Pentágono renova presença dos EUA na Alemanha com novas estratégias de combate

por Graça Andrade Ramos - RTP
Os ministros da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin e da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, cumprimentam-se na visita daquele a Berlim, a 13 de abril de 2021 Reuters

Os Estados Unidos da América vão estacionar mais cerca de 500 militares na Alemanha, para formar ali duas novas unidades táticas, incluindo um batalhão especializado em mísseis, guerra em inteligência artificial, em espaço e ciberespaço (I2CEWS) e combate de longo alcance.

As duas unidades serão “uma Força-Trabalho Multi Domínio [MDTF na sigla em inglês] e um Comando de Teatro de Tiro”, referiu o comunicado das Forças Armadas dos EUA, e representam a face europeia da nova estatégia global operacional a implementar pelo Pentágono.

A MTDF será uma unidade de combate, enquanto o Comando de Teatro de Tiro será um novo tipo de quartel-general do Exército norte-americano, necessário para coordenar ataques com mísseis de longo alcance, a distâncias muito superiores às capacidades de controlo e comando dos quartel-generais tradicionais.

O anúncio foi confirmado pelo secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, durante uma visita a Berlim, onde se reuniu com a sua homóloga, Annegret Kramp-Karrenbauer. "Hoje posso anunciar com satisfação que vamos aumentar a presença das forças americanas na Alemanha", declarou Austin em conferência de imprensa junto a Kramp-Karrenbauer, após uma reunião no Ministério de Defesa alemão. "Cerca de 500 militares americanos suplementares" serão colocados na região de Wiesbaden (oeste) "a partir do Outono", acrescentou.

Serão ainda mantidas três bases militares norte-americanas já existentes na Alemanha, a Estação Mainz Kastel e o Alojamento Mainz em Mainz-Kastel, e o Complexo Dagger, em Darmstadt.

O anúncio do reforço militar norte-americano inclui-se numa estratégia mais vasta e anterior, mas coincide com o recente envio de 40 mil tropas russas para a fronteira com a Ucrânia.

Putin tem garantido que "não há motivos de preocupação". Sinal de que nem os europeus nem os norte-americanos se deixaram sossegar, os secretários de Estado e da Defesa da nova Administração de Joe Biden, Antony Blinken e Lloyd Austin, viajaram para a União Europeia, para uma reunião com os responsáveis da NATO e uma reunião por videoconferência com os seus homólogos da Aliança, precisamente sobre as manobras russas e a nova estratégia conjunta para o Afeganistão.

O presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou também esta terça-feira a retirada "sem condições" de todas as tropas norte-americanas do Afeganistão até 11 de setembro o mais tardar, quando passam 20 anos dos ataques às Torres Gémeas em Nova Iorque e do atentado ao Pentágono.

Joe Biden apelou entretanto ao presidente russo Vladimir Putin para que "baixe as tensões na Ucrânia", juntando a sua voz aos avisos firmes de vários líderes europeus.
Renovação operacional para novas estratégias
As duas novas unidades norte-americanas a estacionar na Alemanha pretendem responder sobretudo aos desafios colocados pelas novas tecnologias e preparar terreno para futuros teatros de confronto, como o Espaço e guerra electrónica.

A MDTF irá incluir tiro de artilharia, defesa conjunta de mísseis ar e terra, informações, ciberespaço, guerra eletrónica e Espaço, aviação e elementos de apoio à brigada. O Comando de Teatro de Tiro irá melhorar a prontidão e a inter operacionalidade através da integração de artilharia em exercícios e operações conjuntas e multinacionais, em apoio ao exército norte-americano na Europa e em África”, revelou o Pentágono. O MDTF deverá ser ativado em 16 setembro de 2021 e o Comando de Teatro de Tiro um mês depois.

O Comando de Teatro de Tiro e a MDTF Europa irão capacitar as forças armadas norte-americanas na Europa e em África de forma a sincronizarem ataques conjuntos e efeitos, controlar futuros projéteis de longo alcance em todos os domínios e criar na Europa mais capacidade de combate no Espaço, ciberespaço e na guerra eletrónica”, referiu o coronel Joe Scrocca, porta-voz do novo Quartel-general dos EUA para a Europa e África, que recentemente fundiu num só os comandos para aquelas duas áreas.

“Combinados, irão estacionar cerca de 500 soldados, 35 posições nacionais e 750 famílias na Guarnição norte-americana de Wiesbaden”, precisa o texto, que detalha o esforço de adaptação operacional para as duas unidades e agradece a cooperação dos aliados europeus, nomeadamente da Alemanha.

Espera-se que parte das forças norte-americanas já presentes na Alemanha seja integrada nas duas unidades.
MDTF, a unidade operacional dos novos tempos
A decisão, anunciada esta terça-feira inclui-se na nova estratégia militar da Administração Biden, que reverte parcialmente a do antecessor. Donald Trump planeava retirar 12.000 tropas da Alemanha, depois de Berlim ter falhado o objetivo NATO de investir dois por cento do seu PIB em Defesa. O plano foi suspenso em fevereiro pelo novo Presidente e agora descartado.

A MDTF Europa é apenas uma de cinco novas unidades do mesmo tipo incluídas na estratégia militar norte-americana para um futuro próximo.

Além desta, o Pentágono planeia criar mais duas no Pacífico, uma no Ártico e uma quinta para “resposta global”.

A primeira MTDF foi criada há três anos em Fort Lewis, baseada numa brigada de artilharia pré-existente mas alargada extensivamente para respostas de altas-tecnologias. Tem participado em diversos exercícios no Pacífico, com diversos comandos a sublinharem as suas capacidades para “mudar o jogo”.

a criação do novo Comando de Teatro de Tiro tem sido alvo de alguma controvérsia, com os detratores a argumentar que a frota de bombardeiros dos EUA cumpre já a mesma tarefa com resultados comprovados.

Os apoiantes da ideia consideram que o Comando abre o leque de opções operacionais e é um sinal de confiança nas capacidades do exército.
Arsenais e Orçamento
A Rússia e a China já incluem nos seus arsenais mísseis guiados de alta precisão com alcance de centenas e milhares de quilómetros.

Em resposta, o exército norte-americano está a desenvolver os novos 300-plus-mile PrSM (Precision Strike Missile), o 1.000-mile MRC e o LRHW hipersónico, cujo alcance é classificado mas deverá ser intercontinental. O PrSM será lançado a partir de lança-mísseis HIMARS já existentes, os outros de lançadores especializados e maiores.

Todas estas armas entrarão ao serviço, como protótipos, em 2023 e serão incluídas no arsenal das MTDF. O Comando de Teatro de Tiro irá coordenar os ataques de longo-alcance.

As decisões das chefias militares norte-americanas terão de se adaptar entretanto a um novo cenário. A Administração Biden decidiu incluir o orçamento das Operações de Contingência Externas no Orçamento geral para 2022, como parte do esforço de redução da presença no terreno de milhares de tropas norte-americanas sob responsabilidade do Comando Central.
pub