O alerta veio de um grupo de cientistas norte-americanos e refere-se ao Ad5, vetor utilizado por vários produtores de vacinas para transportar o material genético de forma a induzir uma resposta do sistema imunitário.
Durante a fase 2 dos testes clínicos surgiram indícios de que o próprio Ad5 teria tornado alguns homens mais vulneráveis àquela estirpe do VIH.
“Preocupa-nos que o uso de um vetor Ad5 para imunização contra o SARS-CoV-2 possa da mesma forma aumentar o risco de contágio por VIH-1 entre os homens que a recebam”, afirmam os autores da carta.
“A entrega de uma vacina efetiva contra o SARS-CoV-2 poderia ser dada a populações em risco de contrair o VIH, o que poderia potencialmente agravar o risco de infeção pelo VIH-1”, escreveram.
“Esta importante salvaguarda deveria ser avaliada em profundidade antes de quaisquer desenvolvimentos de vacinas Ad5 contra o SARS-CoV-2 e documentos de consentimento informado destes riscos potenciais deveriam incluir a literatura considerável sobre o contágio com VIH-1 através de vetores Ad5”, recomendam os investigadores.
Ad5 é a sigla de referência da variante inócua de adenovírus recombinado tipo 5 - que poderá, afinal, ser mais perigosa para algumas pessoas do que o antecipado.
“O modo como a vacina Ad5 da Merck aumentava o risco de transmissão do VIH nos [testes clínicos] STEP e Phambili mantém-se nebuloso”, escreveu John Cohen, na revista Science, em relação ao aviso.
“O editorial da Lancet aponta várias possibilidades, incluindo a diminuição da imunidade ao VIH, o aumento da replicação do vírus do SIDA ou a criação de mais células vulneráveis ao vírus”, refere Cohen, o que permitiria ao VIH disseminar-se no corpo muito mais rapidamente.
Atentos
Buchbinder é professora na Universidade de São Francisco, na California e dirige a área de pesquisa preventiva do VIH do Departamento de Saúde Pública da mesma cidade.
Tanto ela como os seus colegas estiveram envolvidos nos testes da vacina anti-VIH e conhecem bem os efeitos colaterais, exatamente opostos àquilo que procuravam conseguir. A sua vacina mais promissora deixou as pessoas ainda mais vulneráveis à doença do que anteriormente.O vetor é o método através do qual uma vacina chega ao alvo. Um dos mais comuns na pesquisa médica é um adenovírus modificado geneticamente. Os adenovírus causam habitualmente doenças oculares e do foro respiratório.
Várias das vacinas atualmente em desenvolvimento contra o SARS-CoV-2 usam adenovírus como vetores do código genético das proteínas do coronavírus, para treinar o sistema imunitário a reconhece-lo e a combate-lo.
A maioria destas variantes recombinadas de adenovírus não aumenta os riscos de contrair SIDA. Mas, já em 2014, o próprio médico imunologista Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional dos EUA para as Doenças Alérgicas e Infeciosas, alertava contra a utilização do Ad5 em vacinas a distribuir em áreas afetadas pelo VIH, sem dúvida por estar a par dos resultados dos testes referidos acima.
As empresas afirmam estar cientes do problema e garantem ter tomado providências quanto aos riscos durante o desenvolvimento das vacinas.
A Immunity Bio, que está a testar a sua vacina na Califórnia, antes da próxima fase marcada para a África do Sul, afirma por exemplo que foram aplicadas mutações genéticas ao seu Ad5.
Vários testes de vacinas anti-Covid-19 tiveram de ser suspensos devido a casos de reação adversa que, num caso, levou à morte.