Projeto de professores-ambulantes quer levar a escola às aldeias angolanas mais recônditas

por Lusa

Levar a escola até aldeias angolanas longínquas, onde algumas crianças têm de caminhar 26 quilómetros para ir às aulas, é o objetivo de um projeto de professores-ambulantes que está a ser desenvolvido na província angolana do Bié.

Em declarações à Lusa, Rafael Marques, presidente do Centro de Estudos Ufolo para a Boa Governação e um dos mentores do projeto, explicou que se trata de envolver os agentes que participam nas atividades educativas e a sociedade civil para reduzir o nível de desistência de alunos, por conta da falta de transportes públicos e das longas distâncias que têm de caminhar.

Deu como exemplo algumas aldeias do Cuíto (capital do Bié) sem acesso por transporte público e onde as crianças teriam de caminhar 26 quilómetros para ir à escola.

"São 52 quilómetros de caminhada a pé, não é possível esperar que essa criança consiga diariamente fazer essa caminhada ou que venha a ter algum rendimento escolar", afirmou o também diretor do site de jornalismo Maka Angola e ativista cívico.

Trata-se de "procurar encontrar soluções de ensino híbrido, presencial e à distância, que permitam criar uma categoria de professores ambulantes que possam ir a essas comunidades transmitir o saber para que as crianças pelo menos aprendam a ler e a escrever", salientou, adiantando que também a sociedade civil está a ser ativamente envolvida no projeto.

"Estamos a mobilizar os mototaxistas que chegam a essas aldeias recônditas, onde muitas vezes nem os carros chegam, para a criação deste sistema", que designou como "Amigos da Educação", para assegurar transportes aos professores.

Mesmo sendo os professores a deslocar-se, é necessário que tenham transporte, observou, dizendo que "não e aceitável que os professores tenham de fazer estas longas caminhadas para ir dar aulas".

O projeto está também a mobilizar o setor privado, para financiar um fundo que ajudará a custear, por exemplo, as despesas com os transportes, e pretende que a própria comunidade acompanhe o processo.

"Pelo estado do país, muitos já não acreditam que a educação seja importante para o futuro dessas crianças, para a vida dessas famílias. Acham mais importante a agricultura familiar, da qual dependem para o seu sustento. Por isso, é preciso convencer as comunidades a apoiarem a educação, para que estas crianças não tenham um dos seus direitos fundamentais coartado", disse o responsável do Ufolo.

O projeto conta com um apoio inicial do Banco Millennium Atlântico e pretende também mobilizar financiamento de empresários locais e envolver parceiros, como as associações de mototaxistas e taxistas, que poderão ter também benefícios, como o selo "Amigos da Educação".

A ideia, segundo Rafael Marques, é que os que adiram ao selo se confrontem "menos com os impedimentos que se verificam no quotidiano do trânsito em Angola", melhorando a sua relação com a polícia.

Por outro lado, também os professores, muitos dos quais sem capacidade financeira para suportar os preços das viagens, beneficiarão de tarifas especiais, com os taxistas a serem compensados através do fundo.

"A questão é que, por falta de transportes públicos e de medidas institucionais, a médio e longo prazo não podemos deixar que estas crianças continuem a ser penalizadas, porque é uma violação constitucional de um direito fundamental", concluiu o ativista.

Rafael Marques esteve hoje presente, no Bié, num encontro sobre mobilidade de professores e alunos, que reuniu várias entidades com o intuito de procurar soluções logísticas e educativas para as crianças das comunidades longínquas, de difícil acesso e exclusivamente dependentes da agricultura de subsistência.

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