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Pista do Estado Islâmico. Investigação ao ataque de Bondi foca-se em viagem às Filipinas
Os dois suspeitos do ataque terrorista na praia de Bondi, em Sydney, na Austrália, terão viajado para as Filipinas em novembro.
A informação é avançada esta terça-feira pela Polícia de Nova Gales do Sul. “Posso confirmar que viajaram para as Filipinas”, afirma o comissário da Polícia de Nova Gales do Sul, Mal Lanyon. As razões para a viagem “estão sob investigação até ao momento”.
O Gabinete de Imigração das Filipinas confirmou que os dois suspeitos chegaram a Manila a 1 de novembro, tendo o pai Sajid Akram viajado com um passaporte indiano e o filho Naveed Akram com o passaporte australiano.Dirigiram-se até Davao, na região de Mindanao, no sul do país, tendo regressado à Austrália a 28 de novembro, via Manila.Embora não sejam conhecidos os motivos da viagem, nem se esta serviu para a preparação do ataque em Sydney, a pertinência prende-se com o facto de o sul das Filipinas ser uma região que alberga grupos islamitas e células do Estado Islâmico, como o Abu Sayyag, que estiveram na origem da crise de Marawi, em 2017.A crise de Marawi de 2017 teve origem numa revolta liderada pelo grupo Abu Sayyaf, após uma operação militar do exército filipino para capturar o seu líder, Isnilon Hapilon. Ao longo dos 150 dias da crise, mais de mil pessoas morreram e 350 mil fugiram da cidade. A crise terminou com a vitória do exército filipino, a quase destruição dos grupos islâmicos e as mortes de mais de 800 militantes.
No entanto, ainda está por confirmar se existe alguma ligação entre os suspeitos do ataque e os grupos terroristas.
Em declarações ao jornal britânico The Guardian, o professor Clarke Jones, da Universidade Nacional da Austrália, especialista em radicalização prisional, afirma que é “difícil para turistas receberem formação de grupos terroristas”, devido ao perigo e às dificuldades geográficas da região.
Jones lembra, ainda, a existência de grupos militares privados não-extremistas a operar no território e as ligações entre os serviços secretos australianos e filipinos que poderiam “descobrir o que a dupla estaria a fazer durante a viagem”.
Por outro lado, Levi West, especialista em contra-terrorismo da Universidade Nacional da Austrália, assume que “um suposto terrorista poderia viajar para lá para se entregar a uma espécie de última farra antes de voltar e entrar em modo de preparação".
Ponto de situação
O ataque na praia de Bondi está a chocar a Austrália e o mundo. Os últimos dados dão conta de 16 mortos – incluindo um dos suspeitos Sajid Akram - e 42 feridos, incluindo Naveed Akram, que já saiu do coma.Foram avançadas novas informações nas últimas horas, que incluem a presença de duas bandeiras feitas à mão do Estado Islâmico e de explosivos improvisados no carro conduzido até ao local do crime, registado em nome de Naveed Akram.
As autoridades, incluindo o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, acreditam que o ataque possa ter sido “inspirado pelo Estado Islâmico”, mas ressalvam que as ações estão “alinhadas com uma organização terrorista, não [com] uma religião”, sendo importante ressaltar a condenação das organizações muçulmanas australianas ao ataque.
Além disso, novas imagens confirmam que duas pessoas tentaram imobilizar os atacantes. Um deles morreu no local e o outro, Ahmed Al Ahmed, o vendedor de fruta de Sydney.
Al Ahmed tem sido homenageado pela população e pelos líderes políticos australianos e da Nova Gales do Sul como um “herói”. O vendedor de fruta correu em direção a um dos atiradores, conseguindo retirar-lhe a espingarda, algo descrito pelas autoridades como tendo evitado uma tragédia maior. Foi alvejado no ombro e encontram-se agora fora de perigo.
Desde o ataque que se têm multiplicado as homenagens, destacando-se uma recolha de fundos para apoiar Ahmed, que já arrecadou dois milhões de dólares, e a deposição de flores e mensagens em frente à sua loja, em Sutherland, nos subúrbios de Sydney.
O ataque fez com que a restrição ao porte de arma voltasse a ser tema na agenda política, com o primeiro-ministro a ponderar introduzir novas regras como a limitação do número de armas por indivíduo, o uso da inteligência criminal – em vez de apenas registo criminal – e a limitação da licença de porte de arma a cidadãos australianos.