Protestos no Irão. Jogador de futebol iraniano na lista de execuções

por Inês Moreira Santos - RTP
DR/Instagram

Nas últimas semanas, o Irão anunciou mais de uma dezena de sentenças de morte por alegado envolvimento em "motins" e nos protestos que têm abalado o país desde setembro. E o futebolista iraniano de 26 anos, Amir Nasr-Azadani, é um dos nomes que as organizações humanitárias acreditam estar incluído na lista de execuções.

Amir Nasr-Azadani, ex-jogador de futebol de Rah-Ahan, Tractor e Gol-e Rayhan, corre o risco de ser executado. De acordo com uma publicação do Iran Wire, o sistema judicial da República Islâmica planeia a sua execução, como pena de um crime a que denominam de "moharebeh". Isto é: um alegado crime de “inimizade contra Deus” pode condenar à morte o futebolista de 26 anos.

As autoridades iranianas acusam Azadani de, alegadamente, ter estado envolvido na morte de três militares da Guarda Revolucionária. Desde então, segundo a imprensa iraniana, a família do jogador tem sido ameaça pelas forças de segurança e aconselhada por advogados a manter-se em silêncio para que a sentença seja reduzida ou anulada.

O paradeiro do jogador é, de momento, incerto. E na Argentina, foi inclusive lançada uma petição para impedir que Amir Nasr-Azadani seja condenado à morte, tendo já mais de um milhão de assinaturas. A luta levou até algumas figuras públicas, como a cantora Shakira, a partilhar a petição: "A luta pela igualdade e os direitos humanos deve ser reconhecida e não castigada. Uno-me na solidariedade com Amir Nasr".


As manifestações contra o regime iraniano têm-se intensificado nas ruas do país depois da morte de Mahsa Amini e Amir Nasr-Azadani esteve na cidade de Isfahan, no dia 17 de novembro, a participar nos protestos em defesa dos direitos das mulheres e da liberdade no país.

Amir foi detido dias após a manifestação e acusado de pertencer a um "grupo armado e organizado que tem a intenção de atacar a República Islâmica do Irão", além de atuar com a intenção de afetar a segurança do país e da sociedade e de ter matado três polícias.

Segundo o IranWire, Azadani esteve nos protestos por um curto período de tempo e as testemunhas garantem que apenas proferiu cânticos e que não esteve na zona em que os agentes de segurança foram mortos. Na altura, a Associações de Futebolistas Profissionais (FIFPro) afirmou estar “chocada e doente” com as acusações, colocando-se ao lado do jogador e pedindo “a remoção imediata da pena”.



O nome do futebolista encontra-se numa lista de 28 iranianos condenados à pena de morte desde o início da intensificação dos protestos desde a execução de Mahsa Amini divulgada pela IranWide. A publicação iraniana noticiou a detenção pela primeira vez a 24 de novembro, com base em informações divulgadas por Saeed Azari, ex-diretor dos clubes Zob-e Ahan e Foulad, que confirmou a prisão do jogador de futebol de Isfahani no Instagram.

Embora o governo do Irão ainda não tenha emitido nenhum veredicto contra o atleta, as autoridades do país dizem que o crime foi confessado pelo jogador e que há provas que o envolvem nos protestos.
Manifestantes detidos condenados à morte

Pelo menos duas dezenas de manifestantes iranianos enfrentam uma possível execução como resposta das autoridades à participação nos protestos contra o Governo, de acordo com uma reportagem publicada pelo jornal local Etemad.

Os protestos, descritos como “motins” pelas autoridades iranianas, foram desencadeados pela morte, a 16 de setembro, sob custódia da polícia, da jovem curda iraniana Mahsa Amini, presa por supostamente usar indevidamente o 'hijab', violando o rígido código de vestuário da República Islâmica para mulheres.

Nas últimas semanas, dois condenados à morte, ambos de 23 anos, já foram executados, depois de, num julgamento sumário, terem sido considerados culpados de matar ou ferir membros das forças de segurança ou paramilitares.

À CNN, várias testemunhas admitiram que receiam uma iminente onda de execuções no Irão, enquanto o Ocidente celebra o Natal.

Em colaboração com o grupo ativista 1500Tasvir, a CNN verificou documentos, vídeos, depoimentos de testemunhas e declarações que sugerem que pelo menos 43 pessoas, incluindo Nasr-Azadani, podem enfrentar uma pena de morte.

Vários países ocidentais têm condenado veemente a repressão das autoridades iranianas. Washington impôs, esta semana, mais sanções às autoridades iranianas devido ao seu apoio na repressão violenta das forças policiais aos protestos antigovernamentais no Irão.

Em Portugal, a Amnistia Internacional organizou, no início do mês, uma vigília em Lisboa, de apoio a todos os que se manifestam pacificamente no Irão e que continuam a atuar em defesa da liberdade.

“A repressão violenta que se sente no Irão, sustentada pela impunidade da atuação das autoridades nacionais, tem culminado em milhares de detenções, mas também no uso da pena de morte como uma ferramenta de silenciamento. Com esta vigília, queremos aplaudir a coragem dos manifestantes que saem à rua no Irão, que arriscam a sua liberdade e a sua vida em prol de um futuro que respeite os direitos humanos, onde a liberdade de expressão e reunião pacífica possa também ser uma realidade. Queremos mostrar que nos mantemos atentos e que seguiremos juntos e comprometidos pela proteção dos direitos humanos no país”, escreveu Pedro A. Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal, em comunicado.
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