Portos norte-americanos encerrados devido à greve dos estivadores

por Inês Moreira Santos - RTP
Caitlin Ochs - Reuters

Dezenas de milhares de estivadores iniciaram, esta terça-feira, uma greve por tempo indeterminado em grande parte dos portos dos Estados Unidos, ameaçando causar paralisações significativas no comércio e na economia antes das eleições presidenciais e da movimentada temporada de compras de fim de ano. Depois do fracasso das negociações, os sindicatos e a Associação Internacional de Estivadores (ILA, na sigla em inglês) afirmaram estar preparados para "lutar enquanto for necessário". Esta é a primeira grande paralisação portuária em quase 50 anos.

As negociações para um novo contrato sindical entre a ILA e a United States Maritime Alliance (USMX) fracassaram na segunda-feira e os trabalhadores portuários deram início à paralisação à meia-noite desta terça-feira, encerrando pelo menos 36 portos ao longo da Costa Leste e do Golfo.

“Nas últimas 24 horas, a USMX e a ILA trocaram contrapropostas em matéria de salários”, indicou a Aliança Marítima num comunicado na noite de segunda-feira, especificando que tinha “melhorado” a proposta e solicitou uma prorrogação do acordo social para continuar negociando.

Segundo fonte próxima das negociações, citada pela AFP, a proposta detalhada pela Aliança corresponde à rejeitada na manhã de segunda-feira pelo sindicato. Alguns dos portos mais movimentados do país já se estavam a preparar para as interrupções depois de cerca de 45 mil trabalhadores terem abandonado os postos de trabalho assim que os contratos expiraram à meia-noite.

“Estamos prontos para lutar o tempo que for necessário, para permanecer em greve o tempo que for necessário, para obter os salários e as proteções sociais que os nossos membros merecem”, declarou o chefe do sindicato ILA, Harold Daggett, num comunicado de imprensa.

A USMX representa empregadores em 36 portos espalhados ao longo da costa do Maine (nordeste) ao Texas (sul), no Golfo do México, à Flórida (sudeste). Do lado oposto, o sindicato dos estivadores tem 85 mil membros nos Estados Unidos (portos, rios, lagos).

O contrato social que expirou nas últimas horas inclui 25 mil trabalhadores dos terminais de carregamento de contentores e veículos rolantes de 14 grandes portos (Boston, Nova Iorque, Filadélfia, Baltimore, Savannah, Miami, Tampa e até Houston). O sindicato alertou no domingo que todos os seus membros realizariam piquetes de greve a partir das 00h01 de terça-feira, “unidos em solidariedade por estivadores e trabalhadores marítimos de todo o mundo”.

Esta é a primeira grande paralisação portuária no país em quase 50 anos. Joe Biden tem o poder de suspender a greve por 80 dias para novas negociações, mas segundo a Casa Branca o presidente norte-americano não pretende agir para já.
O que leva à paralisação?
As negociações estão estagnadas há meses e o contrato atual entre as partes expirou na segunda-feira. Os dois lados divergem por causa de um contrato-quadro de seis anos que abrange cerca de 25 mil trabalhadores portuários, de acordo com a US Maritime Alliance, conhecida como USMX, que representa empresas de transporte, associações portuárias e operadores de terminais marítimos.

Na segunda-feira, a USMX disse que tinha aumentado a oferta, o que aumentaria os salários em quase 50 por cento, triplicaria as contribuições dos empregadores para os planos de reforma e fortaleceria as opções de assistência médica. O chefe do sindicato, Harold Daggett, pediu aumentos salariais significativos para os membros, ao mesmo tempo que expressou preocupações sobre ameaças da automação. 

Por sua vez, a USMX acusou o sindicato de se recusar a negociar, apresentando uma queixa aos reguladores trabalhistas solicitando que ordenassem que o sindicato voltasse à mesa de negociações.

No contrato anterior, os salários iniciais variavam de 20 a 39 dólares por hora, dependendo da experiência do trabalhador. Além disso, os trabalhadores recebem outros benefícios. De acordo com Daggett, o sindicato quer um aumento de cinco dólares por ano no salário por hora durante a vigência do acordo de seis anos, o que ele estimou em cerca de 10 por cento ao ano.

“Vamos ser claros: os empregadores, não os trabalhadores, esquivaram-se das suas responsabilidades e adiaram as negociações trabalhistas para a 11ª hora, quando os danos ao público e à cadeia de abastecimento nacional seriam mais prejudiciais”
, disseram Greg Regan e Shari Semelsberger, presidente e secretária-tesoureira da TTD. “Embora a USMX tente atirar a culpa nos trabalhadores da linha de frente que movimentam a nossa cadeia de abastecimento, eles são os culpados”.

A ILA considera que os trabalhadores têm direito depois de os lucros das empresas de transporte terem disparado durante a pandemia de Covid-19, enquanto a inflação atingiu os salários. O representante sindical alertou que se espera uma grande adesão à greve, incluindo de trabalhadores não diretamente envolvidos nesta disputa, embora os números exatos não estejam claros.

“Os membros da ILA merecem ser compensados pelo importante trabalho que realizam para manter o comércio norte-americano a fluir e crescer”,
disse o sindicato na manhã de segunda-feira, denunciando os “mil milhões de dólares em lucros” arrecadados pelos portos e transportadoras marítimas.

“Entretanto, os membros dedicados da ILA continuam a ser prejudicados pela inflação devido a salários injustos”, continuou.

Estima-se que a greve tenha um impacto de 5 mil milhões de dólares por dia na Economia dos EUA. O sindicato disse ainda que não afeta carga militar e nem navios de cruzeiro de passageiros.
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