População sob domínio de grupos armados no Rio de Janeiro cresceu 59,4% em 17 anos

Pelo menos quatro milhões de habitantes do Rio de Janeiro, 34,9% da população desta cidade brasileira, vivem em áreas controladas por grupos armados, o que representa um crescimento de 59,4% face a 2007, segundo um estudo divulgado hoje.

Lusa /

Conforme o estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e com a nova edição do Mapa Histórico dos Grupos Armados, uma publicação elaborada por investigadores do Grupo de Estudos sobre Novas Ilegalidades da UFF e da organização não governamental Fogo Cruzado, a área do Rio controlada por organizações criminosas cresceu 59,4% entre 2007 e 2024, quando passou a equivaler a 18,1% da superfície urbana habitada da cidade.

O estudo refere-se às áreas do Rio de Janeiro controladas por gangues armados, incluindo traficantes de droga e milícias (grupos para policiais), principalmente em favelas e bairros populares, onde a polícia tem dificuldades em atuar.

A área metropolitana do Rio de Janeiro, com sete milhões de habitantes, tornou-se uma das mais violentas do Brasil, devido aos contínuos confrontos armados entre gangues rivais de traficantes de droga e entre estes e as milícias e polícias.

Os tiroteios, na maioria das vezes, devem-se a disputas por territórios.

No mês passado, uma operação policial realizada no conjunto de favelas de Penha e Alemão, controlados pela organização criminosa Comando Vermelho, terminou com 122 pessoas mortas, incluindo cinco polícias. Esta foi a operação mais letal até agora ocorrida no Brasil.

Segundo o estudo, num primeiro ciclo, o crescimento das áreas controladas por criminosos ocorreu especialmente devido à forte expansão das milícias, grupos criados por polícias e ex-polícias, inicialmente para combater o narcotráfico nos seus bairros que acabaram por se tornar novas organizações criminosas.

Estes grupos, apesar de não se financiarem diretamente com a venda de drogas, passaram a controlar nas suas regiões de influência serviços como transporte clandestino, sinal pirata de `internet` e de televisão por cabo e venda de garrafas de gás.

Mas, numa segunda fase, nos últimos anos, registou-se um avanço das organizações de traficantes de droga, principalmente o Comando Vermelho, que tem ocupado territórios de gangues rivais.

Segundo o estudo, em 2024, as milícias dominavam áreas habitadas com uma extensão de 201 quilómetros quadrados, quase metade (49,4%) do território controlado por organizações armadas na cidade.

Apesar da sua área de atuação ser menor, o Comando Vermelho tinha o controlo de mais pessoas, cerca de 1,6 milhões em 2024, 47,2% da população que vive em zonas dominadas pelos grupos criminosos.

Nos últimos anos, o Comando Vermelho avançou em territórios antes controlados pelo grupo de traficantes Amigos dos Amigos (ADA), um dos seus principais rivais, incluindo as favelas estratégicas de Rocinha (a maior do Rio) e Vidigal.

Tópicos
PUB