Primeiro satélite espião norte-coreano "caiu no mar"

por Carla Quirino - RTP
Ministério da Defesa da Coreia do Sul via Reuters

Falhou o lançamento do primeiro satélite militar da Coreia do Norte. "Caiu no mar", informou a agência de comunicação estatal. A vizinha Coreia do Sul confirma que o foguetão que transportava o satélite desapareceu do radar antes do tempo. As autoridades de Seul estão a tentar resgatar, esta quarta-feira, o que acreditam ser os destroços do lançamento fracassado.

O míssil que transportava o satélite despenhou-se nas águas ao largo da costa ocidental da Península Coreana, após ter perdido o impulso.

“O Cheollima-1 caiu no Mar Ocidental da Coreia ao perder força devido a uma partida anormal do motor de dois estágios após a separação de uma etapa enquanto voava normalmente”, anunciou a agência estatal KCNA, logo depois de o Estado-Maior Conjunto sul-coreano ter confirmado que o projétil havia desaparecido do radar.

Os cientistas de estão a investigar a causa da falha, adianta-se no comunicado.Susto nos países vizinhos


As autoridades sul-coreanas também confimaram ter detetado o lançamento cerca das 6h29 (22h30 de terça-feira em Lisboa), da zona noroeste de Tongchang-ri, onde está localizado o principal centro de lançamento espacial da Coreia do Norte.

Rapidamente soaram alertas em Seul e no Japão. Posteriormente, foram suspensos.

Kim, uma mãe de 33 anos que mora em Seul, declarou à BBC que ficou "muito assustada" quando recebeu o alerta de emergência e começou a fazer as malas para ir para o abrigo.

"Eu não estava a acreditar que iria haver uma guerra, mas depois do que está a acontecer na Ucrânia isto fez-me pensar que a Coreia do Norte ou a China poderiam invadir a Coreia [do Sul]", declarou. "Achei que Pyongyang tinha perdido a cabeça e começado uma invasão", acrescentou.
 


Seul afirmou que o foguetão teve "um voo anormal", antes de cair na água. Acresentara que o foguete pode ter-se partido no ar ou caído depois de ter desaparecido do radar. Por sua vez, o secretário-geral do Governo japonês, Hirokazu Matsuno, disse aos jornalistas que nenhum objeto terá chegado ao espaço.

Este voo é já a sexta tentativa de lançamento de satélite com recurso a armas nucleares do país mas a primeira desde 2016.

O míssil deveria colocar o primeiro satélite espião norte-coreano em órbita.

A Coreia do Norte está proibida por resoluções aprovadas no Conselho de Segurança da ONU de desenvolver armas nucleares que incluem o uso da tecnologia de mísseis balísticos.Destroços norte-coreanos


As autoridades sul-coreanas declararam que o projétil caiu no mar no ponto onde as zonas económicas exclusivas da China e da Coreia do Sul se encontram. Seul esta a conduzir uma operação de resgate, onde mergulhadores recuperam os destroços.

"Os nossos militares identificaram um objeto que se acredita fazer parte do veículo de lançamento espacial reivindicado pela Coreia do Norte nas águas a 200 quilómetros a oeste da ilha de Eocheong e estão em vias de o recuperar", declarou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul.

As imagens divulgadas pelo Ministério da Defesa da Coreia do Sul mostram um grande objeto cilíndrico amarrado a uma boia.

George William Herbert, professor adjunto do Centro de Estudos de Não-Proliferação do Instituto Middlebury, explica que as imagens mostraram pelo menos parte de um foguete, incluindo uma seção interstage projetada para se interligar a outro estágio.

À Reuters, Herbert acrescentou que provavelmente era um dispositivo de combustível líquido. O objeto redondo de cor acastanhada estava dentro de um tanque de combustível para produzir a propulsão.


Ministério da Defesa da Coreia do Sul via Reuters

Corrida espacial 


Seul referiu que Pyongyang pode ainda tentar fazer um novo lançamento dentro do intervalo de tempo anunciado, que vai até 11 de junho.

Andrew Lankov, especialista em Coreia do Norte da Universidade Kookmin, citado na Al Jazeera, defende que é uma questão de tempo para a Coreia do Norte ter um satélite em órbita.

“Eles estão determinados a fazer isso. Eles têm os meios. Eles têm os engenheiros. Eles têm o dinheiro. Eles farão isso. Talvez não agora. Talvez haja mais algumas tentativas, mas por fim terão sucesso”, afirma.

As Nações Unidas já reagiram ao lançamento, condenando-o. O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou Pyongyang a retornar às negociações de desnuclearização que estão paralisadas desde 2019.

“Qualquer lançamento usando tecnologia de mísseis balísticos é contrário às resoluções relevantes do Conselho de Segurança”, sublinhou.

Representantes da Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos também "condenaram veementemente" o lançamento, disse o Ministério das Relações Exteriores do Japão.

“Os três países permanecerão vigilantes com alto senso de urgência”, afirmou em comunicado.

O regime norte-coreano de Kim Jong-un tem como foco modernizar o armamento com recurso dispositivos nucleares, mesmo que implique desafiar as sanções da ONU.

O Governo de Jong-un diz que atividades são necessárias para autodefesa. E para além da tecnologia dos mísseis que têm sidos repetidamente testados, um lançamento bem-sucedido do satélite de reconhecimento militar é um “requisito urgente do ambiente de segurança predominante no país”.

Na semana passada, a Coreia do Sul lançou com sucesso um satélite de cariz comercial pela primeira vez usando o Nuri, um foguetão espacial produzido no país.

Leif-Eric Easley, professor associado de estudos internacionais da Ewha Womans University em Seul interpreta que, “dada a capacidade demonstrada do foguetão Nuri da Coreia do Sul para colocar satélites em órbita, o regime de Kim provavelmente sente-se numa corrida espacial”. 

c/ agências

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