Punks alemães "invadem" zona de férias dos ricos

por Carla Quirino - RTP
Lea Albert - dpa Picture-Alliance via AFP

Pela terceira vez consecutiva, grupos de punks de toda a Alemanha montaram um acampamento na ilha turística de Sylt, no Mar do Norte, onde a elite passa as férias de verão. Esta "invasão" assinala um protesto contra a exclusão económica, a degradação ambiental e a ascensão da extrema-direita.

Os cabelos em crista, ora pintados ora ripados, pele com piercings e tatuagens, vestes negras com sinalética contra o sistema deixam claro que a ilha turística da elite alemã está a receber grupos de punks. 

Pelo terceiro ano consecutivo, durante o fim de semana passado, os jovens começaram a chegar de comboio à ilha de Sylt. Dizem seguir ideologia de esquerda e montaram um acampamento de protesto punk para durar seis semanas.

O porta-voz do grupo Aktion Sylt, Marvin Bederke, de 24 anos, vem de Frankfurt, e declarou à Agência de Imprensa Alemã que “haverá várias centenas de pessoas que estarão no campo durante o curso da ação de protesto”.

Bederke espera 300 participantes — o limite acordado — no acampamento improvisado perto do aeroporto local de Tinnum, onde os aviões particulares trazem os ricos e famosos alemães para usufruírem dos encantos da ilha.

Nesta segunda-feira, para marcar o início da nova edição, foram montadas cerca de 30 pequenas tendas. Os grupos punks aí instalados dizem que esta ação “tem um lema - Acampamento de protesto pela solidariedade – amigo do clima e inclusivo para um futuro comum sem gentrificação”, processo de mudança urbana e de substituição social das áreas do centro histórico, de onde os mais pobres são afastados.

“A questão central é a gentrificação em Sylt – as pessoas ricas estão a mudar-se para cá, a ilha está a ser remodelada e outras pessoas já não podem dar-se ao luxo de viver aqui”, disse o coorganizador Jonas Hötger, com 24 anos, que também vem de Frankfurt. Porém, a proteção do ambiente e as alterações climáticas também são o foco do acampamento. Os participantes alegam que querem trabalhar juntos “para um amanhã melhor”.

A presença deles foi registada pelas autoridades, que advertiram o grupo para dormirem em tendas, utilizarem casas de banho químicas e colocarem o lixo nos contentores até que o acampamento seja desmontado, ao meio-dia de 6 de setembro, reportou Hans-Martin Slopianka, porta-voz distrital da Frísia do Norte.

Florian Korte, porta-voz da administração de Sylt, acredita que o grupo não trará problemas à estância balnear: “Presumimos que os acampamentos de protesto permanecerão pacíficos” disse à agência de notícias dpa. “As conversas com a polícia do distrito da Frisia do Norte e as autoridades reguladoras foram muito construtivas”, acrescentou.
Punks em versão festival
Este encontro-protesto começou em 2022, quando a Alemanha introduziu uma espécie de passe mensal de nove euros para transportes públicos, ao longo de todo o país.

Os punks aproveitaram a oportunidade para viajar de verão até Sylt, perante o descontentamento dos abastados turistas sazonais.A Aktion Sylt tem planeado comícios e eventos culturais durante a estadia na ilha, com oficinas e atividades artísticas.

Bederke e os companheiros estão a usar um crowdfunding para arrecadar dinheiro para comida, limpeza de WC, recolha de lixo e um palco. Cerca de 560 euros foram doados até a hora do almoço de segunda-feira.

Marco Höne, dirigente sindical e escritor conotado com ideologia de esquerda viajará de Stuttgart, no sudoeste, para um encontro em 7 de agosto intitulado Your Wealth Makes Me Throw Up (A vossa riqueza me faz vomitar) onde irá ler trechos de seu livro Rich and Ugly (Ricos e Feios).

Já o Partido Pogo Anarquista da Alemanha (APPD), que se descreve como “o partido da ralé e dos parasitas sociais desde 1981”, afirmou que estará presente, novamente, este ano.

Os anarquistas observaram que as autoridades de Sylt usaram a construção de um “muro antipunk” e uma instalação de arte de 100 mil euros num acampamento anterior. Alegam que houve uma tentativa de cobrança de “imposto para atrapalhar os manifestantes, no passado".

“Estamos felizes em usar qualquer assédio da alta sociedade de Sylt como uma oportunidade para irritá-los ainda mais”, afirmou o partido.

“Vamos inundar o destino de férias favorito dos ricos e belos, mais uma vez, com turistas baratos, remataram.
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