"Plano de paz". Kiev receia consequências da visita de Xi Jinping à Rússia

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

A visita do presidente chinês à Rússia, esta semana, é vista com alguma apreensão por parte do Ocidente e, principalmente, pela Ucrânia, que receia que o encontro de Xi Jinping com o presidente russo termine com um acordo de fornecimento de armas ao aliado estratégico. Mencionando o "Plano de Paz" da China, Kiev insiste na "retirada" das forças de Moscovo do território ucraniano.

"Fórmula para a realização bem-sucedida do Plano de Paz chinês. A primeira e principal cláusula é a rendição ou retirada das forças de ocupação russas do território ucraniano" a fim de "restaurar a soberania" e a "integridade territorial" da Ucrânia, escreveu no Twitter o secretário do Conselho de Segurança da Ucrânia, Oleksiy Danilov.


A China está a tentar posicionar-se como um possível mediador no conflito na Ucrânia, sem condenar ou apoiar explicitamente a Rússia. No final de fevereiro, Pequim publicou um documento de 12 pontos no qual apelava a que Moscovo e Kiev "cessassem as hostilidades" e realizassem negociações de paz. Mas, ao contrário do que a Ucrânia e o Ocidente pedem, não menciona a retirada das tropas russas do território ucraniano, propondo, por outro lado, o fim das sanções "unilaterais" contra a Rússia.

Por esse motivo, Kiev assiste com receio à chegada de Xi Jinping a Moscovo esta segunda-feira, especialmente porque teme que Pequim, aliado estratégico da Rússia, possa decidir entregar armas à Rússia e agravar a situação no território ucraniano.A esperança da Ucrânia está na pressão dos aliados ocidentais sobre a liderança chinesa.

"As expectativas da Ucrânia estão num nível mínimo: para que as coisas não se deteriorem", disse à AFP Sergiy Solodky, vice-diretor do centro de estudos New Europe Center, em Kiev.

"A Ucrânia vai acompanhar esta visita de perto", disse imprensa internacional um alto funcionário ucraniano. "Para nós é extremamente importante que a China mantenha a sua política de respeito inabalável pela integridade territorial dos outros países".

Embora os Estados Unidos já tenham acusado, em fevereiro, a China de estar a fornecer "armamento não letal" à Rússia, as autoridades ucranianas minimizam a probabilidade de apoio militar chinês a Moscovo.

"A China não será cúmplice da Rússia", afirmou Danilov, numa entrevista à AFP.

Já esta segunda-feira, o Governo chinês voltou a negar que tenciona fornecer armamento à Rússia, depois de a imprensa norte-americana ter indicado que Pequim está a considerar enviar artilharia e munições para Moscovo.

O porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, afirmou que “não é a China” que fornece armas, mas sim os EUA, e aconselhou Washington a “parar de colocar lenha na fogueira e apontar o dedo a outros países e coagi-los”.

Os países ocidentais rejeitaram o documento proposta pelo Governo chinês, mas o presidente ucraniano, que evita aumentar a tensão com Pequim, disse que "precisamos de trabalhar com a China".

Apesar das conversas esporádicas entre os ministros chinês e ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Volodymyr Zelensky ainda não falou com Xi Jinping desde o início da invasão russa. De acordo com a imprensa norte-americana, pode haver conversações entre Kiev e Pequim, depois da visita chinesa à Rússia, mas não se espera "nenhum avanço".
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