Paz na Síria volta a Astana e a Genebra

Duas novas rondas de conversações de paz na Síria estão a ser preparadas para os próximos dias, a primeira em Astana, Cazaquistão, e a segunda em Genebra, sob a égide da ONU. Ambas preparadas por diferentes grupos e com diferentes objetivos, mas não de costas voltadas.

Graça Andrade Ramos - RTP /
O descanso dos guerreiros: militantes de um grupo armado contra o Governo de Damasco apoiado pela Turquia numa pausa dos combates pela cidade síria de al-Bab. Khalil Ashawi - Reuters

O regresso às conversações de paz em Astana, capital cazaque, poderá dar-se já dias 15 e 16 de fevereiro, de acordo com o ministério dos Negócios Estrangeiros do Cazaquistão.

Logo após as conversações de Astana, deverão recomeçar dia 20 as conversações apoiadas pelas Nações Unidas em Genebra.

As primeiras procuram cimentar um cessar-fogo já em vigor e estendê-lo a toda Síria sem excepção, antes de iniciar o diálogo político, as segundas procuram uma solução política que abra caminho à paz.

Os promotores de Astana, Damasco, Irão e Rússia, têm afirmado que ambas as vertentes de diálogo são necessárias.

"Estamos a preparar um novo contacto entre o Governo e a oposição armada e tentamos associar outros grupos. Os jordanos estão a ajudar-nos", referiu domingo o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov.

"Não tentamos substituir aos esforços da ONU", acrescentou Lavrov, "pois em paralelo com o processo de Astana, que entendemos manter, preparamos as negociações sob a égide da ONU".

Os objetivos da ONU, de conciliar todas as partes, parecem mais complicados de alcançar, já que até o entendimento interno da oposição síria parece impossível.

O principal grupo de oposição da Síria, o HCN, apresentou a lista de 21 membros da sua delegação às conversações de Genebra.

Mas outros grupos recusaram a sua tutela, como o grupo de Moscovo, que inclui o ex-ministro Qadril Jamil, e o grupo do Cairo, formado por opositores independentes incluindo o ex porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Jihad Makdissi.A chefia da delegação da mais delegação da oposição síria, o HCN, foi entregue ao advogado Mohammad Sabra, próximo da Turquia e líder do partido al-Joumouhariya, formado em 2014. Sabra substitui Mohmmad Alluch, representante do Jaich al-Islam e agora ausente.

Num mau sinal, o Jiash al-Islam, um dos mais poderosos grupos armados da Síria estabelecido na zona de Damasco e que participou nas primeiras reuniões tanto em Genebra como em Astana, abstem-se agora de quaisquer conversações.

A primeira ronda de Paz em Astana, que decorreu em janeiro, encerrou os trabalhos sem soluções concretas mas consolidou um cessar fogo declarado após a reconquista de Alepo por parte das forças governamentais e que se tem mantido praticamente em toda a Síria.
Troca de prisioneiros
Já esta manhã o Governo sírio anunciou que está preparado para trocar prisioneiros detidos nas suas prisões por pessoas "raptadas por grupos terroristas", afirmou a televisão estatal síria citando fontes oficiais.

O flash noticioso da televisão estatal síria al-Ikhbariya afirma que o Governo de Bashar al-Assad está "sempre pronto" para a troca de prisioneiros, "particularmente no quadro dos esforços realizados para o próximo encontro em Astana".

Este mês, o Governo sírio e grupos armados trocaram dezenas de mulheres prisioneiras e reféns, algumas delas com filhos, na província de Hama no nordeste da Síria.

A grande exceção à paz na Síria é o nordeste, onde tropas turcas e membros dos grupos de oposição a Damasco apoiados por Ancara, têm combatido forças do grupo Estado Islâmico.

A Turquia já disse que está prestes a tomar ali a cidade de al-Bab e que está pronta a avançar sobre Raqqa, o bastião do Estado Islâmico na Síria.A operação turca na Síria, denominada "Escudo do Eufrates", salda-se já pela morte de 67 soldados, referiu a agência de notícias Dogan.

Este domingo no aeroporto de Istambul o Presidente turco, Reccep Tayyip Erdogan, referiu aos jornalistas que a queda de al-Bab, uma vila de 100.000 habitantes a sudoeste de Alepo, perto da fronteira sírio-turca e dominada pelos islamitas em 2014, estava iminente.

"Al-Bab está cercada por todos os lados", declarou. "As nossas forças estão no centro e a conquista da cidade é uma questão de tempo", referiu Erdogan, acrescentando que os combatentes do EI "iniciaram a sua retirada total de al-Bab".
Novo alvo: Deraa
A cidade está também a ser atacada por forças governamentais sírias, pelo sul, que deverão deter-se na periferia, junto à linha de demarcação com o Exército Síria Livre, fixada com os turcos.

Os combates por al-Bab são mais intensos a norte mas dão-se igualmente a oeste e a sudoeste, afirmou entretanto o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, OSDH.

Grupos armados lançaram entretanto uma ofensiva contra a cidade meridional de Deraa, que foi rechaçada, de acordo com a agência oficial de notícias Sana. Um adulto e uma criança morreram e nove outros civis ficaram feridos por disparos.

Pelo menos 15 militantes islamitas e dois suicidas do grupo Fateh al-Sham morreram domingo nos ataques assim como seis soldados leais a Damasco e seus aliados reportou a OSDH.
PUB