Quase 10% dos cancros na Europa devem-se a exposição à poluição

por Inês Moreira Santos - RTP
Luis Cortes - Reuters

Um relatório da Agência Europeia do Ambiente (EEA, na sigla em inglês) revelou, esta terça-feira, que mais de 10 por cento dos casos de cancro na Europa estão associados à exposição à poluição. A boa notícia, frisa também o estudo, é que os riscos podem ser minimizados.

Há quase 2,7 milhões de novos casos de cancro por ano e 1,3 milhões de vítimas mortais na Europa, onde este é o tipo de doença não transmissível “mais prevalente e a segunda causa de morte mais comum”.

“A vida de quase todos os europeus está destinada a ser afetada pelo cancro de alguma forma, seja consigo próprio ou com a sua família, amigos ou na comunidade”, lê-se no relatório divulgado pela EEA.

Segundo a Agência Europeia do Ambiente, a “alta prevalência de cancro” no continente europeu pode dever-se a uma “variedade de causas e fatores”, como o estilo de vida, o envelhecimento e a exposição regular a determinados produtos químicos. Mas há “uma proporção significativa de cancros na Europa atribuível a riscos ambientais e profissionais evitáveis”.

“A exposição à poluição atmosférica, de produtos químicos cancerígenos, amianto, radiação ultra-violeta e fumo do tabaco em conjunto pode contribuir para mais de 10 por cento da percentagem de cancro na Europa”, indica o relatório.
Reduzir a poluição para reduzir os casos de cancro
Num comunicado, a Agência Europeia do Ambiente indicou que, embora a exposição à poluição do ar, ao tabagismo passivo, aos raios ultravioletas, ao amianto, a alguns produtos químicos e a outros poluentes estejam “na origem de mais de 10 por cento dos casos de cancro na Europa”, este número pode diminuir de forma drástica se as políticas existentes forem objeto de uma atualização rigorosa, nomeadamente na luta contra a poluição, segundo a organização.

“Todos os riscos cancerígenos ambientais e profissionais podem ser reduzidos”
, afirmou Gerardo Sanchez, um perito da EEA, no comunicado.

“Os cancros associados a causa ambientais ou a exposição a radiações ou a carcinogéneos químicos podem ser reduzidos a um nível quase negligenciável”, acrescentou.

De acordo com o estudo da EEA, a maioria dos riscos podem ser reduzidos eliminando a poluição e mudando alguns comportamentos. Minimizar a exposição a esses riscos é, dizem os especialistas, “uma maneira eficaz e barata de reduzir os casos de cancro e as mortes associadas”.

Foi a primeira vez que esta instituição estudou as relações entre o cancro e o meio ambiente, tendo por base os dados científicos “mais recentes sobre poluição atmosférica, amianto, radiação ultravioleta, fumo de tabaco e substâncias químicas”.

“O relatório da EEA destaca que muitos casos de cancro têm uma causa ambiental subjacente. A boa notícia é que podemos agir agora para reduzir a poluição e evitar mortes”, afirmou também no comunicado Virginijus Sinkevičius, Comissário Europeu para o Meio Ambiente, Oceanos e Pescas.

“Através da meta de poluição zero do Pacto Ecológico Europeu, podemos conseguir benefícios económicos na prevenção do cancro, reduzindo a exposição a poluentes nocivos. O que é melhor para o meio ambiente também é melhor para nós”.

O plano europeu para minimizar os casos de cancro “reconhece o papel dos riscos ambientais e profissionais no aparecimento de cancros e a possibilidade de salvar vidas graças a estratégias de prevenção eficazes”. Por essa razão, o plano de ação “poluição zero” visa reduzir a poluição do ar e da água, de forma a reduzir a exposição humana à poluição ambiental e reduzir o impacto nefasto na saúde.

Segundo os dados do relatório agora divulgado, a poluição do ar é responsável por um por cento dos casos e dois por cento das mortes, percentagem que eleva para nove por cento no caso dos cancros do pulmão. Outros estudos recentes também concluíram que há “uma correlação entre a exposição a longo prazo às partículas, um poluente atmosférico importante, e a leucemia entre os adultos e as crianças”.

O radão, um gás radioativo natural suscetível de ser inalado, nomeadamente em habitações pouco arejadas, é considerado responsável por dois por cento dos casos de cancro na Europa. E segundo a Agência, os ultravioletas são responsáveis por cerca de quatro por cento de todos os casos de cancro, em particular do melanoma, uma forma grave de cancro da pele que aumentou fortemente na Europa nas últimas décadas.

Também há algumas substâncias químicas utilizadas nos locais de trabalho e libertadas no ambiente que são cancerígenas. Chumbo, arsénico, crómio, pesticidas, bisfenol A e as substâncias perfluoroalquílicas (PFAS, na sigla em Inglês), usadas entre outras aplicações na alimentação, estão entre as mais perigosas para a saúde dos europeus, tal como o amianto, interdito na União Europeia mas ainda presente em diversos edifícios.

A Estratégia Química para a Sustentabilidade da UE pretende eliminar os produtos químicos mais nocivos, incluindo aqueles que causam cancro, assim como incentivar o uso de produtos químicos seguros e sustentáveis desde o início.

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