Redes sociais acolhem debates e comentários sobre situação política em Timor-Leste

A incerteza sobre o futuro político de Timor-Leste e os cenários em jogo no caso da queda do Governo, depois do chumbo parlamentar do programa, estão a marcar os debates políticos do país.

Lusa /

Uma situação que se torna particularmente evidente nas redes sociais, especialmente no Facebook, que nos últimos meses têm sido um dos principais palcos de debate político, com muitos dirigentes partidários e políticos, instituições públicas e privadas e cidadãos a usarem perfis para defender as suas posições.

Essa tendência aumentou significativamente durante as campanhas para as eleições presidencial e parlamentar deste ano e tornou-se novamente "acesa" no fim de semana, depois de a oposição ter aprovado um primeiro chumbo do programa do Governo.

A dominar o debate nos últimos dias está a questão dos cenários que se colocam ao país no caso de a oposição voltar a chumbar o programa do Governo que, o executivo disse estar a rever para voltar a apresentar aos deputados.

No caso do segundo chumbo, o Governo cai e cabe ao Presidente timorense, Francisco Guterres Lu-Olo, decidir se convida outro partido a formar Governo, se avança para um Executivo de iniciativa presidencial ou se opta por eleições antecipadas.

A oposição tem vindo a insistir no primeiro cenário argumentando que as três forças que chumbaram o programa do Governo - Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) - se uniram numa Aliança de Maioria Parlamentar (AMP) capaz de garantir estabilidade governativa, que acusam o atual Governo minoritário de não ter.

Dirigentes do CNRT e do PLP têm vindo nos últimos dias a partilhar um excerto de um vídeo de uma declaração de Lu-Olo, na qual o chefe de Estado parece defender que a opção do convite a um novo partido para formar Governo teria precedente sobre a opção de eleições antecipadas.

Em resposta, dirigentes da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente e do Partido Democrático (Fretilin e PD, partidos do Governo) usaram os seus perfis para partilhar o vídeo da entrevista na íntegra, afirmando que o comentário está a ser "tirado de contexto". Insistiram ainda na opção de eleições antecipadas e, muitos militantes, já estão em `campanha` nas redes sociais.

O assunto chegou mesmo à Igreja com o presidente da Conferência Episcopal Timorense, bispo Basílio do Nascimento, a declarar a jornalistas dos serviços de comunicação da diocese que "normalmente" quando um Governo cai "se vai para eleições antecipadas".

Tudo depende, porém, do que ocorrer com o segundo eventual chumbo.

Em comunicado, divulgado no fim de semana, o Governo explicou que está a preparar "um novo programa" que "será apresentado em simultâneo com o orçamento retificativo até ao final do ano".

O Governo garantiu que "tudo fará para dar ao povo um futuro mais digno, num Timor-Leste mais inclusivo, justo e próspero" e o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, sublinhou que "tudo fará para elevar a nação a uma situação prometida pelos líderes históricos durante os árduos anos de luta".

O executivo destacou "a maturidade" mostrada pela população no momento atual e considerou que a moção de rejeição ao programa "representa mais um momento de crescimento desta jovem democracia, num país empenhado em respeitar os valores fundamentais, que o Governo serenamente aceita".

"A democracia não será dirigida por outros valores que não os mais elevados. Esta posição já valeu a Timor-Leste o reconhecimento internacionalmente e, no que depende do Governo, irá manter-se", de acordo com o comunicado.

Um dos aspetos menos positivos do recente debate, e que se chegou a evidenciar com críticas e gritos de alguns membros do público no final da discussão parlamentar do programa de Governo, têm sido as acusações contra alguns dirigentes de que teriam sido, no passado, a favor da autonomia de Timor-Leste sob soberania indonésia.

Nas últimas semanas têm-se repetido mensagens publicadas nas redes sociais que acusam alguns dos novos membros do Executivo de serem pró-autonomistas, acusação que foi depois dirigida a alguns deputados das bancadas da oposição por apoiantes dos partidos do Governo.

Apesar da tranquilidade, a tensão política não passou despercebida, em especial porque a televisão ainda estava em direto quando, no final do debate, alguns deputados das bancadas do Governo, e seus apoiantes no público, dirigiram insultos aos deputados da oposição.

Ainda que não se tenham registado incidentes físicos e as autoridades tenham garantido que a situação está tranquila no país, como reiterou na sexta-feira o comandante das forças de Defesa, Lere Anan Timur, foi evidente desde quinta-feira à noite uma menor movimentação em Díli.

As autoridades reportaram uma maior movimentação do que o normal para os distritos.

 

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