Passeio simbólico? Kim Jong-un andou de cavalo branco numa montanha sagrada

por Andreia Martins - RTP
KCNA/EPA

A agência estatal norte-coreana KCNA lançou esta quarta-feira um conjunto de fotografias que mostram Kim Jong-un a andar num cavalo branco na montanha de Paektu, um local considerado sagrado na Península Coreana. Os conselheiros do líder norte-coreano acreditam que haverá "uma grande operação" em breve, uma vez que as viagens à montanha antecipam grandes mudanças e esforços políticos.

As fotografias mostram Kim Jong-un num cenário pitoresco. Em cima de um cavalo, entre árvores, numa montanha pintada de branco. Paektu, que aqui surge coberta de neve, é o ponto mais alto da Península Coreana e um local incontornável para ambas as Coreias.

A montanha, um vulcão ativo, situado na fronteira entre a China e a Coreia do Norte, é considerado sagrado uma vez que, segundo a mitologia coreana, foi o local de nascimento de Dangun, fundador do primeiro reino coreano há cerca de 4.000 anos.

Paektu continua a ser um ponto de grande relevância para Seul e Pyongyang, constando nos hinos nacionais dos dois países. É um local de peregrinação e, para a Coreia do Norte, o país assume ainda maior relevância, uma vez que Kim Il-sung - avô de Kim Jong-un e fundador do país - usou estas mesmas montanhas como refúgio durante a ocupação japonesa.

Mas o passeio e a divulgação das imagens não terá surgido por acaso. Vários conselheiros do líder norte-coreano, citados pela agência KCNA, consideram que este foi um sinal de que haverá em breve “uma grande operação” que vai “abalar o mundo” e “dar um passo em frente na revolução coreana”, sem esclarecerem qual seria a operação em causa. 

EPA/KCNA

Para especialistas em questões relacionadas com a Coreia do Norte, o passeio simboliza a posição de força em que Kim Jong-un se quer colocar perante as sanções internacionais e uma oposição perante a pressão sentida no que respeita ao programa nuclear e os programas de mísseis balísticos.

“Foi uma declaração simbólica, de desafio. O objetivo de reduzir as sanções acabou. Nada ficou explícito, mas começou por se definir novas expetativas sobre o caminho político para 2020”, considera Joshua Pollack, especialista em assuntos norte-coreanos do Middlebury Institute of International Studies, na Califórnia, em declarações à agência Reuters.

Brian Reynolds Myers, especialista em propaganda norte-coreana e professor na Universidade Dongseo, na Coreia do Sul, sublinha, em declarações à agência France Presse, que as imagens de Kim Jong-un a cavalo entre a neve evocam o tema imperial de um líder forte que protege a "pureza da nação" de forças corruptas externas. 

No passado, Kim Jong-un visitou Paektu dias depois de a Coreia do Norte ter lançado o maior míssil balístico intercontinental, no final de 2017. No ano seguinte, em 2018, aquando das conversações de paz, Kim Jong-un levou o Presidente sul-coreano a visitar o local. Desde a separação das Coreias, no final da II Guerra Mundial, Moon Jae-in foi o primeiro líder do sul a realizar essa viagem. 

Reuters

Agora, esta ação por parte da liderança norte-coreana surge no contexto de tensões crescentes na Coreia do Norte após tentativas de aproximação e apaziguamento entre Pyongyang, Seul e Washington desde o início de 2018.

No início do mês de outubro, os norte-coreanos anunciaram o lançamento de um novo míssil balístico a partir de um submarino, ação que foi considerada uma provocação, uma vez que várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas proíbem este tipo de lançamentos.

Dias depois, Pyongyang decidiu cancelar as conversações em curso com os Estados Unidos. "As negociações não cumpriram a nossa expetativa e foram interrompidas", afirmou Kim Myong Gil, principal negociador nuclear da Coreia do Norte.

Alguns especialistas antecipam com base nas declarações recentes que a Coreia do Norte pretende afirmar-se no plano económico perante as sanções internacionais, suspeitando-se que o país poderá estar a um passo de conseguir um lançamento espacial, algo que permitiria a Pyongyang afirmar-se a nível tecnológico e económico.

(com agências internacionais)
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