Punhos de renda e nervos. Empate no debate entre candidatos à vice-presidência dos EUA
Houve algumas "gaffes", argumentos baseados em informação falsa, mas foi um debate essencialmente político, cortês, com menos momentos crispados do que o encontro entre Trump e Kamala Harris. A imigração, os tiroteios nas escolas e o aborto foram os temas que serviram para Tim Walz e JD Vance destacarem, na noite de terça-feira, aquilo que os separa.
A maioria dos analistas diz que os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos empataram. No entanto, um grupo de eleitores indecisos inquiridos pela televisão NBC News dá a Tim Walz a vitória perante o republicano JD Vance.
Já numa sondagem breve feita pela CNN sobre quem ganhou o debate, Vance vence por pouco. A pesquisa registou as respostas de 574 eleitores: 51 por cento deram a vitória ao republicano, 49 por cento escolheram o democrata.
Questionados antes do debate, 54 por cento dos eleitores acreditavam que Walz iria vencer.
A guerra no Médio Oriente e o ataque do Irão a Israel foram o tema que abriu o debate com os dois candidatos a concordarem que os israelitas têm o direito de se defender. Depois seguiram caminhos diferentes na argumentação.
Do lado democrata, Tim Walz elogiou o trabalho da administração Biden e afirmou que a prova de que a aliança com Israel funciona é o falhanço do ataque iraniano.
Do lado republicano, JD Vance insistiu que não é coincidência que durante a Administração Trump os Estados Unidos não tenham sido arrastados para guerras e afirmou que é precisa uma liderança forte para resolver os conflitos mundiais.
Não escapou aos analistas o esforço de Walz em controlar os nervos, ele que arrecadou pontos na campanha de Kamala Harris pelos ataques ao adversário Vance, que considerou ser “estranho” e a quem acusou de ser um falso apoiante da América rural.
Em vez de atacar a impopular escolha de Trump para a vice-presidência, Walz tentou apresentar os temas que tinha preparado. Nos dias que antecederam este debate, os meios de comunicação social deram conta do nervosismo do candidato democrata a vice e o facto de ele ter alertado Kamala Harris que não é bom nos debates.
Quanto a JD Vance, o candidato republicano à vice-presidência, os comentadores políticos entendem que tentou passar a ideia de que ele e Trump são civilizados, pareceu mais relaxado, também cordial, mas ficou encostado à parede quando Walz lembrou o ataque ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021.
O candidato democrata à vice-presidência perguntou diretamente a Vance: “Ele [Trump] perdeu a eleição de 2020?”. No entanto, o senador republicano do Ohio fugiu à resposta direta e afirmou “Tim, estou focado no futuro”, alegando que Trump "entregou pacificamente o poder".Moderado pela CBS News, este foi o último debate antes das eleições norte-americanas que estão marcadas para 5 de novembro, ainda que o voto antecipado e por correspondência já tenha começado em vários Estados.
Na análise do debate, o comentador da CNN Van Jones, que frequentou a mesma escola de direito que Vance, destacou a postura do republicano. “É assim que nos ensinam a fazer, de forma polida. O problema é que JD Vance muda de personalidade como as pessoas mudam de camisa”.
Na perspetiva republicana, o estratega David Urban considerou que JD Vance “conseguiu murros certeiros mas fê-lo com luvas de veludo”. “Muito suave, simpático, (...) não ficou incomodado. É o tipo com quem se quer beber uma cerveja”.
As diferenças
A imigração, os tiroteios nas escolas e o aborto foram os temas que serviram para Walz e Vance destacarem aquilo que os separa.
As diferenças
A imigração, os tiroteios nas escolas e o aborto foram os temas que serviram para Walz e Vance destacarem aquilo que os separa.
Sobre o porte de armas e os tiroteios nas escolas, o número dois de Trump defendeu: “Temos que aumentar a segurança nas nossas escolas (…) e, claro, temos que aumentar os recursos dos agentes nas escolas”.
A questão da violência armada deu origem a um momento de empatia entre ambos, depois de o candidato democrata à vice-presidência lembrar que o filho de 17 anos testemunhou um tiroteio num centro comunitário. O relato de Walz surpreendeu Vance, “lamento a experiência do filho do governador”.
No que diz respeito à imigração, Tim Walz criticou Trump e Vance por demonizarem os imigrantes em Springfield, Ohio. Em causa, as afirmações (falsas) que os imigrantes haitianos estão a comer os animais de estimação das pessoas.
O republicano tentou relacionar a falta de habitação acessível nos Estados Unidos ao aumento da imigração ilegal, um argumento que o democrata rejeitou.
Quanto ao aborto, o governador democrata foi perentório, “somos pró-mulher, a favor de que tomem as vossas decisões”.
Tim Walz prometeu que, com Kamala Harris na presidência, vai voltar o direito federal ao aborto, um direto que foi revogado pelo Supremo Tribunal e que passou a depender de cada Estados. “Como é que uma nação pode dizer que a sua vida e o
direito a tomar decisões sobre o seu corpo é determinado pela
geografia”, questionou Walz.
Quanto ao republicano, JD Vance tentou mascarar a sua posição sobre o aborto e afirmou que "nunca apoiou uma proibição nacional do aborto".
No entanto, em 2022 quando concorria a um lugar no Senado, assumiu que "certamente gostaria que o aborto fosse ilegal nacionalmente".
“Cabeça dura”
O democrata Tim Walz admitiu que “não se explicou bem” quando afirmou que esteve em Hong Kong durante o massacre da Praça Tiananmen. Isto depois, dos media norte-americanos terem encontrado provas de que isso não poderia ser verdade. “Às vezes sou cabeça dura”, admitiu o democrata Tim Walz, número dois do ticket presidencial de Kamala Harris.
O democrata Tim Walz admitiu que “não se explicou bem” quando afirmou que esteve em Hong Kong durante o massacre da Praça Tiananmen. Isto depois, dos media norte-americanos terem encontrado provas de que isso não poderia ser verdade. “Às vezes sou cabeça dura”, admitiu o democrata Tim Walz, número dois do ticket presidencial de Kamala Harris.
“Cheguei lá nesse verão e errei quando disse que estava em Hong Kong durante os protestos” pró-democracia de maio e junho de 1989, que culminaram no massacre de Tiananmen.
A verdade é que Tim Walz chegou a Hong Kong em agosto desse ano.