Rangel fala em "sinais negativos" na Cisjordânia

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, considerou hoje que há "sinais negativos" na Cisjordânia, como o aumento da violência de colonos israelitas sobre palestinianos, somando-se à condenação feita pelos homólogos da Itália, França, Alemanha e Reino Unido.

Lusa /

Paulo Rangel afirmou que, apesar de estar em marcha o processo anunciado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o cessar-fogo no território palestiniano da Faixa de Gaza, "há sinais negativos".

O ministro português deu como exemplo "o sinal dos colonos" já "altamente condenado pela Itália, a Alemanha, o Reino Unido e a França", num comunicado conjunto dos respetivos responsáveis pela diplomacia, que, afirmou, Portugal acompanha.

"Temos a expansão dos colonatos, que está num nível nunca visto e põe em perigo o plano de Trump. Não em Gaza, mas obviamente na capacitação da Autoridade Palestiniana na Cisjordânia, um aspeto muito importante", afirmou Paulo Rangel, que falava à Lusa em Barcelona, Espanha, à margem do 10.º Fórum Regional da União pelo Mediterrâneo.

Rangel considerou que, ainda assim, há neste momento "uma oportunidade real de paz" na região com "o plano Trump".

"Não é um plano perfeito, mas nós sabemos em português que o ótimo é inimigo do bom. Temos de partir com aquilo que é realizável e aquilo que é possível. E sem dúvida que o plano Trump é a oportunidade que nós temos", considerou, antes de reiterar que há porém sinais, como o da "expansão dos colonatos" e o "recrudescimento da violência dos colonos relativamente às populações palestinianas" que são "mau sinal" porque "comprometem bastante aquilo que são os objetivos pós-estabilização de Gaza".

"Mas eu não tenho dúvidas de que se há um momento de oportunidade para a paz, naquilo que é a Cisjordânia, a Faixa de Casa, Israel, é este, embora seja extremamente frágil e pouco previsível", acrescentou.

De acordo com dados das Nações Unidas, mais de mil palestinianos morreram na Cisjordânia entre 07 de outubro de 2023, data do início da guerra na Faixa de Gaza, e meados de novembro deste ano, em ataques atribuídos a colonos violentos ou ao exército israelita.

Outubro registou mais ataques de colonos na Cisjordânia (264) do que qualquer outro mês desde a recolha de dados em 2006, coincidindo com raides de habitantes judeus violentos nos olivais do território durante a última campanha de colheita de azeitonas.

Também a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, considerou hoje, no arranque do encontro da União pelo Mediterrâneo (UpM) em Barcelona, que há "uma autêntica oportunidade de paz" em Gaza.

Kaja Kallas afirmou que a mais recente resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas relativamente ao território palestiniano de Gaza é "uma oportunidade real para a paz duradoura na região com um apoio global, e isto é fundamental".

A alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança garantiu que a UE continuará a apoiar a Autoridade Palestiniana e a trabalhar para a entrada de ajuda humanitária em Gaza, território da guerra de Israel com o grupo islamita radical Hamas nos últimos dois anos.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, que com Kaja Kallas copresidiu ao encontro da UpM, insistiu que a paz e a prosperidade na região do Médio Oriente e de todo o Mediterrâneo só será possível com a "solução dos dois Estados", que Israel recusa, e apelou à União Europeia para defender o Direito internacional em todo o mundo, incluindo no Médio Oriente, onde está a ser sistematicamente desrespeitado pelo governo de Telavive.

Os chefes da diplomacia dos 27 membros da União Europeia (UE), de outros 16 países mediterrânicos e da Comissão Europeia reuniram-se hoje em Barcelona para analisar "a situação alarmante" no Médio Oriente e a cooperação entre as margens do Mediterrâneo, no encontro ministerial anual da UpM.

O encontro ficou marcado, nos últimos dois anos, pela guerra no território palestiniano da Faixa de Gaza e pela ausência de um dos países membros da organização, Israel, que este ano voltou porém a estar presente, através de uma representante da Embaixada de Telavive em Espanha.

Também a Síria voltou a estar presente este ano no fórum anual da UpM, que se realiza sempre em Barcelona, após anos de ausência.

A UpM foi criada em 2008 e dela fazem parte a Comissão Europeia e 43 países - os 27 da UE e mais 16 Estados mediterrânicos da Europa, do Norte de África e do Médio Oriente, incluindo a Palestina, não reconhecida oficialmente como Estado por vários países que integram a organização.

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