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Poluição atmosférica associada a quase dez mil mortes prematuras em Portugal em 2018

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

O relatório deste ano da Agência Europeia do Ambiente (AEA) sobre a qualidade no ar da Europa demonstra que a poluição atmosférica provocou a morte prematura a mais de 500 mil pessoas na União Europeia (UE), das quais 9794 em Portugal. Apesar de continuar a ser um número significativo, o número de mortes prematuras associadas à poluição atmosférica diminuiu na última década devido à melhoria da qualidade do ar.

A poluição do ar é uma das principais causas de doenças e mortes prematuras e consiste atualmente no maior risco ambiental para a saúde na Europa. Doenças cardíacas e derrames cerebrais são as causas mais comuns de mortes prematuras associadas à poluição do ar, seguindo-se as doenças pulmonares.

O mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA) concluiu que a poluição atmosférica está associada a 507.558 mortes prematuras na Europa.

A exposição a partículas finas (PM2.5), em particular, levou à morte prematura de cerca de 417 mil pessoas em 41 países europeus, em 2018. Cerca de 379 mil dessas mortes ocorreram nos 28 países da UE, sendo que 54 mil e 19 mil mortes prematuras foram atribuídas, respetivamente, ao dióxido de azoto (NO2) e ao ozono troposférico (O3). No total, na UE, a poluição atmosférica levou à perda de 4,3 milhões de anos de vida, em resultado da morte prematura.

No caso concreto de Portugal, o relatório estima  que 9794 pessoas tenham morrido prematuramente devido à poluição atmosférica, a maioria relacionada com a exposição a partículas finas, o que totaliza 53 mil anos perdidos.

O maior impacto na saúde em termos de mortes prematuras e de perda de anos de vida é estimado em países mais populosos, nomeadamente a Alemanha, Itália, Polónia, França e o Reino Unido. No entanto, em termos relativos, quando considerado o número de anos de vida perdidos por 100 mil habitantes, o relatório da AEA explica que os impactos mais significativos são observados em países da Europa central e do leste, nomeadamente em Kosovo, Sérvia, Albânia, Bulgária e Macedónia. 

Por sua vez, os impactos menos significativos são observados em países do norte da Europa, como a Islândia, Noruega, Suécia, Irlanda e Finlândia.
Qualidade do ar melhorou na última década
O relatório sublinha, porém, que as mortes prematuras associadas à exposição a partículas finas na Europa e UE em 2018 representam uma redução de 13 por cento, ou seja, de 60 mil mortes, em relação a 2009 – o ano analisado no primeiro relatório sobre a qualidade do ar na Europa, pulicado em 2011. A queda do número de mortes prematuras está associada a uma melhoria da qualidade do ar na Europa na última década.

A queda nas mortes causadas pelas emissões de NO2 – um composto muito prejudicial ao ser humano que resulta da queima de combustíveis fósseis e que é libertado sobretudo por veículos e por fábricas – atingiu os 54 por cento na última década (de 117 mil para 54 mil). Já as mortes relacionadas com o O3 – um poluente secundário que resulta de transferências de ozono da estratosfera – tiveram um aumento de 25 por cento (de 15.700 para 19.400).

A qualidade do ar está a melhorar em toda a Europa, devido às políticas que introduzimos nas últimas décadas. É evidente que estas políticas têm um impacto se forem devidamente implementadas”, disse o comissário europeu com a pasta do Ambiente, Virginijus Sinkevičius.

O relatório explicita que, dos 27 países da UE, apenas sete (Bulgária, Croácia, República Checa, Itália, Polónia e Roménia) ultrapassaram o teto máximo de partículas finas estipulado na Diretiva dos Tetos Máximos das Emissões da Comissão Europeia, tendo Portugal cumprido todos os compromissos relativos à qualidade do ar impostos ao nível europeu.

Apesar da diminuição das mortes prematuras derivadas da qualidade do ar, Sinkevičius considera, ainda assim, que o número atual é “demasiado elevado”.

Ainda que o número de mortes prematuras continue a diminuir, continua a ser demasiado elevado. Sabemos que o custo [da má qualidade do ar] é extremamente grande para as sociedades””, sublinhou Sinkevičius.

“Resolver o desafio da qualidade do ar não é fácil, são necessárias ações concertadas, da parte de todos, e o desenvolvimento de novos reflexos”, afirmou. As partículas finas, o dióxido de azoto e o ozono troposférico são geralmente reconhecidos como os três poluentes que afetam de forma mais significativa a saúde humana. A gravidade do impacto da exposição prolongada e dos picos de exposição a estes poluentes varia, desde os danos causados ao sistema respiratório até à morte prematura.

O diretor da AEA afirma mesmo que “80 a 90 por cento da população urbana está a viver com uma qualidade de ar que não é considerada saudável”.
Impacto da pandemia na diminuição da poluição
O relatório da AEA também estudou o impacto da pandemia de Covid-19 na poluição e conclui que a qualidade do ar melhora substancialmente quando se reduz o tráfego automóvel e a atividade industrial poluente.

Após o surgimento do vírus SARS-CoV-2 no final de 2019, a maioria dos países europeus introduziu medidas restritivas e confinamentos obrigatórios em meados de março de 2020. Com a obrigação de permanecer em casa, o tráfego rodoviário reduziu substancialmente, assim como reduziram as atividades económicas que foram temporariamente encerradas. Isso levou a reduções significativas nas emissões poluentes atmosféricas, que foram visíveis através de imagens de satélite divulgadas pela NASA e pela Agência Especial Europeia (ESA).

Durante o período em que vigoraram as medidas de restrição na primavera, todos os indicadores de NO2 evidenciaram melhorias consideráveis na Europa. Em abril, um estudo mostrava que Portugal tinha reduzido para metade os níveis de poluição, o que, de acordo com o Centro Europeu de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, pode ter permitido salvar 600 vidas.

As reduções foram maiores nos países que aplicaram medidas mais rigorosas, como Espanha, Itália e França. Nos dois primeiros, algumas estações de avaliação da qualidade do ar registaram reduções de até 70 por cento, enquanto as diminuições da poluição foram muito mais suaves em países da Europa central e do leste, onde a pandemia ainda não era tão expressiva e, por isso, as medidas de restrição eram mais suaves.

De acordo com o relatório, as principais cidades espanholas e italianas foram aquelas onde se observou uma diminuição mais significativa da poluição. Em Barcelona a queda atingiu os 59 por cento – o valor mais elevado das cidades analisadas no relatório. Seguiu-se Milão (54 por cento), Madrid (47 por cento) e Turim (também com 47 por cento).

Algumas cidades parecem, porém, ter registado um aumento da poluição atmosférica que variou entre dez a 13 por cento. Entre a lista destas cidades europeias encontra-se uma portuguesa: Braga.

O relatório sublinha ainda que a exposição a longo prazo a estes poluentes atmosféricos podes causar doenças cardiovasculares e respiratórias, identificadas como fatores de risco em infeções por Covid-19. O estudo cita pesquisas que relacionam a poluição com a mortalidade por Covid-19 na Europa, China e Estados Unidos, mas sublinha que a maioria está ainda “sob investigação e em debate”.
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