremos que avaliar o número de incidentes", afirma Romeva, antes de recordar que "em todas as eleições há incidentes".
"Há uma vontade democrática, e pacífica, de fazer o referendo. A ordem (de encerramento das assembleias de voto) demonstra apenas a falta de espírito democrático por parte do Estado", considera o governante catalão.
O responsável político lembra que o movimento que suporta a consulta popular (que Barcelona considera ter caráter vinculativo) é absolutamente pacífico pelo que não existe qualquer possibilidade de confrontos violentos com as polícias ou os adeptos do não.
Nesta entrevista, Romeva garante ainda que existiram já conversações com as autoridades da União Europeia para viabilizar o referendo de dia 1 de outubro, enquadrando-o.
"Conversámos com toda a gente. Explicámos muito pormenorizadamente a nossa posição, e como chegámos aqui. Da parte de Madrid nunca houve vontade de dialogar, de nos sentarmos à mesa", afirma.
Romeva defende ainda que "este não é um problema catalão, é um problema europeu". "Há dois milhões de cidadãos europeus que já disseram querer a independência (na consulta popular de 9 de novembro de 2014) e mais de 80 por cento da população é a favor de um referendo", sublinha o responsável do governo de Carles Puigdemont.