Presidente dos Estados Unidos defende fim do “jogo de soma zero”
O Presidente norte-americano dirigiu-se esta terça-feira, em Moscovo, a uma plateia de universitários para defender que a corrida ao poder na arena internacional "deixou de ser um jogo de soma zero". Após um encontro com Vladimir Putin, Barack Obama advogou que "o progresso deve ser partilhado" e instou a Rússia a combater a proliferação nuclear no Irão e na Coreia do Norte.
À Rússia do Presidente Dmitry Medvedev e do primeiro-ministro Vladimir Putin, defendeu Barack Obama, é pedido um novo compromisso para com cinco eixos fundamentais: a prevenção da proliferação de armas nucleares; o combate ao extremismo; os Direitos Humanos; a prosperidade global; a cooperação internacional.
"Não me cabe definir os interesses nacionais da Rússia, mas posso falar dos [interesses] da América e acredito que vocês verão que partilhamos a mesma base", propugnou Barack Obama, acrescentando que russos e norte-americanos nada têm a beneficiar de uma corrida ao armamento no Médio Oriente e na Ásia: "É por isso que deveríamos estar unidos na oposição aos esforços da Coreia do Norte para se tornar uma potência nuclear e impedir o Irão de adquirir uma arma nuclear".
Mensagens dirigidas ao Kremlin
Na letra do discurso preparado para o segundo dia da visita de Obama a Moscovo, a "parceria" entre os Estados Unidos e a Rússia "será mais forte" se o país de Medvedev e Putin "ocupar o lugar que lhe pertence enquanto grande potência". Contudo, a Administração Obama não se coíbe de desfiar um conjunto de condições a cumprir pelo poder político de Moscovo para que a Rússia reocupe o seu "lugar de direito". Desde logo o respeito pelos Direitos Humanos e princípios democráticos, a que o Presidente norte-americano justapõe o respeito pelas fronteiras internacionais e o combate à corrupção.
"Toda a gente deve ter o direito de fazer negócios ou obter educação sem pagar um suborno. Não se trata de uma ideia americana, ou de uma ideia russa. É assim que as pessoas e os países vão ser bem sucedidos no século XXI", advogou Obama. O Presidente norte-americano atalharia, em seguida, que "a América não é perfeita". Apenas para acrescentar que, nos Estados Unidos, "os média independentes expuseram a corrupção em todos os níveis da finança e do Governo".
"Eleições competitivas permitem-nos mudar de rumo. Se a nossa democracia não defendesse esses direitos, eu, enquanto pessoa de ascendência africana, não poderia falar-vos como cidadão americano, muito menos como Presidente", assinalou Barack Obama.
Reunião com Vladimir Putin
A intervenção do Presidente norte-americano na Nova Escola de Economia seguiu-se a um pequeno almoço de trabalho com Vladimir Putin, o antecessor de Dmitry Medvedev na Presidência russa que, impedido de se candidatar a novo mandato, transitou para a liderança do Governo.
Antes de abordar o avião presidencial Air Force One, com destino a Moscovo, Obama descrevia Putin como um estratega político com "um pé na maneira antiga de actuar e outro pé na nova". Após o encontro desta terça-feira, que se prolongou por duas horas, a avaliação consolidou-se. O Presidente norte-americano disse ter encontrado um homem "duro, esperto, astuto, muito pouco sentimental e muito pragmático": "Nas áreas em que discordámos, como a Geórgia, não antecipo uma convergência de pensamentos num futuro próximo".
O próprio gabinete de Putin tratou de temperar o entusiasmo experimentado na véspera pela delegação norte-americana, depois da assinatura de oito acordos entre Barack Obama e Dmitry Medvedev, entre os quais um pacto para a negociação do tratado de controlo de armamento nuclear que, até ao final do ano, irá render o histórico START 1, assinado no início da década de 90 - prevê-se que Estados Unidos e Rússia procedam, nos primeiros sete anos após a assinatura do novo tratado, a abates nos respectivos arsenais de ogivas, fixando os números entre 1.500 e 1.675.
"Espaço pós-soviético" é "muito importante para a Rússia"
O primeiro encontro com o Presidente norte-americano, sintetizou Vladimir Putin, correu "muito bem". Isto porque foi "substantivo, informativo e de colaboração". O primeiro-ministro russo foi mesmo ao ponto de dizer que a reunião permitiu isolar "muitos pontos em comum". Mas a lista de consensos continua a deixar de fora questões "muito importantes para a Rússia", nas palavras de um dos seus conselheiros diplomáticos.
"A Ucrânia e a Geórgia, como todo o espaço pós-soviético, é muito importante para a Rússia", ressalvou Iuri Ochakov. Com esta frase o conselheiro do primeiro-ministro russo apontou o dedo à NATO e a uma estratégia de alargamento a Leste que Moscovo arruma na estante das tentações expansionistas do Ocidente. No caso da Geórgia, que em Agosto de 2008 viu a máquina militar russa esmagar a sua ofensiva militar para retomar o controlo da região separatista da Ossétia do Sul, Ochakov desvendou parte das palavras que Vladimir Putin reservou a Barack Obama: o Presidente georgiano, Mickhail Saakachvili, "interpretou mal o apoio americano no contexto dos elementos que precederam a guerra".
Chamado a falar sobre os interesses geoestratégicos da Rússia, o Presidente dos Estados Unidos escolheu a segurança do registo diplomático: "A NATO procura a colaboração com a Rússia, não a confrontação".
O discurso de Barack Obama perante os estudantes moscovitas não mereceu uma cobertura alargada por parte das estações de televisão russas. Apenas o canal de notícias Vesti transmitiu em directo a alocução do Presidente norte-americano. Os canais mais vistos em território russo, nomeadamente a NTV e a Rossiya, não o fizeram. Na rádio, o panorama repetiu-se. A difusão assegurada pela emissora radiofónica Vesti não foi repetida pelas duas grandes rádios estatais, a Rossiya e a Mayak.