PM francês recebe jovens de bairros problemáticos

O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, recebeu uma quinzena de jovens para tentar encontrar soluções para resolver os problemas que afectam os bairros problemáticos, ao mesmo tempo que a violência voltava pelo nono dia consecutivo.

Agência LUSA /
EPA

Desta vez não foi preciso esperar pela noite para que os actos de violência regressassem, com vários veículos a serem queimados perto da câmara municipal e de um centro comercial em Bobigny.

Nesta mesma localidade dos arredores de Paris, uma trintena de presidentes da câmara de cidades do departamento de Seine-Saint Denis, o mais afectado pela guerrilha urbana, reuniram-se hoje para tentar apelar à calma.

Confrontado perante a crise mais grave desde que assumiu as rédeas do Governo em Junho, Villepin multiplica-se em reuniões para encontrar formas de estancar a onda de distúrbios, depois de uma noite particularmente violenta, com uma mulher gravemente ferida, mais de 500 viaturas incendiadas e 78 pessoas detidas.

Perante o agravamento da crise, o primeiro-ministro reuniu-se com o seu ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, cuja linguagem "guerreira" suscitou fortes críticas e levou mesmo vários políticos de esquerda a reclamar a sua demissão, No entanto, Villepin cerrou fileiras com Sarkozy para evitar que a crise das ruas se estenda até ao interior do Governo, isto apesar dos dois figurarem como os principais rivais da direita francesa na corrida à eleição presidencial de 2007.

Depois de Sarkozy, o chefe do executivo reuniu-se com vários jovens, com idades compreendidas entre 18 e 25 anos, provenientes de bairros dos arredores de Paris e representando um espectro alargado de experiências: imigrantes, estudantes, desempregados, beneficiários dos subsídios mínimos de subsistência e até um empresário.

Villepin prepara um "plano de acção", que pretende ter pronto antes do final do mês, para implementar nos bairros problemáticos, marcados pela imigração, o desemprego, a pobreza e a delinquência.

No entanto, os autarcas das localidades afectadas pelos distúrbios, com os quais se reuniu na quinta-feira, mostraram-se contrários àquilo que definiram como o "enésimo" plano e pediram antes um trabalho em profundidade e de forma duradoura.

Os autarcas pretendem que o executivo implemente programas de educação, de habitação e de emprego nesses bairros.

Outras vozes pedem o restabelecimento da polícia de proximidade, implantada pela esquerda e na prática eliminada pela direita quando chegou ao poder em 2002.

"A polícia de proximidade criou-se em detrimento da polícia de investigação e das detenções. É preciso restabelecer o equilíbrio", afirmou Sarkozy no princípio de 2003.

Christian Estrosi, ministro delegado do Ordenamento do Território, saiu hoje a terreiro para defender o seu chefe, garantindo que foi a esquerda quem "desvirtuou" o conceito de polícia de proximidade, ao "desarmá-la" e convertê-la numa polícia de "cortesia".

No entanto, dentro das forças de segurança também há vozes que pedem uma mudança.

Jean-Claude Delange, responsável do sindicato Alliance, maioritário dentro da polícia, afirmou ao Le Monde a sua vontade de ver a funcionar "uma verdadeira polícia de bairro", capaz de realizar "prevenção, dissuasão e repressão".

A onda de distúrbios começou há nove dias em Clichy-sous-Bois, depois da morte por electrocussão de dois adolescentes imigrantes que, crendo erroneamente que eram perseguidos pela polícia, se refugiaram num transformador de alta-tensão.

Umas horas antes, noutro bairro periférico de Paris e em plena luz do dia, um técnico de uma empresa de electricidade pública foi espancado até à morte por uns jovens, à vista da sua mulher e filha.

Em França, existem umas 750 zonas urbanas consideradas sensíveis, termo que normalmente corresponde a zonas com altas taxas de desemprego e muita pobreza.

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