"Política acima da paz". Casa Branca dececionada com escolha de Corina Machado para Nobel

A Casa Branca criticou a decisão do Comité Norueguês do Nobel de atribuir o prémio da paz a Maria Corina Machado, líder da oposição venezuelana, em vez do presidente norte-americano, Donald Trump. Na opinião da Casa Branca, o comité coloca a "política acima da paz".

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Evelyn Hockstein - Reuters

"O presidente Trump vai continuar a fazer acordos de paz, a acabar com guerras e a salvar vidas. Tem o coração de um humanitário, e nunca haverá ninguém como ele, capaz de mover montanhas com a força da sua vontade", disse o porta-voz da Casa Branca, Steven Cheung, numa publicação na rede social X.

"O Comité Nobel provou que coloca a política acima da paz”, acrescentou.

O presidente norte-americano vinha a reclamar o prémio, tendo afirmado na semana passada que “seria um grande insulto” para os Estados Unidos se o Nobel da paz não lhe fosse atribuído.

O presidente republicano ainda não comentou a decisão do Nobel, mas publicou três vídeos na sua conta no Truth Social na manhã desta sexta-feira de apoiantes a celebrar o acordo de Gaza, que foi proposto e anunciado pelo próprio Trump.

Antes do anúncio do Nobel, os especialistas no prémio tinham afirmado que era muito improvável que Trump fosse o laureado, uma vez que as suas políticas eram vistas como um desmantelamento da ordem mundial internacional que o comité do Nobel preza.
Governo português felicita Corina Machado
O Governo português já felicitou a líder da oposição venezuelana, Maria Corina Machado, pela atribuição do prémio Nobel da Paz 2025, destacando a sua "coragem e audácia" na luta por uma "paz justa e democrática".

"A luta pela democracia, por eleições livres e pelos direitos humanos é a matéria-prima da paz. A coragem e a audácia de María Corina Machado são o fermento da paz - de uma paz justa e democrática"
, afirmou o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, numa publicação na rede social X.

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também já saudou a atribuição do Prémio Nobel da Paz à opositora do regime venezuelano e considerou que esta decisão "reconhece e encoraja as aspirações democráticas de todos".

"O Presidente da República saúda a atribuição a María Corina Machado do Prémio Nobel da Paz 2025", lê-se numa mensagem publicada na página oficial da Presidência da República.

O chefe de Estado afirma que "María Corina Machado, que já em 2024 fora justamente galardoada, com Edmundo González Urrutia, com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, tem lutado de forma corajosa e abnegada pela democracia, justiça social e pleno respeito pelos direitos humanos dos venezuelanos".

"Esta atribuição do Nobel da Paz reconhece e encoraja as aspirações democráticas de todos", acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa.

Em declarações aos jornalistas na Estónia, para a reunião do grupo de Arraiolos, o presidente da República descreveu Corina Machado como uma “lutadora pela democracia e pela liberdade”.

“Estou muito feliz. Envio as minhas felicitações e, ao mesmo tempo, saúdo a decisão muito sábia e atenta do Comité”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Questionado sobre o pedido de Corina Machado para mais apoio do Governo português, numa entrevista à RTP em dezembro passado, Marcelo destacou apenas que “o Estado português tem mantido contactos com todos os setores políticos venezuelanos”.

A presidente da Comissão Europeia também já felicitou Corina Machado, considerando que a decisão do comité norueguês demonstra que o "espírito da liberdade não pode ser enjaulado".

"Parabéns María Corina Machado por receber o Prémio Nobel da Paz, este galardão honra não só a tua coragem e convicção, mas também todas as vozes que recusaram silenciar-se, na Venezuela e em todo o mundo", escreveu Ursula von der Leyen nas redes sociais.

Na opinião da presidente da Comissão Europeia, a atribuição deste prémio à antiga deputada venezuelana e opositora ao regime de Nicolás Maduro demonstra, através de "uma mensagem poderosa", que o "espírito da liberdade não pode ser enjaulado" e que a "sede por democracia prevalecerá sempre".

"A luta continua", finalizou Ursula von der Leyen.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, também aplaudiu a opositora venezuelana, considerando que este reconhecimento “é uma prova do seu trabalho incansável pela justiça, pelo seu firme compromisso com a democracia, os direitos humanos e a sua luta pela liberdade da Venezuela”.
Raimundo diz que "deram o Nobel a uma 'trumpista'"
Em Portugal, começam também a surgir reações dos partidos. O secretário-geral do PCP criticou a atribuição do prémio à opositora venezuelana, considerando que “não deram o Nobel a Trump, deram a uma ‘trumpista’”.

“Tudo indicava que ia haver uma golpada em que Trump seria o prémio Nobel. Não foi Trump, foi uma ‘trumpista’. E, portanto, não há muito mais a dizer sobre isso. A Academia entregou um prémio não a Trump – o que também era demais –, então entregou-o a uma ‘trumpista’”, criticou Paulo Raimundo em declarações aos jornalistas durante uma arruada na Baixa da Banheira, no concelho da Moita.

O PSD, por sua vez, congratulou-se com a atribuição do prémio Nobel da Paz a Maria Corina Machado e lembrou ter proposto a ativista venezuelana para o prémio Sakharov, do Parlamento Europeu, que veio a vencer.


“O Comité Nobel Norueguês acaba de atribuir o Prémio Nobel da Paz a Maria Corina Machado, líder das forças democráticas venezuelanas. O PSD congratula-se com o reconhecimento e com o facto de, há um ano, ter sido o proponente da sua nomeação para o Prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu, que viria a vencer”, expressaram os sociais-democratas em comunicado.

O eurodeputado Sebastião Bugalho, do PSD, destacou o “entusiasmo e resiliência quase sobrenaturais” da opositora política venezuelana.

Em declarações à Lusa, Bugalho, que falou também em nome do grupo do Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita), salientou ter falado várias vezes com a homenageada no último ano e meio.

“O seu entusiasmo e resiliência são quase sobrenaturais”, destacou o porta-voz da elegação do PSD no PPE, acrescentando que “quando escrevemos, negociámos e aprovámos a resolução do Parlamento Europeu que reconheceu a vitória eleitoral do seu movimento democrático, foi a primeira a telefonar, a dizer obrigado, a dizer 'não desistam', 'não se esqueçam de nós'”.

O líder do Chega, André Ventura, classificou a atribuição do Prémio Nobel a Maria Corina como “uma excelente decisão”, considerando que reconhece “verdadeiramente quem trabalha pela paz” na Venezuela.


“Acho que é efetivamente uma decisão muito relevante, a atribuição de um Prémio Nobel à Maria Corina Machado pelo trabalho que tem feito da luta na Venezuela, que diz muito à comunidade portuguesa, diz muito aos portugueses que estão na Venezuela. É uma excelente decisão que mostra como podemos ter um Prémio Nobel da Paz que não seja politizado, mas reconheça verdadeiramente quem trabalha pela paz”, disse Ventura em declarações aos jornalistas durante uma arruada em Braga.

“Acho que este Prémio Nobel é um reconhecimento de todos os que queriam e os que lutaram para que estes países pudessem ter democracia também e, nesse sentido, acho que Portugal deve estar hoje muito feliz pela atribuição deste Prémio Nobel da Paz”, defendeu.

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